sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 23 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

A dor de cabeça de Will era insuportável. Ele ouvia um ruído surdo constante e rítmico que atravessava seu crânio e disparava clarões atrás dos olhos firmemente fechados.
O garoto se obrigou a abrir os olhos e viu um cole-te de pele de carneiro e a parte de trás de uma calça de lã amarrada com tiras de couro. O mundo estava de cabeça para baixo, e ele percebeu que estava sendo carregado no ombro de alguém. O ruído surdo era provocado pelos pés do homem enquanto corria. Will gostaria que ele andasse.
O aprendiz gemeu alto e o homem parou de correr.
— Erak! — o escandinavo que o carregava gritou. — Ele acordou.
E, dizendo isso, o escandinavo o abaixou até o chão. Will tentou dar um passo, mas seus joelhos fraque-jaram, e ele teve que se agachar. Erak, o líder do grupo, se inclinou e o examinou. Um polegar grosso encostou em sua pálpebra, e Will sentiu o olho ser aberto. O homem não era cruel, mas também não foi muito gentil. Will o reconheceu como o escandinavo que tinha estado muito
perto de descobri-lo quando ouvia a conversa junto da fogueira no vale.
— Hum — ele resmungou pensativo. — Parece que é uma concussão. Aquele arremesso de pedra foi muito bom, Nordel — ele disse para um dos outros.
O escandinavo com quem ele falou, um gigante de cabelos loiros arrumados em duas tranças apertadas e en-gorduradas que ficavam espetadas para o alto como chi-fres, sorriu com o elogio.
— Cresci caçando focas e pinguins desse jeito — ele contou com alguma satisfação.
Erak soltou a pálpebra de Will e se afastou. Então o menino sentiu um toque mais suave no rosto e, abrindo os olhos outra vez, viu-se olhando para o rosto de Evanlyn. Ela acariciou sua testa gentilmente, tentando limpar o sangue seco que estava grudado ali.
— Você está bem? — ela perguntou, e ele fez que sim e percebeu na mesma hora que não tinha sido uma boa resposta.
— Ótimo — ele conseguiu dizer lutando contra uma onda de náusea. — Eles também pegaram você? — acrescentou desnecessariamente, e ela assentiu. — Hora-ce? — perguntou devagar, e Evanlyn pôs um dedo sobre os lábios.
— Ele fugiu — ela disse baixinho. — Eu o vi cor-rendo quando a ponte caiu.
— Então nós conseguimos? Derrubamos a ponte? — Will perguntou suspirando aliviado.
Agora era a vez de Evanlyn concordar. Ela até sor-riu ao se lembrar da ponte desabando nas profundezas da fenda.
— Ela se foi. Totalmente.
Erak ouviu as últimas palavras e olhou para eles.
— E vocês não vão receber agradecimentos de Morgarath por isso — falou.
Will sentiu um calafrio de medo ao ouvir o nome do Senhor da Chuva e da Noite. Ali no planalto, ele pare-cia ainda mais ameaçador, perigoso e perverso. O escan-dinavo olhou para o sol.
— Vamos fazer uma pausa — ele disse. — Talvez o seu amigo esteja disposto a andar daqui a uma hora.
Os escandinavos abriram as sacolas e tiraram co-mida e bebida. Jogaram uma garrafa de água e um peque-no pão para Will e Evanlyn, e os dois comeram com von-tade. Evanlyn começou a dizer alguma coisa, mas Will le-vantou a mão para que ficasse em silêncio. Ele estava ou-vindo a conversa dos escandinavos.
— Então, o que vamos fazer agora? — perguntou o homem chamado Nordel.
Erak mastigou um pedaço de bacalhau seco, engo-liu-o com um gole da bebida forte que carregava num cantil de couro e deu de ombros.
— Por mim, nós sairíamos daqui o mais depressa possível — o outro respondeu. — Só viemos por causa do prêmio, e ele não vai ser grande agora que a ponte não existe mais.
— Morgarath não vai gostar se formos embora — avisou um membro baixo e forte do grupo.
Erak simplesmente deu de ombros.
— Horak, não estou aqui para ajudar Morgarath a conquistar Araluen — ele respondeu. — Nem você. Lu-tamos pelo dinheiro e, quando tem algum para ser ganho, nós vamos.
Horak olhou para o chão entre os pés e rabiscou na poeira com os dedos. Ele não olhou para cima quando falou outra vez.
— E esses dois? — ele quis saber, e Will ouviu Evanlyn respirar fundo quando percebeu que o escandi-navo falava deles.
— Vão com a gente — Erak retrucou e, desta vez, Horak tirou os olhos do chão.
— Que bem eles vão fazer para a gente? Por que simplesmente não entregamos eles aos Wargals? — ele perguntou, e os outros concordaram com murmúrios.
Evidentemente, era uma pergunta que estava na mente de todos, e eles só esperavam que alguém tocasse no assunto.
— Eu vou lhe dizer — Erak começou. — Eu vou lhe dizer o bem que vão fazer para a gente. Em primeiro lugar, eles são reféns, certo?
— Reféns! — resmungou o quarto membro do grupo, que não tinha falado até aquele momento.
Erak se virou para encará-lo.
— Isso mesmo, Svengal — ele confirmou. — São reféns. Eu participei de mais ataques e campanhas que qualquer um de vocês e não gosto do que está aconte-cendo com este. Parece que Morgarath está ficando es-perto demais, todo esse vazamento de planos falsos, e construção de túneis secretos, e planejamento de ata-ques-surpresa com Horth e seus homens vindo pela Flo-resta Thorntree é complicado demais. E, quando se en-frentam pessoas como os araluenses, nada se pode ser complicado.
— Horth ainda pode atacar pelo lado de Thorntree — Svengal disse teimoso, mas Erak balançou a cabeça negativamente.
— Ele pode. Mas não vai saber que a ponte não existe mais, vai? Vai esperar um apoio que nunca chegará. E tenho a impressão de que Morgarath não está com pressa de contar isso para ele, pois sabe que Horth iria de-sistir se descobrisse. Escute o que estou dizendo: essa ba-talha vai ser resolvida na sorte. Esse é o problema com planos inteligentes! Se faltar um elemento, toda a coisa pode desabar.
Houve um curto silêncio. Os outros escandinavos pensavam sobre o que o colega tinha dito. Alguns con-cordaram com um gesto, e Erak continuou.
— Vou lhes dizer, rapazes, não gosto do rumo que as coisas estão tomando e digo que devemos aproveitar a oportunidade de chegar até os navios de Horth pelo pan-tanal.
— Por que não voltar pelo caminho pelo qual vie-mos? — Svengal perguntou, mas seu líder balançou a ca-beça com ênfase.
— E tentar descer esses penhascos outra vez com Morgarath atrás de nós? Não, obrigado. Não acho que ele trataria desertores com delicadeza. Vamos ficar com ele até o Desfiladeiro dos Três Passos e depois, quando esti-vermos em terreno aberto, vamos para a costa leste.
Ele fez uma pausa para que todos assimilassem suas palavras.
— E vamos ter esses dois reféns no caso de os a-raluenses tentarem nos parar — acrescentou.
— Mas são crianças! — Nordel ajuntou irônico. — Que utilidade têm como reféns?
— Você não viu o amuleto em forma de folha de carvalho que o garoto está usando? — Erak perguntou e, instintivamente, a mão de Will foi até o cordão pendurado no pescoço. — Esse é o símbolo dos arqueiros. O garoto é um deles. Talvez algum tipo de aprendiz.
— E a menina? — Svengal perguntou. — Ela não é arqueira.
— É verdade — Erak concordou. — É só uma menina. Mas não vou entregar nenhuma garota para os Wargals. Vocês viram como eles são. Essas criaturas são piores do que animais. Não. Ela vem com a gente.
Houve outro momento de silêncio.
— Acho justo — Horak concordou finalmente.
Erak olhou para os demais e viu que Horak tinha falado em nome de todos. Os escandinavos eram guerrei-ros e homens duros, mas não totalmente desumanos.
— Bom — ele disse. — Agora vamos pegar a es-trada outra vez.
Ele se levantou e andou até Will e Evanlyn, en-quanto os outros escandinavos guardavam o que tinha sobrado da breve refeição.
— Você consegue andar? — ele perguntou para Will. — Ou Nordel vai ter que carregar você de novo?
Will corou de irritação e se levantou depressa, mas no mesmo instante desejou ter ficado sentado. O chão os-cilou e a cabeça dele girou. O garoto cambaleou e somen-te a mão firme de Evanlyn em seu braço evitou que caísse. Mas estava determinado a não mostrar fraqueza na frente de seus captores. Endireitou o corpo e lançou para Erak um olhar desafiador.
— Vou andar — ele conseguiu dizer, e o grande escandinavo o analisou por um momento com um olhar avaliador.
— Sim — ele disse finalmente. — Tenho certeza que vai.

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