sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 18 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

A cabeça de Blaze pendia baixa enquanto ele trotava len-tamente nos arredores do acampamento do rei, nas Planí-cies de Uthal. Gilan oscilava cansado na sela. Ele quase não tinha dormido nos últimos três dias, aproveitando apenas breves momentos de descanso a cada quatro ho-ras.
Dois guardas deram um passo à frente para impedir seu avanço, e o jovem arqueiro remexeu dentro da camisa em busca do amuleto prateado em forma de folha de car-valho, a insígnia do arqueiro do reino. Quando o viram, os guardas recuaram apressados para abrir caminho. Em tempos como aqueles, ninguém retardava um arqueiro... não, se soubesse o que era bom para si.
— Onde está a barraca do Conselho de Guerra? — Gilan indagou esfregando os olhos cansados.
Um dos guardas apontou com a lança para uma barraca maior do que o normal instalada num outeiro que se erguia sobre o resto do acampamento. Havia mais guardas ali e um grande número de pessoas indo e vindo,
como era de se esperar que acontecesse no centro nervoso de um exército.
— Ali, senhor. Naquele pequeno morro.
Gilan assentiu. Ele tinha chegado até ali muito de-pressa, terminando a jornada de quatro dias em apenas três. Aquelas poucas centenas de metros pareciam quilô-metros. Ele se inclinou para a frente e sussurrou no ouvi-do de Blaze.
— Falta pouco, meu amigo. Só mais um pequeno esforço, por favor.
Os ouvidos do cavalo exausto se agitaram e ele le-vantou um pouco a cabeça. O incentivo de Gilan o fez passar para um leve trote e eles atravessaram o acampa-mento.
Tinha poeira misturada com a brisa, cheiro de ma-deira queimada, barulho e confusão: o acampamento era como qualquer acampamento do exército em qualquer lugar do mundo. Ordens sendo gritadas. O som metálico e o estrépito de armas sendo consertadas ou afiadas. Risos vindos das barracas, onde homens relaxavam deitados, sem tarefas para cumprir, até que seus sargentos os en-contrassem e lhes dessem novas ordens. Esse pensamento fez Gilan sorrir fracamente. Sargentos pareciam não su-portar ver homens sem fazer nada.
Blaze parou mais uma vez, e Gilan percebeu, com um choque, que realmente tinha cochilado na sela. Diante dele, dois outros guardas barraram o caminho até o recin-
to do Conselho de Guerra. Ele olhou para os dois com a vista turva.
— Arqueiro do rei — grunhiu com a garganta seca. — Mensagem para o conselho.
Os guardas hesitaram. Aquele homem coberto de poeira, semi-adormecido, sentado num cavalo baio e-xausto e com a boca espumando talvez fosse um arqueiro. Até onde sabiam, estava vestido como tal. No entanto, os guardas conheciam de vista quase todos os arqueiros mais velhos e nunca tinham visto aquele jovem antes. O rapaz não tinha mostrado nenhuma identificação.
Mas o fato mais importante que notaram era que ele carregava uma espada, que definitivamente não era a arma de um arqueiro, de modo que relutaram em permitir sua entrada no cuidadosamente vigiado recinto do Con-selho de Guerra. Irritado, Gilan percebeu que não tinha deixado a folha de carvalho de prata à mostra fora da ca-misa. De repente, o esforço de encontrá-la novamente fi-cou muito grande. Ele remexeu cegamente no colarinho. Então uma voz conhecida e muito bem-vinda cortou seus pensamentos.
— Gilan! O que aconteceu? Você está bem?
Aquela era a voz que tinha representado conforto e segurança para ele durante todos os cinco anos de seu a-prendizado. A voz da coragem, da capacidade e da sabe-doria. A voz que sempre sabia exatamente quando era preciso agir.
— Halt — ele murmurou, enquanto percebia que estava oscilando e caindo da sela.
Halt o pegou antes que caísse no chão. Ele olhou para as duas sentinelas que estavam ao seu lado sem saber se deviam ou não ajudar.
— Deem uma mão! — ele ordenou, e os dois guardas saltaram para a frente, deixando cair as lanças com estrépito para apoiar o jovem arqueiro se-mi-inconsciente.
— Vamos levar você a algum lugar para descansar — Halt disse. — Você está péssimo.
Mas Gilan reuniu suas últimas reservas de energia e, empurrando os soldados, ficou firme nos próprios pés.
— Notícias importantes — ele disse para Halt. — Preciso ver o conselho. Tem uma coisa ruim acontecendo em Céltica.
Halt sentiu a mão fria da premonição agarrar seu coração. Ele olhou ao redor observando o caminho pelo qual Gilan tinha vindo. Más notícias de Céltica. E Gilan aparentemente sozinho.
— Onde está Will? — ele perguntou preocupado. — Ele está bem?
Seu coração se encheu de alegria quando Gilan as-sentiu com um gesto, mostrando uma sombra do sorriso habitual.
— Ele está bem — Gilan disse ao arqueiro grisa-lho. — Eu vim na frente.
À medida que andavam, eles se aproximavam do pavilhão central. Lá havia mais guardas de plantão, que saíram do caminho ao ver o arqueiro mais velho. Ele era uma figura conhecida no Conselho de Guerra. Estendeu a mão para dar apoio ao antigo aprendiz, e os dois entraram na sombra fresca do pavilhão do conselho.
Um grupo de meia dúzia de homens estava reunido em volta de um mapa de areia, uma grande mesa que mostrava as principais características das planícies e das montanhas modeladas em areia.
Eles se viraram ao escutar os passos dos re-cém-chegados, e um deles se aproximou depressa com a expressão preocupada.
— Gilan! — exclamou.
Era um homem alto cujos cabelos grisalhos revela-vam seus 50 e tantos anos. Mas ele ainda se movia com a rapidez e elegância de um atleta ou de um guerreiro. Gilan lhe deu seu sorriso cansado.
— Bom-dia, pai — ele cumprimentou, pois o ho-mem alto e grisalho não era ninguém menos que sir Da-vid, mestre de guerra do feudo Caraway e comandante de campo do exército do rei. O mestre de guerra olhou rapi-damente para Halt e viu um breve gesto de cabeça que o tranquilizou. Ele percebeu que Gilan só estava exausto. Então, seu senso de dever superou sua reação paternal.
— Cumprimente seu rei adequadamente — pediu com suavidade, e Gilan olhou para o grupo de homens cuja atenção estava toda voltada para ele.
Ele reconheceu Crowley, o comandante do Corpo de Arqueiros, o barão Arald e dois outros barões mais ve-lhos do reino: Thorn de Drayden e Fergus de Caraway. Mas a figura no centro chamou sua atenção. Um homem alto e loiro com quase 40 anos, barba curta e olhos verdes penetrantes. Ele tinha ombros largos e era musculoso, pois Duncan não era um rei que deixava outros lutarem por ele. Ele tinha praticado o uso da espada e da lança desde garoto e era considerado um dos cavaleiros mais capazes de seu próprio reino.
Gilan tentou se apoiar num dos joelhos, mas suas articulações gritaram em protesto e ameaçaram travar. A pressão da mão de Halt sob seu braço foi o que o impediu de cair novamente.
— Senhor... — ele começou em tom de desculpas, mas Duncan já tinha se aproximado, estendendo a mão para firmá-lo.
Gilan ouviu a apresentação de Halt.
— Arqueiro Gilan, meu senhor, ligado ao feudo Meric. Com mensagens de Céltica.
— Céltica? — o rei repetiu cheio de interesse e ana-lisando Gilan com mais atenção. — O que está aconte-cendo lá?
Os outros membros do conselho tinham se afasta-do do mapa de areia e se reuniram ao redor de Gilan.
— Gilan estava levando suas mensagens para o rei Swyddned, meu senhor — o barão Arald informou. —
Para invocar o tratado mútuo de defesa e solicitar que Swyddned enviasse tropas para se juntar a nós...
— Elas não vão vir — Gilan interrompeu.
Ele percebeu que tinha que contar ao rei suas notí-cias antes que desmaiasse de exaustão.
— Morgarath encurralou elas na península do su-doeste.
Houve um silêncio atônito no pavilhão do Conse-lho.
— Morgarath? — o pai de Gilan perguntou incré-dulo. — Como? Como ele conseguiu levar qualquer tipo de exército para Céltica?
Gilan balançou a cabeça reprimindo um enorme desejo de bocejar.
— Eles fizeram pequenos grupos descerem os pe-nhascos até terem tropas suficientes para apanhar os celtas de surpresa. Como o senhor sabe, Swyddned mantém a-penas um pequeno exército de prontidão...
O barão Arald assentiu com uma expressão zanga-da.
— Eu avisei Swyddned, meu senhor — ele afir-mou. — Mas esses malditos celtas sempre estiveram mais interessados em cavar do que em proteger o próprio rei-no.
Duncan fez um pequeno gesto tranquilizador com a mão.
— Não temos tempo para recriminações, Arald — ele disse devagar. — Receio que o que está feito, está fei-to.
— Imagino que Morgarath venha vigiando os celtas durante anos, esperando que sua avareza superasse o bom senso — o barão Thorn disse com amargura.
Os outros homens concordaram em silêncio. Eles conheciam muito bem a habilidade de Morgarath em manter uma rede de espiões.
— Então Céltica foi derrotada por Morgarath? É isso o que está nos dizendo? — Duncan perguntou.
A resposta de Gilan trouxe alívio a todos.
— Os celtas estão ocupando o sudoeste, meu se-nhor. Eles ainda não foram derrotados. Mas o estranho nessa situação é que grupos de Wargals têm sequestrado mineiros celtas.
— O quê? — desta vez foi Crowley que interrom-peu. — Que raios de utilidade os mineiros têm para Mor-garath?
— Não tenho ideia, senhor — Gilan respondeu ao chefe, dando de ombros. — Mas pensei que era melhor vir até aqui com as notícias o mais rápido possível.
— Então você viu isso acontecer, Gilan? — Halt perguntou com uma expressão sombria, refletindo con-fuso sobre o que o jovem arqueiro tinha acabado de con-tar.
— Não exatamente — Gilan admitiu. — Vimos as cidades mineiras vazias e postos de fronteira desertos. Es-
távamos indo para o interior de Céltica quando encon-tramos uma jovem garota que nos contou sobre os ata-ques.
— Uma garota? Uma celta? — o rei perguntou.
— Não, senhor. Ela é de Araluen. A criada cuja ama estava visitando a corte de Swyddned. Infelizmente, eles se depararam com uma tropa de Wargals. Evanlyn foi a única a escapar.
— Evanlyn? — Duncan repetiu numa voz que era apenas um sussurro.
Os outros se viraram quando ele falou. O rosto do rei tinha empalidecido, e seus olhos estavam arregalados pelo terror.
— Esse é o nome dela, senhor — Gilan disse es-pantado com a reação do rei.
Mas Duncan não estava ouvindo. Ele tinha se vi-rado e foi cegamente para uma cadeira de lona colocada junto de sua pequena mesa de leitura, deixando-se cair na cadeira com a cabeça escondida nas mãos. Assustados com a reação, os membros do Conselho de Guerra se a-proximaram dele.
— Meu senhor — sir David de Caraway disse —, o que aconteceu?
Lentamente, Duncan levantou os olhos para enca-rar o mestre de guerra.
— Evanlyn... — ele disse com a voz trêmula de emoção. — Evanlyn era a criada de minha filha.

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