sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 26 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

As Planícies de Uthal formavam um enorme espaço a-berto de campinas onduladas e cobertas de grama verde e abundante. Havia poucas árvores, embora montes e coli-nas baixas ocasionais servissem para quebrar a monotonia. As planícies começavam a se erguer aos poucos, forman-do um pequeno morro a uma pequena distância de onde o exército de Araluen estava posicionado.
Mais perto dos pântanos, onde os Wargals estavam se reunindo, passava um riacho sinuoso. Normalmente apenas um fio de água, ele tinha encorpado por causa das chuvas recentes de primavera e deixara o chão além de onde estavam os Wargals macio e pantanoso, impedindo qualquer ataque da cavalaria pesada por parte de Araluen.
O barão Fergus de Caraway protegeu os olhos con-tra o sol forte do meio-dia e examinou as planícies com cuidado, até a entrada do desfiladeiro dos Três Passos.
— Eles são muitos — disse em voz baixa.
— E tem mais chegando — Arald de Redmont a-juntou, ajeitando a espada de folha larga na bainha.
Os dois barões estavam conduzindo seus cavalos de batalha lentamente à frente do exército formado por Duncan. Arald acreditava que fazia bem aos homens ver seus líderes relaxados e conversando casualmente en-quanto observavam os inimigos surgindo do desfiladeiro estreito na montanha e se espalhando nas planícies. Eles ouviam vagamente a cantoria ameaçadora e ritmada dos Wargals enquanto corriam para suas posições.
— Esse maldito barulho é mesmo irritante — Fer-gus resmungou, e Arald concordou.
Aparentemente casual, lançou um olhar para os homens atrás deles. O exército estava a postos, mas o mestre de guerra David tinha mandado todos ficarem em posição de descanso. Consequentemente, a cavalaria esta-va desmontada, e a infantaria e os arqueiros estavam sen-tados na inclinação coberta de grama.
— Não há sentido em cansá-los com a posição de sentido no sol — David tinha dito e recebido a concor-dância dos outros.
Pelo mesmo motivo, ele tinha ordenado aos vários mestres de cozinha que fornecessem frutas e bebidas ge-ladas à vontade aos homens. Os ajudantes vestidos de branco se movimentavam entre os integrantes do exército, carregando cestos e recipientes de água. Arald olhou para eles e sorriu diante da aparência imponente de mestre Chubb, chef do Castelo Redmont, supervisionando um grupo de infelizes aprendizes que ofereciam maçãs e pês-segos aos homens. Como sempre, sua colher se levantava
e abaixava com frequência assustadora na cabeça de qual-quer aprendiz que ele achasse estar se movendo devagar demais.
— Dê uma clava a esse seu mestre de cozinha e ele vai conseguir derrotar o exército de Morgarath sozinho — Fergus comentou fazendo Arald sorrir pensativo.
Os homens em volta de Chubb e seus aprendizes, distraídos pelas caretas do gordo cozinheiro, não presta-vam atenção à cantoria que atravessava as planícies. Em outras áreas, Arald podia ver sinais de inquietação e mos-tras de que os homens estavam ficando cada vez mais in-comodados na posição de descanso.
Ao olhar à sua volta, Arald viu um capitão de in-fantaria sentado com sua companhia. Suas armaduras re-duzidas, capas xadrez e espadas de folha larga mostravam que pertenciam a um dos feudos do norte. Ele fez sinal para que o homem se aproximasse e se inclinou na sela para cumprimentá-lo.
— Bom-dia, Capitão — ele disse com tranquilida-de.
— Bom-dia, senhor — o oficial respondeu com um forte sotaque do norte que tornava suas palavras quase incompreensíveis.
— Diga-me, capitão, o senhor tem tocadores de gaita entre os seus homens? — o barão perguntou sorrin-do.
— Ah, sim, senhor — o oficial respondeu imedia-tamente muito sério. — McDuig e McForn estão conos-co. Eles vêm sempre quando vamos para a guerra.
— Então, o senhor pode pedir a eles que toquem uma ou duas músicas para nós? — o barão sugeriu. — Certamente será um som mais agradável do que esses grunhidos monótonos que vêm de longe.
Ele inclinou a cabeça na direção dos Wargals e logo um sorriso se espalhou em seu rosto. O capitão concor-dou de imediato.
— Ah, sim, senhor. Vou providenciar. Não há nada como uns toques de gaita para fazer o sangue de um ho-mem correr mais depressa nas veias!
Cumprimentando rapidamente o barão, ele se afas-tou na direção de seus homens, gritando enquanto corria.
— McDuig! McForn! Respirem fundo e peguem suas gaitas, homens! Vamos ouvir um pouco de música!
Enquanto os dois barões continuavam a percorrer as linhas, eles ouviram os primeiros acordes das gai-tas-de-foles enchendo o ar. Fergus estremeceu, e Arald sorriu para ele.
— Nada como alguns toques de gaita para fazer o sangue de um homem correr mais depressa nas veias! — repetiu.
— No meu caso, isso faz meus dentes baterem — seu companheiro declarou e disfarçadamente cutucou o cavalo com o calcanhar para afastá-lo um pouco do som selvagem das gaitas.
Mas, quando olhou para os homens atrás deles, percebeu que a ideia de Arald tinha funcionado. As gaitas estavam conseguindo abafar a cantoria monótona, e os dois músicos, marchando e contra-manchando na frente do exército, atraíam a atenção de todos os homens perto deles.
— Boa ideia — ele disse para Arald. — Não posso deixar de me perguntar se essa é igualmente boa — ele acrescentou, fazendo um gesto para o outro lado da planí-cie, onde os Wargals estavam surgindo do desfiladeiro e assumindo suas posições.
— O meu instinto diz que vamos acabar com eles antes que tenham a chance de entrar em formação.
Arald deu de ombros. Essa questão tinha sido aca-loradamente discutida pelo Conselho de Guerra nos últi-mos dias.
— Se os atacarmos quando saírem, vamos sim-plesmente contê-los — ele disse. — Se quisermos destruir o poder de Morgarath de uma vez por todas, temos que deixar que ele traga suas forças para terreno aberto.
— E esperar que Halt tenha sido bem-sucedido em parar o exército de Horth — Fergus completou. — Estou ficando com dor no pescoço de tanto olhar sobre o om-bro para me certificar de que não há ninguém atrás de nós.
— Halt nunca nos decepcionou antes — Arald disse com tranquilidade.
— Eu sei disso — Fergus concordou infeliz. — Ele é um homem notável. Mas há tantas coisas que podem ter dado errado. Ele pode não ter encontrado o exército de Horth. Ainda pode estar tentando atravessar Thorntree. Ou, ainda pior, Horth pode ter derrotado seus arqueiros e a cavalaria.
— Não há nada que possamos fazer sobre isso, além de esperar — Arald ressaltou.
— E ficar de olho no noroeste, esperando não ver achas e capacetes com chifres atravessando aquelas coli-nas.
— Aí está um pensamento reconfortante — Arald disse tentando brincar.
No entanto, não conseguiu resistir à tentação de se virar na sela e espiar ansiosamente em direção às colinas do norte.
Erak tinha esperado até que as últimas poucas cen-tenas de Wargals estivessem descendo o Desfiladeiro dos Três Passos para as planícies e então obrigou seu pequeno grupo a entrar no meio das criaturas apressadas. Houve alguns rosnados e caras feias quando os escandinavos a-briram caminho aos empurrões entre o fluxo vivo que se-guia as trilhas estreitas e sinuosas do desfiladeiro, mas os guerreiros do mar; pesadamente armados, rosnaram de
volta e manejaram suas achas com tamanha facilidade que os zangados Wargals logo recuaram e os deixaram em paz.
Evanlyn e Will estavam no centro do grupo cerca-dos pelos corpulentos escandinavos. A capa de arqueiro de Will, facilmente reconhecível, tinha sido escondida em uma das sacolas e tanto ele quanto Evanlyn usavam casa-cos de pele de carneiro grandes demais. Os cabelos curtos de Evanlyn estavam cobertos por um capuz de lã. Até a-quele momento, nenhum dos Wargals tinha prestado a-tenção neles, supondo que eram criados ou escravos do pequeno grupo de guerreiros do mar.
— Fiquem de boca fechada e com os olhos no chão! — Erak tinha dito a eles quando atravessaram a multidão de Wargals apressados.
As trilhas estreitas do desfiladeiro ecoavam a canto-ria monótona que os Wargals usavam para marcar a ca-dência. O som se espalhava e flutuava ao redor deles. O plano de Erak era avançar para o leste tão logo tivesse sa-ído do desfiladeiro, aparentemente com o propósito de ocupar uma posição no flanco direito do exército dos Wargals. Assim que a oportunidade aparecesse, os escan-dinavos se afastariam e fugiriam para a selva alagadiça dos pântanos, viajando pelos charcos e ilhas cobertas de grama até as praias em que a frota de Horth estava ancorada.
Eles avançaram com dificuldade, girando e virando de acordo com as curvas do desfiladeiro. A trilha estreita descia através das montanhas por pelo menos 5 quilôme-tros, e Will entendeu por que ela sempre tinha sido uma
barreira de ambos os lados. Os homens de Morgarath não podiam passar em grandes números a menos que Duncan ficasse para trás e permitisse. Da mesma forma, o exército do rei não podia entrar no desfiladeiro para atacar Morga-rath no planalto.
Paredes negras de rochas lisas, úmidas e brilhantes se elevavam acima deles de ambos os lados. O desfiladeiro via a luz do sol por menos de uma hora todos os dias, perto do meio-dia. A qualquer outra hora, era frio, úmido e envolto em sombras. Isso tudo ajudava a esconder a presença dos dois jovens membros de olhares curiosos.
Will sentiu o chão debaixo dos seus pés começar a ficar plano e percebeu que eles deviam estar no final do desfiladeiro, quase no nível da planície. Preso no meio da multidão agitada e apressada, não havia como enxergar o chão adiante dele. Eles viraram a última curva, e um raio de sol mergulhou no desfiladeiro, obrigando o garoto a proteger os olhos com a mão. Eles tinham chegado à en-trada.
— Vá para a direita! — Erak gritou empurrando-o.
Os quatro escandinavos mudaram de direção, a-brindo caminho entre a multidão até chegarem ao lado direito do desfiladeiro. Houve grunhidos e resmungos zangados por parte dos Wargals, pois vários deles foram atirados para a frente e quase caíram antes de recuperar o equilíbrio.
A luz do sol os atingiu como uma barreira física quando saíram da escuridão do desfiladeiro e, por um
momento, Will e Evanlyn hesitaram. Erak os empurrou novamente, mais ansioso agora que ouvia uma voz conhe-cida gritando comandos para os Wargals.
Morgarath estava ali, dirigindo as operações.
— Maldito seja! — Erak resmungou. — Eu espe-rava que ele estivesse com a vanguarda do exército. Con-tinuem andando, vocês dois!
Ele empurrou Will e Evanlyn para que andassem um pouco mais depressa. Will olhou para trás. Acima das cabeças dos Wargals, conseguiu ver a figura alta e magra do Senhor da Chuva e da Noite, agora usando roupa e armadura totalmente pretas, ainda sentado em seu cavalo branco e gritando ordens para os violentos e sonoros Wargals.
Aos poucos, eles estavam se posicionando em for-mações ordenadas e se juntando ao exército principal. Quando Will olhou para trás, o rosto pálido se virou para o grupo de escandinavos apressados, e Morgarath fez o cavalo avançar na direção deles, sem dar importância ao fato de que estava pisoteando os próprios homens para chegar lá.
— Capitão Erak! — ele chamou.
A voz não era alta, mas se fez ouvir, fina e cortante, através da cantoria dos Wargals.
— Continuem a andar! — Erak ordenou em voz baixa. — Continuem a se mexer.
— Parem!
A raiva fria da voz instantaneamente parou e silen-ciou os Wargals, que ficaram paralisados. Os escandinavos fizeram o mesmo com relutância, e Erak se virou para encarar Morgarath.
O Senhor da Chuva e da Noite conduziu o cavalo pela multidão, empurrando Wargals ou fazendo que caís-sem para abrir caminho para ele. Lentamente, seus olhos encontraram os de Erak, e ele desmontou. Mesmo em pé, erguia-se acima do forte líder escandinavo.
— E para onde você e seus homens estão indo ho-je, capitão? — ele indagou com uma voz suave.
Erak fez sinal para a direita.
— Eu e meus homens costumamos lutar na ala di-reita — ele explicou o mais casualmente possível. — Mas, se isso não estiver bom, vou para onde necessitar de mim.
— É mesmo? — Morgarath retrucou com sarcas-mo. — Será que vai? Mas como o senhor é gentil. Você... — ele se interrompeu ao olhar para as duas figuras meno-res que os outros escandinavos tentavam esconder sem sucesso.
— Quem são eles? — Morgarath perguntou, e Erak deu de ombros.
— Celtas — o escandinavo disse rapidamente. — Nós prendemos eles em Céltica e estou planejando vender para o oberjarl Ragnak como escravos.
— Céltica é minha, capitão. Escravos de Céltica também são meus. Eles não estão aqui para você levar e vender eles para o seu rei bárbaro.
Os escandinavos que cercavam Will e Evanlyn se mexeram zangados com essas palavras. Morgarath voltou os olhos frios para eles e então observou os milhares de Wargals que os cercavam: cada qual pronto para obedecer a qualquer ordem sem perguntas. A mensagem estava cla-ra.
Erak tentou iludir Morgarath.
— Nosso acordo diz que deveríamos lutar pelo prêmio, e isso inclui escravos — ele insistiu, mas Morga-rath o interrompeu.
— Se vocês lutassem! — ele gritou furioso. — Não se ficassem assistindo à minha ponte ser destruída.
— Era seu homem, Chirath, que estava no co-mando na ponte — Erak disparou de volta. — Foi ele que decidiu não deixar nenhum guarda de vigia. Nós fomos os únicos que tentaram salvar a ponte enquanto ele estava escondido atrás das pedras.
O olhar de Morgarath se fixou no de Erak mais uma vez e sua voz caiu para um tom quase inaudível.
— Ninguém fala comigo nesse tom, capitão Erak — ele disparou. — Peça desculpas imediatamente. E de-pois...
Ele parou no meio da sentença. Parecia possuir sentidos periféricos anormais. Embora estivesse olhando para Erak sem piscar, aparentemente tinha percebido al-guma coisa num dos lados. Os olhos negros se viraram e ficaram presos em Will. Um dedo branco e ossudo estava levantado, apontado para a garganta do garoto.
— O que é isso?
Erak olhou e sentiu um frio na boca do estômago.
Um brilho pálido de bronze estava visível na aber-tura da gola da camisa de Will. Logo, Erak se sentiu em-purrado para um lado quando Morgarath se moveu, rápi-do como uma serpente, e agarrou a corrente em volta do pescoço do rapaz.
Horrorizado com a fúria implacável que viu naque-les olhos apagados, Will cambaleou para trás. Ao seu lado, ele ouviu Evanlyn respirar fundo quando Morgarath o-lhou para a pequena folha de bronze em sua mão.
— Um arqueiro! — ele berrou. — Ele é um ar-queiro! Aqui está seu símbolo!
— Ele é um menino... — Erak começou, mas a fú-ria de Morgarath se voltou contra ele, e o líder sombrio estapeou o rosto do escandinavo com as costas da mão.
— Ele não é um menino! Ele é um arqueiro!
Quando o colega foi estapeado, os outros três es-candinavos se afastaram, com as armas prontas. Morgara-th nem mesmo teve que falar. Virou os olhos cintilantes na direção dos Wargals e 20 deles se aproximaram gru-nhindo, com bastões e lanças preparados.
Erak fez um sinal para que seus homens se acal-massem. A marca vermelha do tapa de Morgarath brilhava em seu rosto.
— Você sabia — Morgarath acusou. — Você sabia — então ele compreendeu. — É ele! Flechas, você disse! Os meus Wargals estavam se escondendo de flechas en-
quanto a ponte queimava! Arma de arqueiro! Esse é o porco que destruiu minha ponte!
A voz se transformou num grito esganiçado.
A garganta de Will estava seca, e o pavor fazia seu coração bater forte. Ele conhecia o lendário ódio de Mor-garath pelos arqueiros: todos os arqueiros conheciam. I-ronicamente, o próprio Halt detonara esse ódio quando liderou o ataque-surpresa ao exército de Morgarath em Hackman Heath, dezesseis anos antes.
Erak ficou parado diante do lorde Negro sem falar nada.
Will sentiu uma mão pequena e quente se enroscar na dele: Evanlyn. Por um momento, ficou admirado com a coragem da garota de se unir a ele daquela forma diante da fúria e do ódio implacável de Morgarath.
Então, outro cavalo abriu caminho à força entre a multidão. Na sela, vinha um dos tenentes de Morgarath, um dos Wargals que tinha conhecimentos elementares da comunicação com os humanos.
— Meu senhor — ele chamou no tom estranho e sem emoção dos Wargals. — Avanço do inimigo.
O Senhor da Chuva e da Noite tomou uma decisão. Ele saltou para a sela de seu cavalo, com o olhar furioso agora preso em Will, não em Erak.
— Nós vamos terminar isso mais tarde — ele avi-sou virando-se então para um sargento entre os que ti-nham cercado os escandinavos. — Mantenha esses prisi-oneiros aqui até eu voltar. Sob pena de perder sua vida.
O Wargal saudou seu chefe com um punho levan-tado no lado esquerdo do peito e grunhiu um comando aos seus homens. Eles cercaram o grupo dos escandina-vos. Os quatro lobos do mar agora formavam um peque-no círculo e olhavam para fora, mantendo Will e Evanlyn no centro. Prontos para o ataque, eles seguravam as ar-mas. A situação estava equilibrada e obviamente eles esta-vam preparados para lutar até a morte.
— Vamos resolver isso mais tarde, Erak — Mor-garath repetiu. — Tente escapar e meus homens vão cor-tar vocês em pedaços.
Virando o cavalo, ele galopou entre a multidão ou-tra vez, espalhando soldados em seu caminho, pisoteando os que eram lentos demais para sair dele. A voz fina e na-salada continuou gritando ordens para suas forças até de-saparecer.

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