sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 31 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

Morgarath estava fazendo que o cavalo descrevesse um grande círculo para ganhar espaço. Horace sabia que ele logo voltaria e o atacaria usando o impulso do movimento e a força da espada para tentar derrubá-lo da sela.
Guiando o animal com os joelhos, ele se virou para a direção oposta, sacudiu o escudo com um movimento forte para que saísse das costas e deslizou o braço es-querdo pelas tiras. Ele olhou por cima do ombro e viu Morgarath a 80 metros de distância impelindo o cavalo a toda velocidade. Horace bateu os calcanhares nas costelas de seu cavalo e correu para enfrentar a figura vestida de preto.
O barulho provocado pelos cascos dos dois cavalos se confundiu quando os cavaleiros trovejaram na direção um do outro. Sabendo que seu oponente tinha a vantagem da distância, Horace decidiu deixar que ele desferisse o primeiro golpe para depois tentar contra-atacar. Eles já estavam bem perto um do outro quando, de repente, Morgarath se levantou nos estribos e, de toda a sua altura,
desferiu um golpe acima do ombro do garoto. Horace, que esperava o movimento, levantou o escudo.
A força do golpe de Morgarath foi arrasadora. A espada tinha o comprimento do dono, a força de seu bra-ço e o impulso do cavalo a galope. Coordenando perfei-tamente os movimentos, ele tinha canalizado todas essas forças e as tinha concentrado na espada quando a abaixou sobre Horace. Nunca em sua vida o garoto tinha sentido uma força tão destrutiva. Os que assistiam ao duelo se encolheram quando a espada bateu no escudo e provocou um ruído metálico. Eles viram Horace oscilar sob o golpe violento e quase ser derrubado da sela.
A ideia de desferir um contra-ataque tinha desapa-recido. Tudo o que podia fazer era se ajeitar na sela outra vez enquanto seu cavalo disparava, para longe, dançando para o lado enquanto a montaria de Morgarath, treinada para batalhas, atacava com os cascos traseiros.
O braço esquerdo de Horace, que segurava o es-cudo, estava completamente adormecido pela terrível for-ça do golpe. Ele o sacudiu repetidas vezes enquanto ca-valgava para longe, movendo o braço em pequenos círcu-los para tentar recuperar a sensibilidade. Nesse momento, sentiu uma dor fraca que pareceu se estender por todo o membro. Agora sabia o que era o verdadeiro medo. Ele não conhecia nenhuma forma de conter a força esmaga-dora dos golpes de espada de Morgarath. Percebeu que todo o seu treinamento, toda a sua prática, não eram nada comparados aos anos e anos de experiência do oponente.
Horace se virou para encarar Morgarath e deu im-pulso ao cavalo outra vez. Na primeira passagem, eles ti-nham se encontrado escudo a escudo. Desta vez, ele viu que o adversário estava se preparando para passar do seu lado direito, lado em que segurava a espada, e compreen-deu que o próximo choque não iria recair em seu escudo. Ele teria que se defender com a espada. Sua boca estava seca quando galopou para a frente, tentando desespera-damente se lembrar do que Gilan lhe tinha ensinado.
Mas Gilan nunca o tinha preparado para enfrentar uma força tão descomunal. Ele sabia que não podia se ar-riscar a segurar a espada levemente e aumentar a pressão no momento do impacto. Os nós de seus dedos ficaram brancos sobre o punho da arma. De repente, Morgarath estava em cima dele, e a imensa espada de folha larga se agitou num arco cintilante sobre sua cabeça. Bem a tem-po, Horace levantou a espada para se defender.
O choque violento e o grito agudo do aço batendo no aço fez os nervos dos espectadores estremecer. No-vamente, Horace oscilou na sela por causa da força do golpe. Seu braço direito estava dormente da ponta dos dedos até o cotovelo. Ele sabia que teria que interromper esse ciclo de golpes violentos, mas não sabia como.
O garoto ouviu cascos de cavalo atrás dele e, ao se virar, se deu conta de que Morgarath não tinha se afastado para ganhar terreno para outro ataque. Em vez disso, ti-nha virado o cavalo quase imediatamente, sacrificando a
força extra ganha no impulso em troca de um ataque rá-pido. A espada de folha larga se agitou novamente.
Horace fez o cavalo se erguer nas patas traseiras, fazendo-o girar no lugar em que estava, e recebeu a espa-da de Morgarath no escudo outra vez. Desta vez, a força do golpe foi um pouco menos arrasadora, mas não muito. Horace desferiu dois golpes no senhor negro, de frente e à esquerda. Era mais fácil brandir sua espada menor e mais leve do que a poderosa espada de folha larga, mas seu braço direito ainda estava entorpecido pela defesa e seus golpes eram muito fracos. Morgarath os desviava com fa-cilidade, quase com desdém, e voltou a atacar Horace, a-gora por cima do ombro, de pé nos estribos para dar um impulso adicional.
O escudo de Horace recebeu a força do golpe da espada novamente. O pedaço circular de aço quase foi dobrado em dois pelos golpes pesados que recebeu. Mais alguns iguais a esses e ele ficaria praticamente inutilizado. Lutando para continuar montado, o garoto conduziu o cavalo para longe de Morgarath.
Sua respiração estava ofegante, e o suor cobria seu rosto. Ele sabia que era o suor do medo e do esforço. Horace sacudiu a cabeça desesperado para aclarar a vista. Morgarath novamente estava cavalgando em sua direção. O menino alterou seu rumo no último instante, puxando a cabeça de sua montaria para a esquerda, fazendo-a atra-vessar o caminho do cavalo de Morgarath, tentando esca-par à enorme espada. Morgarath viu o movimento e mu-
dou para uma cortada à esquerda, atingindo a borda do escudo do rapaz.
A espada de folha larga fez um corte profundo no aço do escudo e ficou presa ali. Aproveitando o momento, Horace se levantou nos estribos e deu uma cortada por cima do ombro em Morgarath. O escudo preto subiu a-penas uma fração de segundo tarde demais, e o golpe de Horace atingiu levemente o capacete preto em forma de bico de pássaro. O choque fez vibrar todo o seu braço, mas a sensação foi boa. Ele desferiu outro golpe enquanto Morgarath se torcia e levantava para remover a espada.
Desta vez, Morgarath levou um golpe no escudo e, pela primeira vez, Horace conseguiu conferir bastante força à pancada, e o Senhor da Chuva e da Noite grunhiu quando foi sacudido em sua sela. Seu escudo não caiu por pouco.
Então, Horace usou a parte mais curta da espada para dar uma estocada no espaço que se abriu entre o es-cudo e o corpo e levou a ponta até as costelas de Morga-rath. Por um momento, os espectadores viram uma breve chama de esperança. Mas a armadura negra suportou a investida, que tinha sido dada de uma posição inadequada e sem força. Mesmo assim, ela machucou Morgarath, fra-turando uma costela atrás da armadura de malha, fazen-do-o praguejar de dor e torcer o corpo quando sua espada foi atingida mais uma vez.
E, então, o desastre!
Enfraquecido pelos fortes golpes dados por Mor-garath, o escudo de Horace simplesmente cedeu. A imen-sa espada desceu, finalmente livre, e rasgou as tiras de couro que o prendiam ao braço do garoto. O escudo a-massado e disforme se soltou e voou pelo ar. Horace va-cilou na sela outra vez, tentando desesperadamente man-ter o equilíbrio. Perto demais para usar toda a força de sua lâmina, Morgarath bateu o punho duplo da espada na la-teral do capacete do menino, e os espectadores gemeram desanimados quando Horace caiu da sela.
Seu pé ficou preso no estribo, e ele foi arrastado por cerca de 20 metros atrás do apavorado cavalo que ga-lopava velozmente. Curiosamente, esse fato provavel-mente salvou sua vida, pois ele foi levado para fora do al-cance da espada assassina. Quando finalmente o garoto conseguiu se libertar, rolou na poeira, ainda segurando a espada na mão direita.
Cambaleando, levantou-se com os olhos cheios de suor e poeira.
Vagamente, viu Morgarath disparando em sua di-reção. Segurando a espada com as duas mãos, ele bloque-ou o golpe da enorme arma do inimigo, mas foi jogado de joelhos no chão, tamanha foi sua força. O golpe do casco do cavalo o atingiu nas costelas, e ele tornou a cair no chão enquanto Morgarath se afastava a galope.
O silêncio tinha caído sobre os espectadores. Os Wargals não se importavam com o espetáculo, mas o e-
xército do reino assistia à competição desigual num terror silencioso. Todos sabiam que o fim era inevitável.
Lentamente, dolorosamente, Horace se levantou mais uma vez. Morgarath virou o cavalo e se preparou para outro ataque. Horace observou-o se aproximar sa-bendo que aquela competição só podia ter um resultado. Uma ideia desesperada estava se formando em sua mente enquanto o cavalo de batalha desbotado trovejava em sua direção, dirigindo-se para a sua direita, deixando espaço para Morgarath atacá-lo com a espada. O rapaz não sabia se sua armadura poderia protegê-lo caso colocasse em prática o que tinha em mente. Ele poderia morrer. Então, sombriamente, riu para si mesmo. Ele ia ser morto de qualquer forma.
Preparado, Horace esperou tenso. O cavalo já es-tava quase em cima dele, desviando-se para a direita para dar espaço de ataque a Morgarath. Nos últimos metros, Horace virou para a direita e deliberadamente se atirou debaixo dos cascos dianteiros do cavalo.
Um forte grito sem palavras surgiu dos espectado-res quando, por um momento, a cena foi obscurecida por uma nuvem de poeira. Horace sentiu um casco atingi-lo nas costas, entre as omoplatas, e então viu um breve cla-rão vermelho quando outro bateu em seu capacete, arre-bentando a tira e arrancando-o da cabeça. Depois ele foi atingido mais outras incontáveis vezes, e o mundo se transformou numa confusão de dor, poeira e, principal-mente, barulho.
Despreparado para essa ação suicida, o cavalo ten-tou desesperadamente evitá-la. Suas patas dianteiras se cruzaram. O animal tropeçou e caiu na poeira, depois deu um salto mortal que formou um emaranhado de patas e corpo. Morgarath, que conseguiu tirar os pés dos estribos no momento certo, foi jogado por cima do pescoço do animal e caiu no chão com violência, deixando a espada de folha larga escapar de sua mão.
Gritando com fúria e medo, o cavalo branco lutou para se levantar. Ele chutou a figura que o tinha feito cair e se afastou trotando. Horace grunhiu de dor e tentou se levantar. Ele ficou de joelhos e, vagamente, ouviu os vivas do exército.
Então os vivas morreram aos poucos quando a fi-gura imóvel vestida de preto, caída a alguns metros de distância, também começou a se mexer.
Morgarath estava sem fôlego, nada mais. Ele respi-rou bem fundo, levantou-se, olhou para os lados. Viu a espada de folha larga meio enterrada na poeira e foi pe-gá-la. O coração de Horace se apertou no peito quando a figura alta, agora emoldurada pelo sol baixo da tarde, co-meçou a avançar sobre ele com um passo largo de cada vez. Desesperado, o rapaz pegou a espada e se levantou com dificuldade. Morgarath tinha se livrado do escudo triangular preto. Segurando a espada com as duas mãos, avançou. Horace, sentindo dor em todo o corpo, ficou firme para esperá-lo.
Novamente se ouviu o choque irritante de aço con-tra aço. Morgarath desferiu um golpe após outro na espa-da de Horace. Apavorado, o aprendiz de guerreiro se des-viava e os bloqueava. Mas, a cada pancada violenta, seus braços perdiam a força. Ele começou a recuar, e Morga-rath avançava, derrubando as defesas do garoto com um golpe violento atrás do outro.
E então, quando Horace deixou a ponta da espada baixar, incapaz de encontrar forças para mantê-la erguida, a enorme arma de folha larga de Morgarath desceu asso-biando mais uma vez e atingiu a espada menor, partindo a lâmina em dois.
Ele recuou um passo com um sorriso cruel no ros-to, enquanto Horace olhava atordoado para a lâmina que-brada na mão direita.
— Acho que estamos quase no fim — Morgarath disse em um tom de voz suave e inexpressivo.
Horace ainda olhava para a espada inútil. Quase inconscientemente, a mão esquerda procurou a adaga e a desembainhou. Morgarath viu o movimento e riu.
— Não acho que isso vá lhe fazer muito bem — ele zombou. Então, deliberadamente, levantou e ajeitou a grande espada para o último golpe, que iria cortar Horace na cintura.
Foi Gilan quem percebeu o que ia acontecer um segundo antes do golpe.
— Oh, meu Deus, ele vai... — ele disse devagar e sentiu uma ridícula ponta de esperança.
Cortando o ar, a espada de folha larga começou a descrever um arco descendente. E Horace, jogando tudo num último esforço, deu um passo à frente, cruzando as duas lâminas que segurava, a adaga apoiando a espada quebrada.
As duas lâminas receberam o impacto do golpe poderoso de Morgarath. Mas o rapaz tinha se aproximado do homem mais alto, o que reduziu a potência da longa lâmina e a força do golpe. A espada de Morgarath bateu com um som metálico no X formado pelas duas lâminas.
Os joelhos de Horace se dobraram, mas ele ficou firme e, por um momento, os dois oponentes ficaram peito a peito. Horace viu a fúria perplexa na expressão do louco enquanto se perguntava como tinham chegado à-quela situação. Então a fúria se transformou em surpresa, pois Morgarath sentiu uma agonia profunda e ardente a-travessar seu corpo quando Horace fez a adaga escorregar e, com toda a força que lhe restava, atravessar a malha de ferro de Morgarath, penetrando seu coração.
Lentamente, o Senhor da Chuva e da Noite desa-bou no chão. Um silêncio assustado tomou conta dos es-pectadores por vários segundos. E logo os vivas começa-ram.

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