sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 8 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

Will sentiu a mão de Horace no ombro quando o garoto maior começou a puxá-lo para trás, para longe dos dois bandidos.
— Se afaste, Will — Horace disse baixinho. O ho-mem com o bastão riu.
— Sim, Will, se afaste. Fique longe daquele peque-no arco desagradável que estou vendo ali. Nós não que-remos saber de arcos, queremos, Carney?
— Não queremos, Bart, não mesmo — Carney respondeu e sorriu para o companheiro.
Ele olhou com cara feia para os dois garotos.
— Não mandamos vocês soltarem esses pedaços de pau? — ele perguntou com uma voz aguda e num tom muito desagradável.
Juntos, os dois homens começaram a avançar pela clareira.
Horace apertou Will com mais força e o puxou pa-ra o lado, fazendo-o se estatelar no chão. Quando caiu, ele viu Horace se virar para as pedras atrás dele e agarrar a espada. Ele a agitou uma vez, e o estojo escorregou pela
lâmina. Só a tranquilidade do movimento deveria ter mos-trado a Bart e Carney que estavam enfrentando alguém que sabia muito bem lidar com armas. Mas nenhum deles era especialmente inteligente. Eles simplesmente viam um garoto de 16 anos. Um garoto grande, talvez, mas um ga-roto. Uma criança, na verdade, com uma arma de gente grande na mão.
— Ah, que coisa — Carney gemeu. — Nós pega-mos a espada do papai?
Horace o olhou, ficando muito calmo de repente.
— Eu vou lhe dar mais uma chance de se virar e ir embora agora — ele avisou.
Bart e Carney trocaram olhares zombeteiros de medo.
— Ah, meu Deus — Carney gemeu. — É a nossa única chance. O que vamos fazer?
— Oh, Deus! — Bart repetiu. — Vamos fugir.
Eles começaram a avançar na direção de Horace, que os observou se aproximarem. Estava com o bastão de exercício na mão esquerda e a espada na direita. Ele enri-jeceu o corpo e se equilibrou nos calcanhares enquanto os dois iam chegando mais perto. Carney com a espada en-ferrujada de lâmina entrecortada balançando à sua frente e Bart com o porrete apoiado no ombro, pronto para ser usado.
Will se levantou com esforço e começou a se mo-ver na direção de suas armas. Ao perceber o movimento,
Carney se virou para impedi-lo. Ele não tinha dado nem mesmo o primeiro passo quando Horace atacou.
O garoto disparou para a frente, e a espada passou como um relâmpago num golpe por cima da cabeça do bandido. Espantado com a velocidade do movimento do aprendiz de guerreiro, Carney mal teve tempo de levantar a própria lâmina num ataque desajeitado. Perdendo o e-quilíbrio e totalmente despreparado diante da força e au-toridade surpreendente do golpe, ele tropeçou para trás e caiu estendido na poeira.
No mesmo momento, Bart, ao ver o companheiro em dificuldades, deu um passo à frente e agitou o pesado porrete num perverso movimento circular em direção ao desprotegido lado esquerdo de Horace. Ele imaginava que o garoto fosse saltar para trás para evitar o ataque. Em vez disso, o aprendiz avançou, fazendo o bastão de exercício saltar para cima e para fora, apanhando o pesado porrete no meio e fazendo que se afastasse do alvo pretendido. A cabeça do porrete fez um barulho surdo ao bater no chão pedregoso, e Bart soltou um gemido de surpresa ao sentir seu braço inteiro estremecer com a força do impacto.
Mas Horace ainda não tinha terminado. Continuou a avançar e agora ele e Bart estavam ombro a ombro. O bandido estava perto demais para que Horace pudesse u-sar a lâmina da espada. Em vez disso, girou o punho di-reito e bateu o pesado cabo de bronze da arma no lado da cabeça de Bart.
O olhar do bandido ficou vidrado, e ele caiu de jo-elhos semi-inconsciente, com a cabeça balançando leve-mente de um lado para outro.
Carney, patinando furiosamente para trás na areia, tinha recuperado o equilíbrio e observava os movimentos de Horace. Estava espantado e zangado. Não entendia como ele e o companheiro tinham sido derrubados por um simples garoto. “Sorte”, ele pensou. “Sorte simples e idiota!”
Seus lábios se entreabriram num rosnado, e ele a-garrou a espada com força, avançando mais uma vez na direção do menino, ameaçando-o e amaldiçoando-o. Ho-race se manteve firme e esperou. Algo no olhar calmo do garoto fez Carney hesitar. Ele deveria ter seguido seus primeiros instintos e desistido de lutar naquele momento. Mas a raiva foi mais forte e ele recomeçou a avançar.
Naquele momento, o homem não estava prestando atenção em Will. O aprendiz de arqueiro disparou em volta do acampamento, agarrou o arco e a aljava e apres-sadamente o apoiou contra o pé esquerdo, segurando-o com o direito para prender o arco a fim de amarrar a cor-da no entalhe.
Rapidamente, escolheu uma flecha e a ajustou à corda. Estava prestes a puxá-la quando ouviu uma voz calma atrás dele.
— Não atire nele. Eu prefiro ver isso.
Perplexo, ele se virou e viu Gilan, quase invisível entre as dobras da capa de arqueiro, aparentando indife-rença apoiado no seu longo arco.
— Gilan! — ele exclamou, mas o arqueiro pediu silêncio.
— Deixe o Horace continuar — disse baixinho. — Ele vai ficar bem se nós não o distrairmos.
— Mas... — Will falou desesperado e olhou para o amigo que enfrentava um homem adulto muito zangado.
Percebendo a preocupação, Gilan se apressou em tranquilizá-lo.
— Horace vai dar um jeito nele — afirmou. — Você sabe que ele é mesmo muito bom. Um espadachim nato, se é que já vi um. Esse movimento com o bastão de exercício e o golpe com o punho da espada foram verda-deira poesia. Uma improvisação maravilhosa!
Will balançou a cabeça admirado e se virou para ver a luta. Agora, Carney atacava, investindo com uma fúria cega e um poder aterrorizante. Aos poucos, Horace recu-ava diante dele, agitando a espada em pequenos movi-mentos semicirculares que bloqueavam todos os cortes, investidas e ataques, fazendo o pulso e o cotovelo de Carney estremecerem com a força e a impenetrabilidade de sua defesa. Durante todo o tempo, Gilan sussurrava comentários de aprovação ao lado de Will.
— Bom, garoto! — ele disse. — Você está vendo como ele deixa o outro dar o primeiro passo? Como ele faz o outro acreditar que é muito habilidoso? Ou o con-
trário. Meu Deus, a coordenação daquele movimento de defesa está simplesmente perfeita! Olhe aquilo! E aquilo! Fantástico!
Agora, aparentemente Horace tinha resolvido não recuar mais. Continuou a se desviar de todos os golpes de Carney com evidente facilidade e se manteve firme, dei-xando o bandido gastar suas forças como o mar quando bate nas rochas. Os golpes de Carney ficavam cada vez mais lentos e imperfeitos. O braço dele estava começando a doer por causa do esforço de empunhar a espada longa e pesada. Na verdade, estava mais acostumado a usar a faca nas costas de quase todos os seus oponentes e não espe-rava que aquela luta passasse de um ou dois golpes devas-tadores para derrubar a defesa do garoto antes de matá-lo. Mas seus ataques mais perigosos tinham sido desviados com evidente desprezo.
Ele balançou outra vez e perdeu o equilíbrio. Ho-race fez sua lâmina bater na do oponente, envolvendo-a num movimento circular e prendendo-a, e depois a deixou deslizar até que as duas cruzetas ficassem engatadas.
Eles ficaram parados ali, olho no olho, o peito de Carney subindo e descendo, Horace absolutamente calmo e no controle. A primeira onda de medo se instalou no estômago do bandido quando percebeu que tinha sido ir-remediavelmente vencido naquela luta independentemente do fato de seu oponente ser apenas um menino.
E, nesse momento, Horace começou a atacar.
Ele empurrou o peito de Carney com o ombro, se-parando as lâminas e fazendo o bandido cambalear para trás. Então, com calma, avançou, agitando a espada em combinações desconcertantes e apavorantes. Golpes late-rais e por cima. Lateral, lateral, cortada à esquerda, ataque. Lateral, lateral, cortada à esquerda, cortada por cima. A-taque. Ataque. Ataque. Cortada para a frente, para trás. Uma combinação se transformava suavemente em outra, e Carney lutava desesperadamente para colocar sua lâmina entre seu corpo e a espada implacável que parecia viva e dona de uma energia interminável. Ele sentiu o pulso e o braço cansados. Os golpes de Horace ficavam cada vez mais fortes e firmes até que, finalmente, com um último tinido surdo, Horace simplesmente arrancou a espada da mão entorpecida.
Carney caiu de joelhos com o suor escorrendo para dentro dos olhos, o peito se movimentando com esforço, esperando o golpe final que poria fim a tudo.
— Não mate ele, Horace! — Gilan gritou. — Quero fazer umas perguntas.
Surpreso, Horace viu o alto arqueiro e deu de om-bros. Não era mesmo o tipo que matava um oponente a sangue-frio. Jogou a espada para o lado, colocando-a fora de alcance. Então, com a bota no ombro do bandido der-rotado, empurrou-o para o chão, fazendo-o cair de lado.
Carney ficou deitado, soluçando, incapaz de se mover. Aterrorizado. Exausto. Física e mentalmente der-rotado.
— De onde você veio? — Horace perguntou furi-oso a Gilan. — E por que não me ajudou?
— Pelo que vi, não me pareceu que você precisasse de ajuda — Gilan retrucou, sorrindo e mostrando Bart, atrás de Horace, com um gesto.
O bandido Bart estava se levantando devagar, ba-lançando a cabeça, pois o efeito do golpe do cabo da es-pada começava a passar.
— Acho que seu outro amigo precisa de um pouco de atenção — ele sugeriu.
Horace se virou e levantou a espada casualmente, batendo a lateral da lâmina no crânio de Bart. Ele deu ou-tro leve gemido e caiu de cara no chão.
— Ainda acho que você devia ter dito alguma coi-sa.
— Eu teria feito isso se você estivesse com pro-blemas — Gilan garantiu.
Então ele atravessou a clareira e se aproximou de Carney Levantou o bandido pelo braço, obrigou-o a ficar de pé, arrastou-o pela clareira e o jogou, sem delicadeza, contra uma rocha. Quando Carney começou a cair para a frente, ouviu-se um raspar de aço sobre couro, e a faca de Gilan apareceu em sua garganta, fazendo que o bandido ficasse com o corpo ereto.
— Então esses dois apanharam vocês cochilando? — Gilan perguntou para Will.
Os garotos concordaram envergonhados.
— Desde quando você está aqui? — Will pergun-tou depois que assimilou a importância do comentário.
— Desde que eles chegaram — Gilan contou. — Eu não tinha ido muito longe quando vi os dois se es-gueirando entre as rochas. Assim deixei Blaze e voltei para cá atrás deles. Era óbvio que não tinham boas intenções.
— Por que não disse nada? — Will perguntou in-crédulo. Por um momento, o olhar de Gilan se endureceu. — Porque vocês precisavam de uma lição. Estão num ter-ritório perigoso, parece que a população desapareceu mis-teriosamente, e vocês ficam aí fazendo exercícios com a espada para que todo mundo veja e escute.
— Mas... — Will balbuciou. — Achei que devía-mos praticar.
— Não quando não há mais ninguém para ficar de olho no que está acontecendo — Gilan ressaltou com sensatez. — Quando se começa a treinar desse jeito, fi-ca-se totalmente concentrado nisso. Esses dois fizeram barulho suficiente para chamar a atenção de uma vovó surda. Puxão até avisou você duas vezes e você não per-cebeu.
— É mesmo? — Will respondeu muito desconcer-tado.
Gilan olhou Will nos olhos até ter certeza de que a lição tinha sido aprendida. Então mostrou com um gesto que o assunto estava encerrado. Certo de que aquilo não iria acontecer outra vez, Will também balançou a cabeça.
— Agora — Gilan disse — vamos descobrir o que essas duas belezinhas sabem sobre o preço do carvão.
Ele se virou para Carney, que estava vesgo tentan-do enxergar a faca que espetava seu pescoço.
— Há quanto tempo vocês estão em Céltica? — Gilan perguntou.
Carney olhou para ele e outra vez para a faca pesa-da.
— Da... de... dez ou onze dias, meu senhor — ele gaguejou.
— Não me chame de “meu senhor” — Gilan re-trucou com um ar impaciente virando-se então para os dois garotos. — Essa gente sempre tenta agradar quando percebe que está em dificuldades — ele olhou para Carney — O que estão fazendo aqui?
Carney hesitou e evitou o olhar direto de Gilan, de modo que o arqueiro soube que ele ia mentir mesmo antes que o bandido falasse.
— Só... queria conhecer a região, meu... — ele pa-rou, pois se lembrou no último instante da instrução de não falar “meu senhor”.
Gilan suspirou exasperado.
— Olhe, eu gostaria de cortar sua cabeça aqui e a-gora. Duvido mesmo que tenha alguma coisa útil para me contar. Mas vou lhe dar uma última chance. Agora, DIGA A VERDADE!
Ele gritou as últimas palavras zangado e com o rosto a apenas alguns centímetros do de Carney. A repen-
tina mudança nos modos suaves e divertidos que vinha usando assustou o bandido. Apenas por alguns segundos, Gilan deixou que seu escudo de bondade escorregasse e que Carney enxergasse a raiva intensa imediatamente de-baixo da superfície. No mesmo instante, ele sentiu medo. Como a maioria das pessoas, ficava nervoso perto de um arqueiro. Não era nada bom deixar um arqueiro zangado. E esse parecia muito, muito zangado.
— Ouvimos dizer que havia coisa boa por aqui! — ele respondeu imediatamente.
— Coisa boa? — Gilan repetiu, e Carney assentiu com um gesto de cabeça obediente, soltando totalmente a língua.
— Todas as vilas e cidades desertas. Ninguém para vigiar nada, e todos os bens jogados pelos cantos para pe-garmos à vontade. Mas não prejudicamos ninguém — ele concluiu na defensiva.
— Ah, não, não prejudicam. Vocês só entraram quando as pessoas não estavam e roubaram tudo o que elas possuíam de valor — Gilan completou. — Acho que ficaram até agradecidas pela sua contribuição.
— Foi ideia de Bart, não minha — Carney tentou justificar, e Gilan balançou a cabeça com tristeza.
— Gilan? — Will chamou, e o arqueiro se virou para olhar para ele. — Como eles ficaram sabendo que as cidades estavam desertas? Nós não ouvimos nada.
— É a rede de informações dos ladrões — Gilan informou para os garotos. — É desse jeito que os urubus
se reúnem sempre que um animal esta morrendo. A rede de inteligência entre ladrões, bandidos e salteadores é in-crivelmente grande. Assim que um lugar enfrenta dificul-dades, a notícia se espalha como um rastilho de pólvora e eles surgem de todos os lados. Tenho a impressão de que há muitos mais nestas colinas.
Ele se virou para Carney, apertando a faca com mais força na carne de seu pescoço, só cuidando para não tirar sangue.
— Não é mesmo? — ele indagou. Carney ia assen-tir com a cabeça, mas percebeu o que aconteceria se me-xesse o pescoço e engoliu em seco.
— Sim, senhor — ele sussurrou.
— E devo imaginar que você tem uma caverna em algum lugar, ou algum túnel de mina deserta, onde escon-deu o que roubou até agora?
Gilan aliviou a pressão da faca e desta vez Carney pôde responder com um gesto da cabeça. Os dedos do bandido foram até a bolsa que carregava no cinto, mas pararam quando percebeu o que estava fazendo. Entre-tanto, Gilan tinha visto o movimento e, com a mão livre, abriu a bolsa com irritação e remexeu em seu interior até que finalmente tirou uma folha de papel suja dobrada em quatro. Ele a passou para Will.
— Dê uma olhada — ele pediu, e Will desdobrou o papel revelando um mapa mal desenhado que mostrava pontos de referência, instruções e distâncias.
— Pelo que parece, eles enterraram o produto do roubo — o garoto disse, e Gilan assentiu com um leve sorriso.
— Ótimo. Então, sem o mapa, não vão poder en-contrar ele de novo — retrucou, e Carney arregalou os olhos em sinal de protesto.
— Mas esse é o nosso... — ele começou e parou quando viu o brilho perigoso no olhar de Gilan.
— Foi roubado — o arqueiro afirmou em voz muito baixa. — Vocês se esgueiraram como chacais e roubaram de pessoas que estão em grandes dificuldades, isso é evidente. Não é de vocês. É delas. Ou de suas famí-lias, se ainda estiverem vivas.
— Elas ainda estão vivas — disse uma nova voz atrás deles. — Elas fugiram de Morgarath... As que ele a-inda não capturou.

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