sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 4 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

— Então me contem sobre esse Neil — Will pediu quando os três se ajeitaram confortavelmente em volta do fogo, com canecas fumegantes de chá de ervas aquecendo suas mãos.
— MacNeil — Horace corrigiu. — Ele é uma len-da.
— Ah, ele é muito real — Gilan disse. — Acho que posso dizer isso. Treinei com ele durante cinco anos. Co-mecei quando tinha 11 e com 14, fui ser aprendiz de Halt. Mas ele sempre me dava uma licença para continuar meu trabalho com o mestre espadachim.
— Mas por que você continuou a aprender a lutar com a espada depois de começar o treinamento como ar-queiro? — Horace quis saber.
— Talvez as pessoas pensassem que era uma ver-gonha desperdiçar todo aquele treinamento — Gilan res-pondeu dando de ombros. — Eu queria muito continuar, e meu pai é sir David, do Feudo de Caraway, então acho que me deram alguma liberdade nesse sentido.
Horace endireitou o corpo ao ouvir esse nome ser mencionado.
— O chefe de guerra David? — ele perguntou, ob-viamente mais do que impressionado. — O novo coman-dante supremo?
Gilan assentiu sorrindo diante do entusiasmo do garoto.
— Ele mesmo.
Então, vendo que Will estava em silêncio, continu-ou a explicação.
— Meu pai foi nomeado comandante supremo dos exércitos do rei depois da morte de lorde Northolt. Ele comandou a cavalaria na Batalha de Hackman Heath.
— Quando Morgarath foi derrotado e obrigado a ir para as montanhas? — Will indagou de olhos arregalados.
Gilan e Horace assentiram com um gesto de cabe-ça. Horace continuou a explicação com entusiasmo.
— Sir Rodney diz que a forma como ele coordenou a cavalaria com o auxílio dos arqueiros nas laterais, no es-tágio final da batalha, é um verdadeiro clássico. Ele ainda usa isso como exemplo de tática perfeita. Não é de sur-preender que o seu pai tenha sido escolhido para substitu-ir lorde Northolt.
Will percebeu que a conversa tinha se afastado do tema principal.
— Então, o que seu pai teve a ver com esse Mac-Neil? — perguntou voltando ao assunto.
— Bom — Gilan recomeçou —, o meu pai tam-bém foi aluno dele. Por isso, foi natural que MacNeil aca-basse dando aulas em sua Escola de guerra, não é mesmo?
— Acho que sim — Will concordou.
— E era mais do que natural que eu me tornasse seu aluno assim que consegui levantar uma espada. Afinal, eu era o filho do mestre de Guerra.
— Então como você se tornou arqueiro? — Hora-ce perguntou. — Você não foi aceito como cavaleiro?
Os dois arqueiros olharam para ele curiosos, de certa forma achando engraçado o fato de ele supor que uma pessoa apenas se tornava arqueiro por não conseguir ser cavaleiro ou guerreiro. Na verdade, não fazia muito que Will tinha se sentido do mesmo jeito, mas agora ele ignorara o fato convenientemente. Horace percebeu a pausa na conversa e então notou os olhares que recebia dos colegas. De repente, ele se deu conta da gafe que tinha cometido e tentou reparar o erro.
— Quer dizer... vocês sabem. Bom, quase todos nós queremos ser guerreiros, não é?
Will e Gilan trocaram olhares. Gilan levantou uma sobrancelha, e Horace continuou a tentar se explicar de maneira bem atrapalhada.
— Quer dizer... não quero ofender ninguém... mas todo mundo que conheço quer ser guerreiro.
Seu constrangimento diminuiu quando ele apontou um dedo para Will.
— Você mesmo, Will! Lembro que quando éramos crianças você sempre dizia que iria para a Escola de Guerra e que seria um cavaleiro famoso!
Agora foi a vez de Will se sentir pouco à vontade.
— E você sempre zombou de mim, não é? E dizia que eu era pequeno demais.
— Bom, você era! — Horace retrucou um tanto exaltado.
— É mesmo? — Will perguntou zangado. — Pois bem, já lhe ocorreu que talvez Halt já tivesse falado com sir Rodney e dito que me queria como aprendiz? E que essa é a razão por que não fui escolhido para a Escola de Guerra? Você já pensou nisso?
Gilan interveio nesse momento, interrompendo a discussão com delicadeza antes que saísse de controle.
— Acho que já chega de briguinhas infantis — ele disse com firmeza.
Os dois garotos, prontos para soltar mais uma alfi-netada, cederam um tanto sem jeito.
— Ah... está certo — Will resmungou. — Sinto muito.
Envergonhado pela cena desagradável que tinha acabado de ocorrer, Horace balançou a cabeça várias ve-zes.
— Eu também.
Então, curioso, acrescentou:
— Foi assim que aconteceu, Will? Halt pediu a sir Rodney para não escolher você porque queria que você fosse arqueiro?
Will olhou para baixo e tirou um fio solto da cami-sa.
— Bem... não exatamente — ele admitiu. — E vo-cê está certo. Eu sempre quis ser um cavaleiro quando criança. Mas não mudaria agora, por nada no mundo! — acrescentou depressa virando-se para Gilan.
— Comigo aconteceu o contrário — Gilan disse sorrindo para os garotos. — Lembrem-se, eu cresci na Escola de Guerra. Posso ter começado a treinar com MacNeil aos 11 anos, mas comecei o treinamento básico com cerca de 9 anos.
— Deve ter sito ótimo! — Horace disse com um suspiro. Surpreendentemente, Gilan balançou a cabeça negativamente.
— Não para mim. Vocês já ouviram falar que a grama do vizinho é sempre mais verde?
Os dois garotos ficaram espantados ao ouvir essa expressão.
— Quer dizer que você sempre quer o que não tem — Gilan continuou, e os dois assentiram mostrando que compreendiam. — Bem, foi assim que aconteceu. Quando fiz 12 anos, estava cansado da disciplina, dos exercícios e dos desfiles.
Ele olhou de lado para Horace.
— Isso acontece muito na Escola de Guerra, você sabe muito bem.
— Como se eu não soubesse — o garoto corpu-lento concordou suspirando. — Ainda assim, a equitação e os treinos de combate são divertidos.
— Talvez — Gilan afirmou. — Mas eu estava mais interessado na vida que os arqueiros levavam. Depois de Hackman Heath, meu pai e Halt ficaram bons amigos, e Halt costumava nos visitar. Eu sempre o via. Muito miste-rioso. Super aventureiro. Comecei a pensar em como seria ir e vir à vontade. Viver nas florestas. As pessoas sabem muito pouco sobre os arqueiros e, para mim, a vida deles parecia a coisa mais emocionante do mundo.
— Sempre tive um pouco de medo de Halt — Ho-race confessou. — Eu achava que ele era algum tipo de feiticeiro.
— Halt? Um feiticeiro? — Will riu sem acreditar. — Ele não é nada disso!
— Mas você achava a mesma coisa — Horace pro-testou magoado outra vez.
— Bom... acho que sim, mas eu era só uma criança naquela época.
— Eu também! — Horace retrucou com uma lógi-ca devastadora. Gilan sorriu para os dois. Eram só garo-tos. Halt estava com a razão. Era bom para Will passar algum tempo com alguém da própria idade.
— Então você pediu a Halt que aceitasse você co-mo aprendiz? — Will perguntou para o arqueiro mais ve-lho. — O que ele respondeu?
— Não pedi nada para ele — Gilan contou. — Eu o segui um dia quando saiu do nosso castelo e entrou na floresta.
— Você o seguiu? Um arqueiro? Você seguiu um arqueiro na floresta? — Horace indagou.
Ele não sabia se deveria ficar impressionado com a coragem de Gilan ou horrorizado com a imprudência. Will se apressou a defender Gilan.
— Gil é um dos melhores membros do Corpo de Arqueiros e sabe seguir alguém sem ser visto — ele disse depressa. — Acho que é o melhor nisso.
— Naquela época, eu não era — Gilan disse cha-teado. — Veja só, eu achava que sabia alguma coisa sobre me mover sem ser visto. Descobri como sabia pouco quando tentei seguir Halt. Ele parou para comer ao mei-o-dia, e a primeira coisa que vi foi sua mão me agarrando pelo colarinho e me jogando no rio.
Ele sorriu com a lembrança.
— E então ele mandou você para casa? Você ficou envergonhado? — Horace perguntou, mas Gilan negou com um movimento de cabeça e um leve sorriso ainda dançando no rosto ao se lembrar daquele dia.
— Ao contrário, ele ficou comigo durante uma se-mana. Disse que eu não tinha me saído tão mal ao me es-gueirar pela floresta e que talvez tivesse algum talento para
andar por aí sem ser visto. Começou a me ensinar o que era ser um arqueiro. E, no fim daquela semana, eu tinha me tornado seu aprendiz.
— Como seu pai reagiu quando você contou para ele? — Will indagou. — Provavelmente queria que você também fosse um cavaleiro, não é mesmo? Acho que fi-cou desapontado...
— De jeito nenhum — Gilan respondeu. — Foi estranho, mas Halt tinha dito para ele que provavelmente eu o seguiria pela floresta. O meu pai já tinha concordado que eu poderia servir como aprendiz de Halt antes mesmo de eu saber que queria.
— Como Halt poderia ter sabido disso? — Horace perguntou franzindo a testa.
Gilan deu de ombros e lançou um olhar significa-tivo para Will.
— Halt tem um jeito especial de saber das coisas, não é, Will? — ele perguntou rindo.
Will se lembrou da noite escura no escritório do barão e da mão que tinha disparado de dentro da escuri-dão para agarrar seu pulso. Halt estava esperando ele na-quela noite. Do mesmo jeito que obviamente esperara que Gilan o seguisse.
Ele olhou para as brasas da fogueira antes de res-ponder:
— Talvez, do jeito dele, ele seja algum tipo de fei-ticeiro.
Por alguns minutos, os três companheiros ficaram sentados num silêncio confortável, pensando no que ti-nham conversado. Então Gilan se espreguiçou e bocejou.
— Bom, eu vou dormir — avisou. — Precisamos nos manter alertas no momento, por isso vamos fazer turnos. Will, você é o primeiro, depois Horace e por últi-mo eu. Boa noite para vocês.
E, assim, ele se enrolou na capa cinza-esverdeada e logo estava respirando profunda e regularmente.

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