sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 19 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

Não havia tempo para colocar o plano em ação naquela noite. O sol ia nascer dali a menos de uma hora. Num de-terminado momento, Will tinha sugerido que Horace e Evanlyn o deixassem para trás cuidando da ponte e fos-sem levar as notícias a Araluen. Mas Horace tinha recusa-do.
— Se formos agora, não vamos saber se você teve êxito. Então, o que vamos dizer ao rei? Que existe uma ponte ou não? — ele argumentou com outro exemplo do sólido bom senso que tinha se tornado parte de seu racio-cínio. — E, além disso, destruir uma ponte desse tamanho pode ser uma tarefa um pouco maior do que você conse-gue enfrentar sozinho... até mesmo um arqueiro famoso como você.
Ele sorriu quando disse essas últimas palavras para que o amigo soubesse que não queria ofendê-lo. Will concordou com tal opinião, pois, secretamente, estava sa-tisfeito de ter os dois com ele. Também acreditava que talvez não fosse capaz de realizar a tarefa sozinho.
Eles tiveram um sono agitado até o amanhecer e finalmente foram acordados pelos sons dos gritos e chi-cotadas dos Wargals que levavam os mineiros de volta à tarefa de terminar a ponte. Durante todo o dia, eles ob-servaram assustados a passagem se aproximar cada vez mais do lado da ravina onde estavam escondidos. Com uma sensação de desânimo, Will se deu conta de que o cálculo feito pelo mineiro agonizante não era confiável. Talvez os escravos adicionais fossem o motivo, mas era óbvio que a ponte estaria pronta no fim do dia seguinte.
— Temos que agir hoje à noite.
Will sussurrou as palavras na orelha de Evanlyn. Os dois estavam deitados de bruços sobre as pedras e obser-vavam o local da construção. Horace estava distante al-guns metros, cochilando calmamente debaixo do frio sol da manhã. A garota mudou de posição para que sua boca ficasse mais perto da orelha do jovem arqueiro e sussur-rou de volta.
— Andei pensando... como vamos começar esse fogo? Aqui não há lenha suficiente nem para uma fogueira decente.
A mesma pergunta tinha invadido a mente de Will durante a noite. Mas a resposta também tinha surgido. Ele sorriu tranquilamente enquanto observava um grupo de mineiros celtas martelando tábuas de pinho sobre a estru-tura da ponte para formar a passarela.
— Há bastante lenha aqui — ele respondeu. — Se você souber onde procurar.
Evanlyn olhou para ele confusa e então seguiu seu olhar. A expressão preocupada desapareceu de seu rosto, e ela sorriu devagar.
Quando a noite caiu, os Wargals reuniram seus es-cravos cansados e famintos na ponte e os levaram para o túnel. Will percebeu que no fim da tarde o trabalho de a-largamento do túnel parecia ter sido completado, Eles es-peraram mais uma hora até que estivesse totalmente es-curo. Durante esse tempo, não houve nenhum sinal de atividade no local. Agora que sabiam onde procurar, po-diam ver a luz do fogo vindo do vale no outro lado do túnel que se refletia nas nuvens baixas empurradas pelo vento.
— Espero que não chova — Horace disse de re-pente. — Isso levaria nossa ideia por água abaixo.
Will parou de andar e olhou para ele depressa. A-quele pensamento desagradável não lhe tinha ocorrido.
— Não vai chover — ele disse com firmeza na es-perança de ter razão.
Continuou a andar, conduzindo Puxão com delica-deza para a extremidade inacabada da ponte. O pequeno cavalo parou ali com as orelhas em pé e as narinas estre-mecendo com os cheiros do ar noturno.
— Alerta!
Will falou com suavidade para o cavalo a palavra de comando que lhe dizia para avisar caso sentisse a aproxi-mação do perigo. Puxão balançou a cabeça uma vez mos-trando que tinha entendido. Em seguida, e andando com
cuidado ao cruzar as vigas estreitas acima do precipício assustador, Will abriu caminho na direção da estrutura da ponte onde a passarela tinha sido completada. Horace e Evanlyn o seguiram com mais cuidado. Mas naquela noite, para alívio de Horace, a distância a atravessar antes de chegar à superfície firme e segura da ponte terminada era menor. Ele percebeu que Will tinha razão. No dia seguin-te, a ponte estaria acabada.
Will desprendeu o arco e a aljava e os colocou nas tábuas. Em seguida, tirou a faca do estojo e, caindo de jo-elhos, começou a levantar as tábuas mais próximas na passarela da ponte. Elas eram de pinho macio e tinham sido serradas grosseiramente, portanto eram perfeitas para acender um fogo.
Horace empunhou a adaga e começou a levantar as tábuas na fileira seguinte. À medida que eles as soltavam, Evanlyn as colocava de lado, formando uma pilha. Quando juntou seis tábuas com 1 metro de comprimento cada, ela as pegou, correu rapidamente para o extremo oposto da ponte e as empilhou do outro lado da fenda, perto de onde os imensos cabos cobertos de piche esta-vam amarrados a postes de madeira. Ao voltar, Will e Horace já tinham removido outras seis. Estas foram leva-das para o outro cabo.
Will tinha explicado seu plano um pouco antes na-quele dia. Para garantir que não restasse nenhuma estru-tura do outro lado, eles precisariam queimar totalmente os dois cabos e postes naquela extremidade, deixando a pon-
te cair nas profundidades da fenda. Os Wargals talvez pu-dessem cobrir a fenda com uma pequena ponte de corda provisória, mas nada forte o bastante para permitir que tropas numerosas atravessassem em pouco tempo.
Depois de queimar a ponte, eles iriam a toda velo-cidade alertar o exército do rei sobre a ameaça no sul. Se um número reduzido de Wargals atravessasse a fenda, poderia ser enfrentado com facilidade pelas tropas do reino.
Os dois garotos continuaram a soltar as tábuas. Evanlyn não parou com suas idas e vindas pela ponte até que as pilhas junto de cada poste ficaram bem altas. Ape-sar da noite fria, os dois garotos estavam suando intensa-mente por causa do esforço. Finalmente, Evanlyn colocou a mão no ombro de Will quando ele soltou uma tábua e começou imediatamente a trabalhar em outra.
— Acho que é suficiente — ela disse simplesmente, ele parou e enxugou a testa com as costas da mão esquer-da.
Ela fez um gesto na direção da outra extremidade da ponte, onde havia pelo menos vinte tábuas empilhadas em cada lado da estrada. Ele tentou se livrar da dor na nuca virando a cabeça de um lado para outro e então se levantou.
— Você tem razão — ele concordou. — Isso deve ser suficiente para fazer o resto queimar.
Com um sinal para que os outros o seguissem, Will pegou o arco e a aljava e foi para o outro lado da ponte.
Ele olhou com atenção para as duas pilhas de madeira por alguns momentos.
— Precisamos acender esse fogo — ele disse o-lhando ao redor para ver se havia pequenas árvores ou arbustos que pudessem fornecer galhos para começar o fogo.
Mas ele não viu nada. Horace estendeu a mão pe-dindo a faca de Will.
— Empreste isso por um instante — ele pediu, e Will entregou a arma para o amigo.
Horace testou o equilíbrio da faca pesada por um momento. Então, pegou uma das tábuas compridas, ficou de pé sobre uma de suas extremidades e, com alguns gol-pes surpreendentemente rápidos, cortou-a em uma dezena de tiras finas.
— Não é a mesma coisa que praticar com a espada — ele riu para os outros dois — mas é bem parecido.
Enquanto Will e Evanlyn formavam duas pequenas piras com os finos pedaços de pinho, Horace pegou outra tábua e trabalhou com mais cuidado, escavando finos ro-los de pinho para queimarem com as primeiras faíscas da pedra de fogo que usariam para acender a fogueira. Will olhou uma vez para Evanlyn e, satisfeito em ver que ela sabia o que estava fazendo, voltou-se para a própria tarefa, aceitando os punhados de espirais de pinho que Horace lhe passou e empilhando-os em volta das tábuas.
Quando Will passou para o lado de Evanlyn para fazer a mesma coisa com a fogueira que ela estava prepa-
rando, Horace partiu mais algumas tábuas ao meio e cor-tou as metades em dois. Nervoso com o barulho, Will o-lhou para cima.
— Não faça barulho — ele pediu ao aprendiz de guerreiro. — Você sabe que esses Wargals não são exata-mente surdos, e o som pode atravessar o túnel.
— Bom, eu já acabei mesmo — Horace tornou dando de ombros. Will parou e examinou as duas piras. Satisfeito por elas terem a combinação perfeita de lenha e madeira leve para acender o fogo, ele voltou para junto dos amigos.
— Vão indo na frente — ele disse. — Vou come-çar o fogo e me encontro com vocês.
Horace não precisou de um segundo convite. Ele não queria ter que atravessar correndo as vigas descober-tas da ponte com o fogo lambendo os cabos atrás dele. Queria tempo suficiente para ficar a uma distância segura. Evanlyn hesitou por um momento e depois percebeu a sensatez do conselho de Will.
Eles atravessaram com cuidado, tentando não olhar para as profundezas agonizantes abaixo da ponte, pois ha-via um espaço aberto maior, já que algumas das tábuas que formavam a passarela tinham sido removidas. Quan-do chegaram em segurança ao outro lado, eles se viraram e acenaram para Will. Ele era só um vulto agachado e in-distinto nas sombras ao lado do suporte direito da ponte. Houve um clarão forte quando ele usou sua pedra de fo-go, logo seguido por outro. E, desta vez, um brilho inten-
so e amarelo se formou na base da pilha de madeira quando as lascas de pinho pegaram fogo e as chamas cresceram.
Will as soprou delicadamente e observou as peque-nas chamas ansiosas se espalharem, lambendo o pinho áspero, alimentando-se da resina inflamável que cobria os veios da madeira, ficando maiores e mais vorazes a cada segundo. Ele viu os primeiros pedaços mais finos se in-cendiarem e depois as chamas subiram, cobrindo avida-mente a balaustrada de corda da ponte e começando a se aproximar dos grossos cabos. O piche começou a chiar. Gotas derretiam e caíam nas chamas, inflamando-se com um clarão azul brilhante.
Satisfeito em ver o primeiro fogo se espalhando conforme o esperado, Will correu para o lado oposto e passou a trabalhar com sua pedra de fogo mais uma vez. Novamente, Horace e Evanlyn viram os clarões brilhantes se transformarem numa labareda amarela que crescia ra-pidamente.
Will, agora uma silhueta nítida contornada pela luz das duas fogueiras, se levantou e recuou, observando-as até se certificar de que ambas estavam adequadamente a-cesas. O poste e o cabo da direita já estavam começando a fumegar. Finalmente contente, Will apanhou o arco e a aljava e atravessou a ponte correndo, quase sem diminuir o ritmo ao passar as vigas estreitas.
Ao chegar ao outro lado, ele se virou para olhar para trás e observar seu trabalho. O cabo da direita estava
queimando ferozmente. Uma rajada de vento repentina mandou uma chuva de faísca para o alto. A fogueira da esquerda parecia não estar queimando tão bem. Talvez uma contracorrente do vento tivesse impedido as chamas de atingir a corda embebida em piche naquele lado. Talvez a madeira que tinham usado estivesse úmida. O fogo de-baixo do cabo da esquerda lentamente se apagou e se transformou num monte de brasas vermelhas.

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