sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 20 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

Gilan desviou o olhar do rosto torturado de seu rei. To-dos no pavilhão podiam ver a dor que Duncan sentiu ao saber que a filha tinha sido morta pelos Wargals de Mor-garath. Gilan olhou para os outros homens à procura de algum tipo de apoio e viu que nenhum deles conseguia enfrentar o olhar do monarca.
Duncan se levantou da cadeira, andou até a entrada da barraca e ficou olhando para o sudoeste como se pu-desse, de alguma forma, ver a filha ao longe.
— Cassandra foi visitar Céltica há oito semanas — ele contou. — Ela é uma grande amiga da princesa Ma-delydd. Quando toda essa história com Morgarath come-çou, pensei que ela estaria em segurança ali. Não vi moti-vos para trazê-la de volta.
Ele se afastou da porta e olhou nos olhos de Gilan.
— Conte. Conte tudo o que sabe...
— Meu senhor... — Gilan balbuciou raciocinando, Ele sabia que teria que contar o máximo possível ao rei. Mas também queria evitar um sofrimento desnecessário para ele.
— A garota nos viu e se aproximou. Ela reconhe-ceu Will e a mim como arqueiros. Aparentemente, conse-guiu escapar quando os Wargals atacaram seu grupo. Ela disse que os outros foram... — Ele hesitou, pois não con-seguia continuar.
— Continue — Duncan pediu com a voz firme.
— Ela disse que os Wargals mataram eles, meu se-nhor. Todos eles — Gilan terminou apressado.
De alguma forma, sentiu que seria mais fácil se contasse tudo depressa.
— Ela não queria contar detalhes, pois estava e-xausta, mental e fisicamente.
— Pobre garota — Duncan murmurou. — Deve ter sido uma coisa terrível de ver. Ela é uma boa criada. Na verdade, era mais uma amiga de Cassandra — ele a-crescentou com suavidade.
Gilan sentiu necessidade de continuar falando com o rei, de dar a ele todos os detalhes possíveis sobre a per-da da filha.
— Primeiro, quase a confundimos com um garoto — ele disse lembrando-se do momento em que Evanlyn se aproximou do acampamento.
Duncan olhou para cima com a expressão confusa.
— Um garoto? — ele repetiu. — Com todos aque-les cabelos ruivos?
— Eles estavam bem curtos — Gilan informou dando de ombros. — Provavelmente para disfarçar sua
aparência. As colinas celtas estão cheias de bandidos e la-drões nesse momento. E também de Wargals.
Ele percebeu que alguma coisa estava errada. Esta-va muito cansado, ansioso por uma cama, e seu cérebro não funcionava direito. Mas o rei tinha dito alguma coisa que não encaixava. Alguma coisa que...
Ele balançou a cabeça, tentando refletir, e vacilou sobre os pés exaustos, satisfeito por ter o braço firme de Halt para apoiá-lo. Ao ver o movimento, Duncan se des-culpou de imediato.
— Arqueiro Gilan — ele disse se aproximando e tomando a mão do rapaz —, perdoe-me. Você está e-xausto e o mantive aqui por causa de minha tristeza. Por favor, Halt, providencie comida e cama para Gilan.
— Blaze...
Gilan começou a dizer, pois se lembrou de seu ca-valo cansado e coberto de poeira, parado do lado de fora da barraca.
— Está tudo bem — Halt respondeu. — Vou cui-dar de Blaze.
Halt olhou para o rei mais uma vez e fez um gesto de cabeça na direção de Gilan.
— Com sua permissão, majestade.
Duncan fez sinal para que os dois saíssem.
— Sim, por favor, Halt. Cuide de seu camarada. Ele nos prestou um grande serviço.
Quando os dois arqueiros deixaram a barraca, Duncan se virou para seus conselheiros.
— Agora, senhores, vamos ver se podemos com-preender esse último movimento de Morgarath.
O barão Thorn olhou rapidamente para os outros, procurando e conseguindo sua aprovação para ser o por-ta-voz de todos.
— Meu senhor — ele disse sem jeito —, talvez a gente deva lhe dar algum tempo para assimilar as últimas notícias...
Os demais conselheiros murmuraram, concordando com a ideia, mas Duncan balançou a cabeça com firmeza.
— Eu sou o rei — ele disse simplesmente. — E, para o rei, assuntos particulares vêm em último lugar. Questões do reino vêm em primeiro.
— Apagou! — Horace exclamou extremamente desapontado.
Os três olharam na mesma direção, esperando de-sesperadamente que ele estivesse errado, que seus olhos o estivessem enganando de alguma maneira. Mas ele tinha razão. O fogo debaixo do poste da esquerda tinha se transformado num pequeno amontoado de brasas.
Em comparação, o outro lado estava bem aceso, e o fogo subia vigorosamente pelas cordas cobertas de pi-che até o grosso cabo que sustentava o lado direito da ponte. De fato, uma das três cordas que formavam o cabo
se queimou, e o lado direito da ponte rangeu assustado-ramente.
— Talvez um lado seja suficiente — Evanlyn suge-riu esperançosa, mas Will balançou a cabeça frustrado, desejando que a segunda fogueira ganhasse nova força.
— O poste da direita está danificado, mas ainda pode ser usado — ele ressaltou. — Se o lado esquerdo re-sistir, eles ainda poderão atravessar para este lado. E, se fizerem isso, poderão consertar toda a ponte antes de avi-sarmos o rei Duncan.
Com determinação, ele pendurou o arco sobre o ombro e começou a atravessar a ponte outra vez.
— Aonde você vai? — Horace perguntou olhando temeroso para a estrutura.
A ponte tinha ficado bem inclinada para um dos lados depois que o cabo da direita tinha se queimado. Depois que Horace fez a pergunta, a estrutura estremeceu de novo, inclinando-se um pouco mais para o fundo do abismo.
Will parou, equilibrado na viga estreita que se es-tendia de um lado a outro do precipício.
— Vou ter que contar com a sorte — ele disse. — Temos que ter certeza de que não vai restar nada que possam salvar.
E, dizendo isso, correu para o outro lado. Horace ficou enjoado só de vê-lo se movimentar tão depressa por cima daquele abismo tão fundo sem nada além de uma viga estreita debaixo dele. Numa impaciência febril, os
outros dois colegas viram Will se agachar perto das brasas. Ele começou a abaná-las e se inclinou para assoprar, até que uma pequena língua de fogo estremeceu na pilha de madeira não queimada.
— Ele conseguiu! — Evanlyn exclamou, mas o triunfo em sua voz desapareceu quando a chama se apa-gou.
Novamente, Will se inclinou e começou a soprar as brasas suavemente. O cabo do lado direito cedeu mais um pouco, e a ponte vacilou, afundando mais para aquele la-do.
— Vamos! Vamos! — Horace dizia repetidas vezes para si mesmo, apertando as mãos uma na outra enquanto observava o amigo.
Então Puxão relinchou baixinho.
Horace e Evanlyn se viraram para olhar o pequeno cavalo. Eles não teriam reagido se tivesse sido uma de su-as montarias, mas sabiam que Puxão era treinado para fi-car em silêncio, a menos que...
A menos que...! Horace olhou para onde Will esta-va agachado sobre o que restava do fogo. Evidentemente, ele não tinha ouvido o aviso do animal. Evanlyn puxou o braço de Horace e apontou.
— Olhe! — ela disse, e o garoto seguiu a ponta do dedo da garota até a entrada do túnel, onde uma luz co-meçava a aparecer.
Alguém se aproximava! Puxão bateu a pata no chão e relinchou novamente, um pouco mais alto desta vez,
mas Will, perto do barulho do fogo que queimava o cabo da direita, não escutou. Evanlyn tomou uma decisão.
— Fique aqui! — ela ordenou a Horace e começou a atravessar a viga de madeira.
Com o coração aos pulos, caminhou com cuidado enquanto a estrutura enfraquecida da ponte balançava e estremecia. Debaixo dela, havia a escuridão e, bem no fundo, o brilho prateado do rio que corria velozmente pe-la base da fenda. Ela balançou, recuperou-se e continuou. A passarela estava só a 8 metros de distância. Depois 5. E depois 3.
A ponte oscilou outra vez, e a menina ficou parada por um tenebroso momento, com os braços estendidos para manter o equilíbrio, balançando sobre o terrível a-bismo. Atrás dela, ouviu o grito de aviso de Horace. Res-pirando fundo, disparou para a segurança da passarela de tábuas, caindo de comprido no chão áspero de pinho da ponte.
Muito assustada por quase ter caído, ela se levantou e correu. Quando se aproximou, Will percebeu o movi-mento e olhou para cima. Sem Fôlego, ela apontou para a entrada do túnel.
— Eles estão vindo! — ela gritou.
Naquele momento, quando o pequeno grupo de figuras apareceu, os dois perceberam que a luz refletida do interior do túnel vinha do brilho de várias tochas acesas. Elas pararam na entrada, apontando e gritando quando viram as chamas que se elevavam bem acima da ponte.
Evanlyn contou seis e, por causa do modo de andar vaci-lante e desajeitado, ela reconheceu os Wargals.
As criaturas começaram a correr na direção da ponte. Estavam a mais de 50 metros de distância, mas co-briam o trecho rapidamente. E, com certeza, outros deve-riam estar vindo atrás deles.
— Vamos sair daqui! — ela disse agarrando a manga da camisa de Will.
Mas ele se soltou da mão dela com sua expressão sombria. Ele apanhou o arco e a aljava, pendurou-a no ombro e verificou se a corda estava bem presa no arco.
— Volte! — ele ordenou. — Eu vou ficar e manter eles para trás.
Quase ao mesmo tempo em que falou, Will ajustou uma flecha na corda e, praticamente sem mirar, atirou na direção do líder. A flecha o acertou no peito, e o Wargal caiu com um grito, ficando depois em silêncio.
Seus companheiros pararam imediatamente ao ver a flecha. Eles olharam ao redor cautelosos, tentando desco-brir de onde ela tinha vindo. Sua mente estreita e primitiva lhes dizia que talvez aquilo fosse uma armadilha. De onde estavam, não podiam ver o pequeno vulto no fim da pon-te. E, no momento em que olharam, outras três flechas atravessaram assobiando a escuridão. As pontas de aço de duas delas soltaram faíscas quando bateram contra as ro-chas. A terceira atingiu o braço de um dos Wargals que se encontrava atrás do grupo. Ele gritou de dor e caiu de jo-elhos.
Os Wargals hesitaram sem saber o que fazer. Quando viram a luz e a fumaça provocadas pelo fogo a-cima da colina que separava a área do acampamento da ponte, eles tinham vindo investigar. Agora, arqueiros invi-síveis os estavam atacando. Tomando uma decisão, e sem ninguém para mandá-los avançar, recuaram rapidamente para o abrigo da entrada do túnel.
— Eles estão voltando! — Evanlyn contou a Will. Mas ele já tinha visto o movimento e estava novamente de joelhos, tentando freneticamente reacender o fogo.
— Vamos ter que arrumar tudo de novo! — ele murmurou. Evanlyn se ajoelhou do lado dele e começou a ajeitar as tiras de madeira e os pedaços maiores, formando uma pira em forma de cone.
— Fique de olho nos Wargals, eu cuido do fogo — ela disse.
Will hesitou. Afinal, aquele era o fogo que ela tinha acendido. Será que tinha feito um bom trabalho? Então ele olhou para a entrada do túnel e viu movimento outra vez. Percebendo que a menina tinha razão, apanhou o ar-co e foi se esconder atrás de umas rochas próximas, mas Evanlyn o interrompeu.
— A sua faca! — ela pediu. — Deixe-a comigo.
Will não perguntou nada. Tirou a faca do estojo, deixou-a cair na tábua ao lado da menina e foi até as pe-dras. Ao sair da ponte, ele a sentiu tremer novamente quando o cabo da direita cedeu mais um pouco. Silencio-
samente, amaldiçoou o capricho do vento que tinha au-mentado uma das fogueiras e apagado a outra.
Encorajados pela falta de flechas assobiando nos últimos minutos, os quatro Wargals restantes saíram do túnel novamente e avançaram cuidadosamente. Sem uma verdadeira liderança inteligente e com uma falsa sensação de superioridade, eles ficaram agrupados, tornando-se um alvo fácil. Will atirou três vezes, mirando com bastante cuidado.
Cada tiro atingiu o alvo. O Wargal sobrevivente olhou para os camaradas feridos e se arrastou para o es-conderijo oferecido pelas rochas. Will atirou outra flecha no granito exatamente acima de sua cabeça para encora-já-lo a ficar onde estava.
O garoto examinou a aljava. Ainda restavam 16 flechas. Não era muito, se os Wargals tinham pedido re-forços. Ele olhou para Evanlyn. Seus esforços para reavi-var o fogo pareciam enlouquecedoramente lentos. Ele queria gritar para que ela se apressasse, mas percebeu que só iria distraí-la e retardá-la. Will olhou novamente para o túnel.
Mais quatro vultos surgiram correndo e se sepa-rando para não serem pegos juntos. Will ergueu o arco, mirou e atirou no que estava mais longe, à direita. Ele soltou um pequeno grito de desespero quando a flecha voou para trás da figura que corria e logo desapareceu a-trás das pedras.
Agradecendo os meses de treinamento a que Halt o tinha submetido, Will já havia tirado outra flecha da aljava e se preparava para atirar mesmo sem olhar para ela. Mas os outros três vultos também tinham desaparecido.
Naquele momento, um deles se ergueu e disparou para a frente. O tiro sem pontaria de Will cortou o ar aci-ma da cabeça do alvo no momento em que ele se escon-deu. Logo, outro se moveu para a esquerda, mergulhando num esconderijo antes que Will pudesse atirar. Os inimi-gos corriam rapidamente, e Will se esforçou para respirar fundo e se acalmar. Seu coração martelava dentro do pei-to. Ele se lembrou da última vez, apenas algumas semanas antes, em que o medo o fizera errar o alvo. Seu rosto fi-cou com uma expressão dura quando ele decidiu que isso não aconteceria de novo.
— Fique calmo — ele falou para si mesmo, ten-tando ouvir a voz de Halt dizendo essas palavras.
Outro vulto deu uma breve corrida e, desta vez, quando a luz do fogo o iluminou melhor, os olhos de Will confirmaram o que ele tinha começado a suspeitar.
Os recém-chegados não eram Wargals. Eram es-candinavos.

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