sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 30 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

Will e Evanlyn nunca souberam o que provocou a onda de incerteza nos Wargals. Na verdade, tudo aconteceu no momento em que Morgarath percebeu que tinha sido en-ganado. A repentina agitação de medo que passou por sua mente foi transmitida instantaneamente para todos os seus escravos mentais.
Os dois prisioneiros e os quatro escandinavos no-taram a inquietação e hesitação nos 20 e tantos Wargals que tinham ficado para vigiá-los. Percebendo uma opor-tunidade, Erak rapidamente olhou para seus homens. Até aquele momento, eles não tinham sido desarmados. A di-ferença de 4 contra 20 era muito grande, mesmo para os escandinavos, e os Wargals só tinham recebido ordens de detê-los, não de desarmá-los.
— Alguma coisa está acontecendo — o líder dos escandinavos murmurou. — Fiquem preparados. Todos vocês.
Disfarçadamente, o pequeno grupo se certificou de que suas armas estavam livres e prontas para a ação. En-tão o momento de incerteza se transformou num medo
real e palpável entre os Wargals. Morgarath tinha acabado de sinalizar uma retirada geral, e os que estavam na reta-guarda não se sentiram diferentes das tropas da linha de frente, para quem a ordem era destinada. Mais da metade dos Wargals que os vigiavam simplesmente correu. Um sargento, contudo, reteve um vestígio de raciocínio inde-pendente e grunhiu um aviso para suas divisões, oito no total. Enquanto seus companheiros lutavam e brigavam para abrir caminho na apertada entrada para o Desfiladei-ro dos Três Passos, as oito tropas vestidas de preto man-tiveram sua posição.
Mas eles estavam distraídos e nervosos, e Erak de-cidiu que a oportunidade não ficaria melhor do que estava naquele momento.
— Agora, rapazes! — ele gritou e atirou seu ma-chado de duas lâminas na direção do sargento.
O Wargal tentou levantar a lança de ferro para se defender, mas foi lento demais. A pesada arma atravessou sua armadura e ele caiu.
Enquanto Erak procurava outro oponente, seus homens caíam sobre o resto da tropa de Wargals. Eles escolheram o momento em que outro comando mental foi enviado por Morgarath, para que seus homens recuas-sem e entrassem numa posição defensiva. As ordens con-fusas em suas mentes os tornaram alvos fáceis para os es-candinavos, os Wargals caíram um depois do outro. Os demais que ali estavam, preocupados em escapar para o
Desfiladeiro dos Três Passos, não deram atenção ao con-flito breve e sangrento.
Erak olhou ao redor com alguma satisfação e lim-pou a lâmina do machado num pano que tinha tirado de um dos Wargals mortos.
— Assim está melhor — ele disse animado. — Fa-zia tempo que eu queria fazer isso.
Mas os Wargals não tinham deixado de causar da-nos. Nordel cambaleou e caiu lentamente no chão, apoia-do num joelho. Sangue vivo manchava o canto de sua boca, e ele, sem saber o que fazer, olhou para o líder. Erak se aproximou dele e se ajoelhou ao seu lado.
— Nordel! — ele gritou. — Onde você foi ferido?
Mas Nordel mal podia falar. Ele estava segurando o lado direito do corpo, onde o colete de pele de carneiro já estava bastante manchado de sangue. A espada pesada que ele preferia usar como arma tinha caído de sua mão. Com os olhos arregalados de medo, tentou pegá-la, mas estava longe demais. Rapidamente, Horak apanhou a arma e a colocou na mão dele. Nordel agradeceu com um gesto e lentamente se deixou cair sentado. O medo tinha deixado seu olhar. Will sabia que os escandinavos acreditavam que um homem tinha que morrer com a arma na mão para que sua alma não vagasse atormentada por toda a eterni-dade. Agora que segurava a espada com firmeza, Nordel não tinha medo de morrer. Fraco, ele fez um gesto para que se afastassem.
— Vão! — ele disse, quando finalmente conseguiu falar. — Estou... acabado... Vão para os navios.
— Ele tem razão — Erak concordou depressa e se levantou. — Não tem nada que a gente possa fazer.
Os outros concordaram. Então, Erak primeiro a-garrou Will, depois Evanlyn e os empurrou para a frente.
— Vamos, vocês dois — ele disse com grosseria. — A menos que queiram ficar aqui até Morgarath voltar.
E, movendo-se juntos num sólido e pequeno gru-po, os cinco abriram caminho pela multidão confusa de Wargals que tentavam avançar em direções opostas.
Morgarath foi atingido pelo impacto da pesada luva de couro em sua face. Furioso, ele se virou para encarar o desafiante que tinha arruinado seu plano. Então deixou o leve sorriso se espalhar novamente pelo rosto.
Ele se deu conta de que o desafiante não era mais do que um garoto. Grande e musculoso, certamente, mas o rosto jovem debaixo do simples capacete cônico não podia ter mais que 16 anos.
Antes que os membros perplexos do conselho pu-dessem reagir, ele respondeu rapidamente.
— Aceito o desafio!
Ele falou um segundo antes do grito furioso de Duncan.
— Não! Eu proíbo!
Percebendo que era tarde demais, apelou para Morgarath.
— Por Deus, Morgarath, como você pode ver, ele é apenas um garoto. Um aprendiz. Você não pode aceitar esse desafio!
— Ao contrário — Morgarath replicou. — Como acabei de ressaltar, tenho esse direito. E, como você sabe, uma vez feito e aceito o desafio, não se pode voltar atrás.
Ele estava certo. As normas rígidas dos embates entre cavaleiros, que todos tinham jurado seguir solene-mente, ordenavam exatamente isso. Morgarath sorria a-gora para o garoto ao seu lado. Acabaria com ele depressa. E a morte rápida do menino serviria para deixar Halt ain-da mais enfurecido.
Enquanto isso, Halt observava o Senhor da Chuva e da Noite com os olhos semicerrados.
— Morgarath, você é um homem morto — ele murmurou. Halt sentiu uma mão firme no braço e encon-trou o olhar sombrio de sir David quando se virou. O mestre de guerra tinha desembainhado a espada e a levava apoiada no ombro direito.
— O garoto vai ter que se arriscar, Halt — ele dis-se.
— Arriscar? Risco é tudo o que ele tem! — Halt replicou.
— Seja o que Deus quiser — sir David respondeu com tristeza. — Você não pode interferir nesse combate.
Vou impedir você mesmo que só pense em tentar. Não me obrigue a isso. Somos amigos há muito tempo.
Ele observou o olhar zangado de Halt por alguns segundos e então, aborrecido, o arqueiro concordou. Ele sabia que o cavaleiro não estava brincando. O código de honra dos cavaleiros significava tudo para sir David.
Essa cena não passou despercebida para Morgarath. Ele tinha certeza de que, no momento em que o garoto caísse, Halt aceitaria o desafio original com ou sem a per-missão do rei. E então, finalmente, ele conheceria a satis-fação de matar seu antigo e odiado inimigo antes que o seu mundo desabasse ao seu redor.
Ele se virou para encarar Horace.
— Que armas, garoto? — ele perguntou num tom ofensivo. — Como prefere lutar?
O rosto de Horace estava branco e tenso de medo. Por um momento, a sua voz ficou presa na garganta. Não tinha certeza do que tinha se passado com ele quando a-vançou a galope e apresentou seu desafio. Certamente não tinha sido algo planejado. Aparentemente, uma raiva in-tensa tinha tomado conta dele e, quando se deu conta, es-tava diante de todo o exército, jogando a luva no rosto confuso de Morgarath. Então pensou na ameaça que o inimigo tinha feito a Will, em como tinha sido obrigado a deixar o amigo na ponte e, finalmente, conseguiu falar.
— Com o que temos aqui — ele disse.
Os dois carregavam espadas. Além disso, o longo escudo em forma de pipa de Morgarath estava pendurado
em sua sela, e Horace levava o seu escudo redondo preso às costas. Mas a espada de Morgarath era de folha larga, quase 30 centímetros mais comprida do que a espada co-mum de cavalaria que Horace usava. Morgarath se virou para falar novamente com Duncan.
— O filhote quer lutar com as armas que temos. Suponho que você vai ficar atento às regras de conduta, não é mesmo? — ele perguntou.
— Você vai lutar sem ser perturbado — Duncan concordou num tom amargo.
Aquelas eram as regras do combate homem a ho-mem. Morgarath concordou e se curvou de modo zom-beteiro para o rei.
— Apenas se certifique de que Halt, esse assassino, entenda isso — ele avisou, continuando seu plano de provocar uma fúria fria no arqueiro. — Eu sei que ele conhece pouco as regras dos cavaleiros.
— Morgarath — Duncan disse com frieza —, não finja que o que está fazendo tem algo a ver com o verda-deiro código de cavaleiros. Eu lhe peço mais uma vez, poupe a vida do garoto.
— Poupá-lo, majestade? — Morgarath indagou a-parentando surpresa. — Ele é um garoto enorme, grande para a idade. Talvez fosse melhor pedir a ele para me poupar.
— Se você insiste em cometer assassinato, a esco-lha é sua, Morgarath. Mas nos livre de seu sarcasmo — Duncan pediu.
Novamente, Morgarath se curvou zombeteiro e casualmente disse para Horace:
— Está pronto, garoto?
Horace engoliu em seco e concordou.
— Sim — ele disse.
Foi Gilan quem viu o que ia acontecer e gritou um aviso no momento exato. A imensa espada de folha larga tinha saído da bainha como uma cobra, com velocidade inacreditável, e Morgarath a agitou à esquerda do garoto. Avisado pelo grito, Horace rolou para o lado, e a lâmina passou assobiando a centímetros de sua cabeça.
No mesmo movimento, Morgarath tinha batido as esporas em seu cavalo branco desbotado e se afastava a galope, apanhando o escudo e ajustando-o ao braço es-querdo. Seu riso zombeteiro chegou até Horace enquanto o garoto se recuperava.
— Então, vamos começar! — ele riu, e Horace sentiu a garganta seca ao se dar conta de que estava arris-cando a vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário