sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 22 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

Gilan observou impaciente a companhia de cavaleiros montar de novo após uma pausa de quinze minutos. Ele estava ansioso para partir, mas sabia que tanto os cavalos quanto os homens precisavam descansar se quisessem continuar no ritmo acelerado que tinha determinado. Já haviam viajado um dia e meio, e ele calculou que iriam encontrar o grupo de Will em algum momento do começo da tarde.
Depois de verificar se todos os homens tinham montado, ele se virou para o capitão ao seu lado.
— Tudo bem, capitão — ele disse. — Vamos an-dando.
O capitão tinha respirado fundo para proferir a or-dem quando ouviu um chamado da tropa que ia à frente.
— Cavaleiro se aproximando!
Um burburinho de expectativa correu entre os ca-valeiros. A maioria não sabia qual era a missão. Eles ti-nham sido tirados da cama ao amanhecer e recebido or-dem de montar e cavalgar. Gilan estava em pé nos estri-bos, protegendo os olhos com a mão da claridade do
meio-dia, e espiava na direção que o soldado tinha indi-cado.
Eles ainda não tinham chegado à fronteira celta, e ali a região era aberta, coberta somente de grama e bos-ques ocasionais. Os olhos de Gilan conseguiram enxergar uma pequena nuvem de poeira a sudoeste provocada por uma figura que vinha se aproximando a galope.
— Seja lá quem for, está com pressa — o capitão observou.
E então o soldado que estava à frente gritou mais informações.
— Três cavaleiros! — ele disse.
Mas Gilan já podia ver que a informação não era totalmente correta. Havia três cavalos, mas somente um cavaleiro. Uma sensação de desânimo lhe apertou o peito.
— Devemos mandar alguém interceptar eles? — o capitão perguntou.
Em tempos como aqueles, nem sempre era acon-selhável permitir que um estranho se aproximasse naquela velocidade. Mas agora que o cavaleiro estava mais perto Gilan o reconheceu. Mais exatamente, reconheceu um dos cavalos: pequeno, desgrenhado, peito largo. Era Puxão, o cavalo de Will. Mas não era Will que o montava.
A tropa de comando já tinha se espalhado para pa-rar o cavaleiro.
— Diga a eles para deixar o cavaleiro passar — Gi-lan disse em voz baixa ao capitão.
O capitão repetiu a ordem em voz bem mais alta, e os soldados se separaram, deixando um espaço para Ho-race. Ele viu o pequeno grupo de homens ao redor da bandeira da companhia e se dirigiu até eles, fazendo o pe-queno cavalo de arqueiro parar na frente dela. Os outros cavalos, que Gilan agora reconhecia como o de Horace e o pônei de carga que Evanlyn tinha montado, estavam seguindo Puxão presos a uma corda.
— Eles pegaram Will! — o garoto gritou com voz rouca reconhecendo Gilan entre o grupo de soldados. — Eles pegaram Will e Evanlyn!
Gilan fechou os olhos brevemente sentindo uma pontada de dor no coração.
— Wargals? — ele perguntou já sabendo a respos-ta.
— Escandinavos! — o rapaz respondeu. — Eles pegaram os dois na ponte. Eles...
Gilan teve um sobressalto quando ouviu essa pala-vra.
— Ponte? — ele indagou ansioso. — Que ponte?
Horace respirava com dificuldade por causa do es-forço. Ele tinha trocado de cavalo, passando de um para outro, mas sem descansar em nenhum momento. Então, percebendo que devia começar pelo início ele parou para recuperar o fôlego.
— Sobre a fenda — ele contou. — Foi por isso que Morgarath sequestrou os celtas. Eles estavam construindo
uma ponte enorme para ele atravessar seu exército. Já es-tava quase terminada quando chegamos lá.
O capitão, ao lado de Gilan, tinha empalidecido.
— Você quer dizer que há uma ponte atravessando a fenda? — ele indagou.
As implicações desse fato eram terríveis.
— Não mais — Horace retrucou com a respiração mais tranquila e a voz um pouco mais controlada. — Will queimou ela. Will e Evanlyn. Mas eles ficaram do outro lado para manter os escandinavos afastados e...
— Escandinavos! — Gilan interrompeu. — Que diabos os escandinavos estão fazendo no planalto?
— Eles são um grupo de reconhecimento para uma força que está subindo pelos Penhascos do Sul — Horace contou e fez um gesto impaciente por causa da interrup-ção. — Os escandinavos iam juntar forças com os War-gals, cruzar a ponte e atacar o exército pela retaguarda.
Os soldados da cavalaria trocaram olhares. Todos imaginavam o quanto esse ataque poderia ser desastroso para as forças do rei.
— Felizmente a ponte não existe mais — disse um tenente. Horace lançou seu olhar atormentado para o ofi-cial, um jovem apenas poucos anos mais velho do que ele.
— Mas eles pegaram Will! — gritou, e seus olhos se encheram de lágrimas ao lembrar como tinha visto o a-migo ser derrubado e levado embora.
— E a garota — Gilan acrescentou, mas Horace não deu importância a isso.
— Sim! Claro que pegaram ela! — o garoto reafir-mou. — E sinto que ela tenha sido apanhada, mas Will é meu amigo!
— Você sente que ela tenha sido apanhada? Você sabe quem... — o capitão interrompeu indignado, pois era um dos poucos que conhecia a verdadeira natureza de sua missão.
Mas Gilan o impediu antes que pudesse falar mais:
— Já basta, capitão! — replicou com irritação. O oficial olhou para ele zangado, Gilan se inclinou para a frente e falou para que só ele ouvisse.
— Quanto menos pessoas souberem o nome da garota agora, melhor — ele disse, e uma expressão de en-tendimento surgiu no rosto do capitão.
Se Morgarath soubesse que seus homens tinham a filha do rei como refém, ele teria uma moeda valiosa com que barganhar.
— Horace, eles podem consertar essa ponte? — Gilan perguntou virando-se novamente para o jovem.
O rapaz negou com veemência. Ele estava arrasado com a perda do amigo, mas o orgulho pelo feito de Will era evidente.
— De jeito nenhum — afirmou. — Ela foi total-mente destruída. Will garantiu que nada ficasse do outro lado. É por isso que foi pego. Ele queria ter certeza de que tinha destruído ela por completo.
Ele parou e continuou.
— Talvez eles consigam fazer uma pequena ponte de corda, é claro.
Isso fez Gilan tomar uma decisão. Ele se virou para o capitão.
— Capitão, continue com a companhia e se certi-fique de que nenhum tipo de ponte seja colocado sobre a fenda. Não queremos que nenhuma força de Morgarath atravesse, por menor que seja. Faça que Horace lhe mos-tre o local num mapa. Defenda o lado oeste da fenda até ser substituído e envie patrulhas para localizar outros pos-síveis pontos de travessia. Não vai haver muitos — ele ajuntou. — Horace, você vem comigo falar com o rei. Agora.
Ele parou abruptamente ao perceber que Horace estava esperando uma oportunidade para falar algo, então fez um gesto para que o garoto continuasse.
— Os escandinavos — Horace falou. — Eles não estão só no planalto. Também estão enviando uma força para o norte da Floresta Thorntree.
Houve outra série de murmúrios quando os oficiais perceberam como seu exército tinha estado perto do de-sastre. Duas forças inesperadas atacando pela retaguarda teriam deixado os homens do rei em situação muito difícil.
— Você tem certeza disso? — Gilan perguntou, e Horace assentiu várias vezes.
— Will ouviu uma conversa do inimigo. As forças deles no litoral e no pantanal são apenas artifícios. O pla-no era realizar o verdadeiro ataque por trás.
— Então não temos nenhum momento a perder — Gilan repetiu. — Essa força no noroeste ainda pode re-presentar um problema se o rei não souber a respeito.
Ele se virou para o comandante da companhia.
— Capitão, você já recebeu suas ordens. Leve seus homens até a fenda o mais rápido possível.
O capitão saudou Gilan brevemente e proferiu al-gumas ordens firmes para seus homens. Eles saíram a ga-lope ao encontro de suas tropas e, depois de uma rápida conferência enquanto Horace mostrava o local da ponte caída num mapa da área, toda a companhia se pôs a ca-minho dirigindo-se em passo rápido para a fenda.
— Vamos — Gilan disse simplesmente virando-se para Horace. Cansado, o jovem guerreiro concordou e montou o próprio cavalo.
Puxão hesitou, batendo a pata no chão enquanto via a cavalaria se afastar de volta para onde tinha visto seu dono pela última vez. O cavalo deu alguns passos incertos atrás da tropa e então, a um comando de Gilan, relutan-temente se colocou atrás do alto arqueiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário