sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 27 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

O primeiro choque entre os dois exércitos não foi deci-sivo. A linha dispersa do rei, consistindo em infantaria le-ve acompanhada por arqueiros, avançou pelo flanco es-querdo de Morgarath numa manobra de reconhecimento, recuando rapidamente quando um batalhão de infantaria pesada se formou e avançou para enfrentá-las.
Os homens levemente armados fugiram precipita-damente para a segurança das próprias linhas, adiante dos Wargals que avançavam lentamente. Então, enquanto uma companhia de cavalaria pesada trotava para a frente, na direção do flanco esquerdo do batalhão de Wargals, estes refizeram a formação, passando das colunas de quatro fi-leiras para um quadrado de infantaria mais lento e defen-sivo, e recuaram para as próprias linhas.
Durante as próximas horas, esse continuou sendo o padrão da batalha: pequenas forças faziam reconheci-mento das defesas do inimigo; forças maiores ofereciam oposição, e o primeiro ataque perdia força. Arald, Fergus e Tyler montavam seus cavalos ao lado do rei num pe-queno morro, no centro do exército real. O mestre de
guerra David acompanhava um pequeno grupo de cava-leiros que fazia uma das muitas incursões na direção do exército de Wargals.
— Todas essas idas e vindas estão me aborrecendo — Arald disse amargo.
O rei sorriu para ele. Tinha uma das mais impor-tantes qualidades de um bom comandante: uma paciência quase ilimitada.
— Morgarath está esperando — ele disse simples-mente. — Está esperando que o exército de Horth apare-ça às nossas costas. Tenho certeza de que então ele vai a-tacar.
— Vamos partir para o ataque — Fergus grunhiu, mas Duncan fez que não, apontando para o solo imedia-tamente na frente da posição de Morgarath.
— A terra ali está mole e pantanosa — ele afirmou. — Isso vai reduzir a eficiência de nossa melhor arma, a cavalaria. Vamos esperar até que Morgarath venha até nós. Daí, poderemos combatê-lo num terreno mais apropriado.
Houve um bater de cascos apressados vindo da re-taguarda. O grupo real se virou e viu um mensageiro conduzindo o cavalo para a última subida do morro. Ele puxou as rédeas, olhou em volta e viu a cabeça loira do rei, então impeliu o cavalo novamente, finalmente fazen-do-o parar junto deles. Sua capa verde, a malha da arma-dura leve e a espada de lâmina fina mostravam que era um batedor.
— Majestade — ele disse sem fôlego, — uma mensagem de sir Vincent.
Vincent era o líder do Corpo de Mensageiros, um grupo de soldados que agia como olhos e ouvidos do rei durante um conflito, levando mensagens e ordens para todas as partes do campo de batalha. Duncan fez um ges-to com a cabeça indicando que o homem deveria conti-nuar e apresentar a mensagem.
O cavaleiro engoliu a saliva várias vezes e olhou an-siosamente para o rei e os três barões. No mesmo instan-te, Arald soube que as notícias não eram boas.
— Senhor — o homem começou hesitante. — Os respeitos de sir Vincent, senhor, e... parece que há escan-dinavos atrás de nós.
Houve exclamações espantadas de vários dos ofici-ais jovens que rodeavam o grupo de comando. Fergus se virou para eles com a testa franzida numa expressão séria.
— Fiquem quietos! — ele vociferou e, num instan-te, o barulho desapareceu.
Os ajudantes pareceram envergonhados por sua falta de disciplina.
— Exatamente onde estão esses escandinavos? E quantos são? — Duncan perguntou com calma ao men-sageiro.
Seus modos tranquilos pareceram contagiar o ra-paz. E ele respondeu com muito mais confiança.
— O primeiro grupo pode ser visto no cume mais baixo a noroeste, majestade. Até agora só podemos ver
cerca de cem. Sir Vincent sugere que a melhor posição para vocês observarem a situação seria da pequena colina ao fundo, à nossa esquerda.
O rei concordou e se virou para um dos oficiais mais jovens.
— Ranald, talvez você possa ir avisar sir David dessa nova situação. Diga a ele que estamos mudando o posto de comando para a colina que sir Vincent sugeriu.
— Sim, meu senhor! — o jovem cavaleiro respon-deu. Ele virou o cavalo e saiu a galope. O rei então se vi-rou para os companheiros.
— Amigos, vamos dar uma olhada nesses escandi-navos.
O barão Arald estudou o pequeno grupo de ho-mens na colina atrás deles. Mesmo àquela distância, era possível distinguir os capacetes com chifres e os enormes escudos redondos que os guerreiros do mar carregavam. Um pequeno grupo tinha avançado para perto da colina, e era fácil vê-lo.
Igualmente óbvia foi a escolha da típica formação em ponta de flecha. Ele calculou que várias centenas de inimigos estavam agora visíveis e que havia muitos outros mais escondidos do outro lado das colinas. Sentiu um grande peso de tristeza nos ombros. O fato de os escan-dinavos estarem ali significava apenas uma coisa: Halt ti-
nha fracassado. E, conhecendo Halt como conhecia, sabia que isso provavelmente significava que o velho arqueiro tinha morrido na tentativa. Ele sabia que Halt nunca se renderia, não quando a necessidade de impedir os escan-dinavos de chegar à retaguarda do exército era tão impor-tante.
Duncan disse o que pensava a todos os seus com-panheiros.
— São mesmo os escandinavos.
Ele olhou para o alto da colina.
— Vamos ter que lutar na defensiva, meus senho-res — ele continuou. — Sugiro que comecemos a reunir nossos homens num círculo em volta desta colina. É um ponto tão bom quanto outro qualquer para lutar dos dois lados.
Todos sabiam que era apenas uma questão de tempo antes que Morgarath avançasse e os esmagasse en-tre as duas mandíbulas da armadilha que tinha preparado.
— Cavaleiro se aproximando! — gritou um dos soldados, enquanto apontava com o dedo.
Todos se viraram para olhar o ponto que o rapaz indicou. De um bosque à direita de um morro, um cava-leiro solitário ficou visível de repente. Vários escandinavos o perseguiam, jogando lanças e bastões atrás dele. Mas ele cavalgava colado ao pescoço do cavalo, com a capa cin-za-esverdeada cintilando no vento, e logo deixou o inimi-go para trás.
— É Gilan — o barão Arald murmurou reconhe-cendo o cavalo baio.
Ele procurou em vão um segundo arqueiro atrás de Gilan, esperando, mesmo sabendo ser improvável, que Halt tivesse sobrevivido de alguma forma. Mas não viu ninguém mais. Os ombros do barão se curvaram um pouco ao se dar conta de que Gilan parecia ser o único sobrevivente da força que tinha partido com tanta ousadia para a Floresta Thorntree.
Gilan já estava em terreno plano e ainda galopava a toda a velocidade. Ele viu os estandartes reais balançando na colina e conduziu Blaze naquela direção. Em poucos minutos e coberto de poeira, puxou as rédeas ao lado dos outros homens, com uma das mangas da túnica rasgada e uma atadura manchada de sangue ao redor da cabeça.
— Senhor! — ele disse sem fôlego, esquecendo o protocolo para se dirigir à realeza. — Halt diz que o se-nhor pode...
Ele não conseguiu falar mais, pois pelo menos qua-tro pessoas o interromperam. A voz do barão Fergus, contudo, era a mais alta.
— Halt? Ele está vivo?
— Ah, sim, senhor! Vivo e em plena atividade — ele respondeu sorrindo.
— Mas os escandinavos... — o rei Duncan come-çou e mostrou as linhas de homens ao longe.
O sorriso de Gilan aumentou ainda mais.
— Derrotados, senhor. Nós os pegamos totalmen-te de surpresa e os fizemos em pedaços. Esses homens são nossos arqueiros usando os capacetes e escudos to-mados do inimigo. Foi ideia de Halt...
— Com que objetivo? — Arald perguntou aspera-mente, e Gilan se virou para ele com um gesto de descul-pas para o rei.
— Para enganar Morgarath, senhor — ele explicou. — Ele está esperando que os escandinavos ataquem pela retaguarda, e é o que vai acontecer. É por isso que eles até fingiram tentar me parar agora. Nossa cavalaria está exa-tamente atrás do morro. Halt propõe avançar com os ar-queiros, obrigando vocês a se virarem para a retaguarda. Então, com alguma sorte, enquanto Morgarath ataca com seus Wargals, os arqueiros e o seu exército principal de-vem abrir um caminho no centro, permitindo que a cava-laria oculta passe e atinja Morgarath quando estiver em terreno aberto.
— Meu Deus, é uma ótima ideia! — Duncan elo-giou com entusiasmo. — É provável que levantemos tanta poeira e criemos tanta confusão que ele não vai ver a ca-valaria de Halt até que ela esteja bem na frente dele.
— Então, meu senhor, podemos distribuir a cava-laria pesada de qualquer um dos lados para atingir os Wargals pelos flancos.
Quem falava agora era sir David. Ele tinha chegado despercebido enquanto Gilan explicava o plano de Halt.
O rei Duncan hesitou por um segundo, passando a mão pela barba curta, e depois concordou com um gesto determinado.
— Vamos em frente! — ele disse. — Senhores, é melhor irem falar com seus comandantes imediatamente. Fergus, Arald, levem uma divisão da cavalaria pesada para a esquerda e outra para a direita e fiquem preparados. T-yler, comande a infantaria no centro. Certifique-se de que eles saibam que esse é um falso ataque. E diga para grita-rem e baterem as espadas nos escudos quando os “escan-dinavos” se aproximarem. Vamos fazer parecer uma ba-talha de verdade. Deixe-os preparados para se separar e ir para os lados ao terceiro som da corneta.
— Ao terceiro som da corneta. Sim, meu senhor — Tyler afirmou. Ele cutucou seu cavalo de batalha com os estribos e se afastou a galope para assumir o comando da infantaria. Duncan olhou para os outros comandantes.
— Vamos em frente, senhores. Não temos muito tempo.
Um dos ajudantes chamou.
— Senhor! Os escandinavos estão descendo a coli-na!
Alguns segundos depois, outro homem repetiu o grito.
— E os Wargals estão começando a avançar!
Duncan deu um sorriso sombrio para seus coman-dantes:
— Acho que chegou o momento de fazer uma pe-quena surpresa para Morgarath.

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