sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 29 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

O principal exército do reino avançava lentamente pelo campo de batalha em desordem. Os fortes ataques reali-zados pela cavalaria vindo de três lados tinham lhe dado uma vitória decisiva no espaço de alguns poucos minutos.
Na segunda linha do grupo de comando, Horace cavalgava ao lado de sir Rodney. O mestre de guerra tinha escolhido Horace como eu ajudante, cavalgando ao seu lado direito, em reconhecimento aos seus serviços ao rei-no. Era uma honra rara para quem participava de sua pri-meira batalha, mas sir Rodney era da opinião que o rapaz tinha mais que merecido.
Horace viu o campo de batalha com um misto de emoções. Por um lado, estava vagamente desapontado pelo fato de que, até ali, não tinha sido chamado para lu-tar. Por outro, sentia um grande alívio. A realidade da ba-talha nada tinha a ver com os sonhos glamourosos que tinha tido quando menino. Ele tinha imaginado uma ba-talha como uma série de ações cuidadosamente coorde-nadas, quase coreografadas, envolvendo guerreiros habi-lidosos executando atos de coragem. Era desnecessário
dizer que nesses sonhos o guerreiro mais notável e cora-joso no campo tinha sido o próprio Horace.
Em vez disso, ele viu com certo horror os golpes, as estocadas e derramamento de sangue, a poeira e os gri-tos diante dele. Homens, Wargals e cavalos tinham mor-rido, e seus corpos estavam agora espalhados na poeira das Planícies de Uthal como um monte de bonecas de trapo. Foi tudo muito rápido, violento e confuso. Ele o-lhou para sir Rodney. O rosto sombrio do mestre de guerra lhe disse que era sempre daquele jeito.
A garganta de Horace estava seca, e ele tentou ali-viá-la engolindo um pouco de saliva. Uma pontada de dú-vida o atingiu. Ele se perguntou, caso fosse chamado para lutar, se iria simplesmente ficar paralisado de medo. Pela primeira vez na vida, tinha se dado conta de que as pesso-as realmente morriam nas guerras. E que ele poderia ser uma dessas pessoas. Tentou engolir novamente, mas não foi mais bem-sucedido do que na primeira vez.
Morgarath e seus soldados remanescentes estavam numa formação defensiva na base dos penhascos. O chão macio mantinha a cavalaria afastada, e não havia escolha a não ser avançar com a infantaria e terminar o serviço nu-ma luta corpo a corpo.
Qualquer comandante normal de forças inimigas já teria admitido o resultado inevitável e se rendido para
poupar as vidas das tropas restantes. Mas aquele era Mor-garath, e todos sabiam que não haveria negociação. Os guerreiros se endureceram para a difícil tarefa que os es-perava. Seria uma luta sangrenta e sem sentido, mas não havia outra alternativa. De uma vez por todas, o poder de Morgarath devia ser derrubado.
— No entanto — Duncan disse sombrio quando sua linha de frente parou a apenas algumas centenas de metros do meio círculo defensivo dos Wargals —, vamos lhe oferecer a oportunidade de se render.
Ele respirou fundo, pronto para mandar o corne-teiro dar o sinal para uma conferência, quando houve uma movimentação na linha de frente do exército dos Wargals.
— Senhor! — Gilan disse de repente. — Eles estão com uma bandeira de trégua.
Os líderes do reino olharam com surpresa a ban-deira branca ser desfraldada e carregada por um soldado desmontado. Ele se aproximou e parou no terreno entre as duas forças. Do fundo das fileiras dos Wargals, veio um toque de corneta, cinco notas ascendentes: o sinal univer-sal que solicitava uma conferência. O rei Duncan fez um pequeno gesto de surpresa, hesitou e deu um sinal para o próprio corneteiro.
— Acho que é melhor ouvir o que ele tem a dizer — murmurou. — Dê a resposta.
O corneteiro umedeceu os lábios e tocou a aceita-ção em resposta: as mesmas notas na ordem inversa.
— Deve ser algum tipo de truque — Halt disse preocupado. — Morgarath vai enviar um mensageiro para falar enquanto foge. Ele vai...
O arqueiro parou de falar quando as fileiras de Wargals se separaram mais uma vez e uma figura se apro-ximou em um cavalo. Imensamente alto e magro, usando uma armadura preta e um capacete preto de bico de pás-saro, era sem dúvida alguma o próprio Morgarath. A mão direita de Halt foi instintivamente para a aljava pendurada em suas costas e, num segundo, uma flecha pesada, pró-pria para perfurar armaduras, foi colocada na corda do arco.
O rei Duncan viu o movimento.
— Halt — ele disse asperamente. — Concordei com uma trégua. Não me faça quebrar minha palavra, nem mesmo para Morgarath.
O sinal da cometa era uma promessa de segurança e, relutantemente, Halt devolveu a flecha à aljava. Duncan fez um rápido contato visual com o barão Arald, dando sinal para que ele ficasse de olho no arqueiro. Halt deu de ombros. Se decidisse atirar uma flecha no coração de Morgarath, nem o barão, nem qualquer outro homem se-ria rápido o bastante para impedi-lo.
Lentamente, a figura semelhante a um abutre se aproximou no cavalo branco com o Wargal que levava o estandarte à sua frente. Um baixo murmúrio se ergueu em meio ao exército do reino quando os guerreiros viram, pela primeira vez, o homem que durante os últimos quin-
ze anos tinha sido uma constante ameaça para suas vidas e seu bem estar, Morgarath parou a uns 30 metros da linha de frente e viu o grupo do rei no local onde tinha parado para encontrá-lo. Seus olhos se estreitaram quando olhou para a pequena figura encolhida numa capa cinzenta sobre um pônei desgrenhado.
— Duncan! — ele chamou com a voz fina atraves-sando o repentino silêncio. — Reclamo meus direitos!
— Você não tem direitos, Morgarath — o rei res-pondeu. — Você é um rebelde, um traidor e um assassi-no. Renda-se agora, e seus homens serão poupados. Esse é o único direito que vou lhe conceder.
— Exijo o direito de disputar um combate direto com você! — Morgarath gritou de volta ignorando as pa-lavras do rei. — Ou você é covarde demais para aceitar um desafio, Duncan? — ele continuou com insolência. — Vai deixar que mais alguns milhares de seus homens mor-ram enquanto se esconde atrás deles? Ou vai deixar que o destino decida a questão aqui?
Duncan foi pego de surpresa. Morgarath esperou sorrindo calmamente para si mesmo. Ele podia adivinhar os pensamentos que passavam pelas mentes do rei e de seus conselheiros. Ele tinha oferecido um curso de ação que poderia poupar a vida de milhares de seus soldados.
Arald moveu seu cavalo para perto do rei.
— Ele não tem direito aos privilégios de um cava-leiro. Ele merece a forca. Nada mais — disse zangado.
Alguns dos outros murmuraram concordando.
— No entanto... — Halt disse em voz baixa, e to-dos se viraram para encará-lo. — Isso poderia resolver o problema que enfrentamos. Os Wargals estão mental-mente presos à vontade de Morgarath. Agora que não podemos usar a cavalaria, eles irão continuar a lutar en-quanto ele desejar. E vão matar milhares de nossos ho-mens nesse processo. Mas, se Morgarath fosse morto num combate direto...
— Os Wargals ficariam sem comando — Tyler in-terrompeu compreendendo o raciocínio. — É provável que simplesmente parem de lutar.
— Não temos certeza disso... — Duncan ponderou preocupado.
— Certamente, senhor, vale a pena tentar — inter-rompeu sir David de Caraway, — Acho que Morgarath foi esperto. Sabe que não podemos desistir à oportunidade de pôr fim a isso com um combate homem a homem. Ele jogou os dados hoje e perdeu. Mas é obvio que planeja desafiá-lo e matá-lo como um ato final de vingança.
— O que quer dizer? — Duncan perguntou.
— Como mestre de guerra real, posso responder a qualquer desafio feito ao senhor, meu rei.
Houve um breve murmúrio quando ele disse isso. Morgarath poderia ser um oponente perigoso, mas sir David era o mais habilidoso cavaleiro do reino. Como o filho, ele tinha treinado com o renomado mestre espada-chim MacNeil, e sua capacidade no combate homem a homem era lendária.
— Morgarath está usando as regras da classe dos cavaleiros para ter uma chance de matá-lo, senhor — ele falou ansioso. — Evidentemente, esqueceu o fato de que, como rei, o senhor pode ser representado por um cam-peão. Dê-lhe o direito de desafiá-lo. E então permita que eu aceite.
Duncan considerou a ideia. Ele olhou para os con-selheiros e viu que todos concordavam. Abruptamente, tomou uma decisão.
— Tudo bem — disse finalmente. — Aceito seu direito ao desafio. Mas ninguém diz nada sobre a aceita-ção. Somente eu, está claro?
O conselho concordou. Uma vez aceito o desafio, não se podia voltar atrás. Duncan ficou de pé nos estribos e se dirigiu à ameaçadora figura negra.
— Morgarath — Duncan chamou —, embora a-creditemos que você tenha perdido qualquer direito que pudesse ter tido como cavaleiro, vá em frente e faça seu desafio. Como você disse, vamos deixar o destino decidir essa questão.
Morgarath permitiu que um sorriso se espalhasse por seu rosto e não tentou mais escondê-lo daqueles que o observavam. Sentiu uma rápida onda de triunfo no peito e então um ódio frio o dominou quando olhou diretamente para a figura pequena de aspecto insignificante atrás do rei.
— Então, como é meu direito perante Deus — ele disse com cuidado certificando-se de usar as palavras exa-
tas e antigas para propor um desafio — e diante de todos aqui presentes, faço meu desafio, para provar que minha causa é correta e justa, para... — ele não conseguiu deixar de hesitar e saborear o momento por um segundo — Halt, o arqueiro.
Seguiu-se um silêncio perplexo. Então, quando Halt impeliu Abelard para a frente para responder, o “não!” penetrante de Duncan o fez parar. Seus olhos ti-nham um brilho intenso.
— Vou correr o risco, meu senhor — ele disse sombrio, mas Duncan estendeu o braço para impedi-lo de prosseguir.
— Halt não é um cavaleiro. Você não pode desafi-á-lo — ele disse depressa.
Morgarath deu de ombros.
— Na verdade, Duncan, posso desafiar qualquer um. E qualquer um pode me desafiar. Como cavaleiro, não tenho que aceitar qualquer desafio, a menos que seja feito por outro cavaleiro. Mas posso escolher quem quero desafiar.
— Halt está proibido de aceitar! — Duncan retru-cou zangado.
— Então vai fugir e se esconder, Halt? — ele zombou rindo. — Como todos os arqueiros. Eu contei que um de seus jovens arqueiros é nosso prisioneiro?
Ele sabia que o Corpo de Arqueiros era um grupo muito unido e esperava enfurecer Halt com a notícia de que tinha capturado um de seus alunos.
— Tão pequeno que quase o jogamos fora. Mas decidi manter e torturar ele. Assim haverá menos um es-pião sorrateiro no futuro.
Halt sentiu o sangue fugir de seu rosto. Havia ape-nas uma pessoa de quem Morgarath podia estar falando. Furioso, ele impeliu Abelard para a frente.
— Você está com Will? — ele perguntou em voz baixa, mas penetrante.
Morgarath sentiu o mesmo choque de triunfo no-vamente. Aquilo era ainda melhor do que esperava! Era óbvio que o menino arqueiro era querido por Halt. Uma súbita sensação de alegria tomou conta dele. Seria ele a-prendiz do próprio Halt? De repente, de alguma forma, ele soube que essa era a verdade.
— Sim, Will está conosco — ele respondeu. — Mas não por muito tempo, é claro.
Halt sentiu uma intensa onda de fúria e ódio pela figura semelhante a um abutre que estava à sua frente. Mãos se estenderam a fim de pará-lo, mas ele fez o cavalo avançar e encarou Morgarath.
— Então, Morgarath, sim, eu...
— Halt! Ordeno que pare! — Duncan gritou inter-rompendo-o. Mas então todos os olhos foram atraídos para um movimento repentino na segunda fileira do exér-cito. Uma figura montada se aproximou e cobriu a curta distância até Morgarath num segundo. O Senhor da Chu-va e da Noite tentou pegar a espada, mas percebeu que a arma do recém-chegado estava embainhada. Em vez dis-
so, seu braço direito se movimentou para trás, e ele jogou a luva no rosto magro de Morgarath.
— Morgarath! — gritou com a jovem voz aguda. — Eu o desafio a um combate homem a homem!
Então, virando o cavalo e se afastando alguns pas-sos, Horace esperou a resposta de Morgarath.

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