sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 13 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

— Seguir eles? Você ficou louco?
Horace, incapaz de acreditar no que estava ouvin-do, olhou para a figura pequena e determinada do colega. Will não disse nada, e Horace tentou de novo.
— Will, nós acabamos de passar meia hora escon-didos atrás de um arbusto esperando que aquelas coisas não nos vissem. Agora você quer seguir elas e dar outra chance a elas?
Will olhou ao redor para se certificar de que Evan-lyn ainda não podia escutá-los. Ele não queria assustar a garota desnecessariamente.
— Fale baixo — ele avisou Horace, e o amigo falou com mais suavidade, mas não com menos veemência.
— Por quê? — ele quis saber. — O que podemos ganhar seguindo os Wargals?
Inquieto, Will apoiou o peso do corpo primeiro num pé e depois no outro. Francamente, a ideia de seguir os Wargals já o estava assustando. Ele podia sentir o co-ração batendo mais forte do que o normal. Eles eram cri-aturas apavorantes e, evidentemente, destituídas de senti-
mentos de compaixão ou pena, como o destino do prisi-oneiro tinha mostrado. Mesmo assim, ele achava que a-quela era uma oportunidade que não podia ser perdida.
— Olhe — ele disse devagar. — Halt sempre me disse que saber por que seu inimigo está fazendo uma coisa é tão importante quanto saber o que ele está fazen-do. Na verdade, às vezes é até mais importante.
Horace balançou a cabeça teimoso.
— Não entendo — ele replicou.
Para ele, a ideia de Will era um impulso louco, ir-responsável e assustadoramente perigoso.
Para falar a verdade, Will não tinha certeza absoluta de que estava com a razão. Mas as palavras de Gilan sobre não mostrar insegurança soaram em seus ouvidos, e seus instintos, aguçados pelo treinamento recebido de Halt, lhe diziam que não devia perder essa oportunidade.
— Sabemos que os Wargals estão capturando mi-neiros celtas e levando eles embora. E sabemos que Mor-garath não faz nada sem motivo. Esta pode ser a chance de descobrir o que ele pretende.
— Ele quer escravos — Horace retrucou dando de ombros.
— Mas por quê? E por que apenas mineiros? E-vanlyn disse que eles só estavam interessados nos minei-ros. Por quê? Você não percebe? Isso pode ser importan-te. Halt diz que guerras muitas vezes sofrem uma virada por causa de uma pequena informação.
Horace apertou os lábios pensando no que Will ti-nha dito.
— Está certo — ele concordou finalmente. — Talvez você esteja certo.
Horace não pensava depressa nem tinha ideias ori-ginais, mas era metódico e, à sua maneira, lógico. Will ti-nha visto instintivamente a necessidade de seguir os War-gals. Horace teve que refletir a respeito. Agora, depois de ter pensado, ele conseguia ver que Will não estava apenas seguindo um impulso descontrolado e arriscado. Ele con-fiava na linha de raciocínio do aprendiz de arqueiro.
— Bom, se vamos seguir eles, é melhor nós irmos andando — ele acrescentou, e Will o olhou surpreso.
— Nós? — ele repetiu. — Quem falou em nós? Pretendo seguir eles sozinho. Sua função é levar Evanlyn de volta em segurança.
— Quem disse? — o garoto maior perguntou um tanto agressivo — Eu tenho ordens, dadas por Gilan, de ficar com você e manter você longe de problemas.
— Bem, eu estou mudando suas ordens — Will re-trucou, mas desta vez Horace riu.
— Então, quem morreu e pôs você no lugar do chefe? — ele zombou.
— Você não pode mudar minhas ordens. Gilan é seu superior.
— E a garota? — Will desafiou.
Por um momento, Horace não soube o que res-ponder.
— Vamos dar o cavalo de carga, comida e supri-mentos para ela — ele sugeriu. — Ela pode voltar sozi-nha.
— Isso é muito nobre de sua parte — Will retrucou sarcástico.
— Foi você quem disse que é tremendamente im-portante seguir os Wargals. — Horace argumentou. — Bom, acho que você tem razão. Portanto, Evanlyn sim-plesmente vai ter que assumir esse risco, assim como nós. De qualquer jeito, agora estamos mais perto da fronteira e mais uma noite de cavalgada vai ser suficiente para tirar ela de Céltica.
Na verdade, Horace não gostava da ideia de deixar Evanlyn à própria sorte. Ele tinha começado a gostar muito da garota. Ela era inteligente, divertida e boa com-panhia. Mas o tempo passado na Escola de Guerra tinha lhe dado um forte senso de dever, e sentimentos pessoais vinham em segundo lugar.
— Posso viajar muito mais depressa sem você — ele ressaltou, mas Horace o interrompeu no mesmo ins-tante.
— E daí? Não precisamos de velocidade para se-guir os Wargals. Nós temos cavalos. Não vamos ter pro-blemas para alcançar eles, principalmente porque eles têm de arrastar aqueles prisioneiros.
Horace concluiu que estava gostando da experiên-cia de discutir com Will e ganhar alguns pontos. Talvez
passar algum tempo com os arqueiros tivesse feito mais bem a ele do que tinha imaginado.
— Têm mais coisas: e se descobrirmos alguma coi-sa realmente importante? E se você quiser continuar se-guindo eles e precisar enviar uma mensagem para o barão? Se formos dois, poderemos nos separar. Posso levar a mensagem enquanto você continua a seguir os Wargals.
Will pensou na ideia e teve que admitir que Horace tinha razão. Fazia sentido ter alguém em sua companhia.
— Tudo bem — ele concordou finalmente. — Mas nós vamos ter que contar a Evanlyn.
— Contar o quê? — a garota perguntou.
Sem ser vista por nenhum dos rapazes, ela tinha se aproximado até poucos metros de onde os garotos esta-vam discutindo em voz baixa Os dois meninos se entreo-lharam com ar de culpa.
— Hum... Will teve uma ideia, entende... — Horace começou e parou, olhando para Will para ver se o amigo iria continuar.
Mas, como se viu a seguir, não houve necessidade.
— Vocês estão planejando seguir os Wargals — a menina disse secamente, e os dois aprendizes trocaram olhares antes de Will responder.
— Você estava escutando a nossa conversa? — ele acusou. Ela balançou a cabeça.
— Não. É a coisa óbvia a fazer, não é? Esta é nossa chance de descobrir o que eles pretendem fazer e por que estão raptando mineiros.
Pela segunda vez em alguns minutos, Will ouviu o uso do plural.
— Nossa chance? — ele repetiu. — O que exata-mente você quer dizer com “nossa chance”?
— É óbvio que, se vocês dois forem segui-los, eu vou junto — ela retrucou dando de ombros. — Vocês não vão me deixar aqui sozinha no meio do nada.
— Mas... — Horace começou, e ela se virou e o-lhou para ele com calma. — Eles são os Wargals — ele completou.
— Eu sei — ela respondeu.
Horace lançou um olhar desanimado para Will. O aprendiz de arqueiro deu de ombros, e Horace tentou ou-tra vez:
— Vai ser perigoso. E você...
Ele hesitou, pois não queria lembrá-la do medo que tinha das criaturas e dos motivos para isso. Evanlyn per-cebeu o que ele ia dizer e sorriu levemente.
— Olhe, tenho medo daquelas coisas — ela con-fessou. — Mas suponho que vocês queiram segui-las, não se juntar a elas.
— Foi essa a ideia — Will concordou.
— Bom, com aquele barulho que fazem, não pre-cisamos chegar muito perto — ela argumentou virando-se para olha-lo. — Além disso, esta pode ser a oportunidade de estragar os planos que possam ter. Acho que vou gos-tar disso.
Will a observou com novo respeito. Ela tinha todos os motivos para ter medo dos Wargals, mais do que ele ou Horace. No entanto, estava disposta a ignorar esse medo para dar um golpe em Morgarath.
— Tem certeza? — ele perguntou finalmente.
— Não. Não tenho certeza de nada. Estou me sen-tindo realmente nauseada diante da possibilidade de che-gar perto daquelas coisas outra vez. Mas também não gosto da ideia de ser abandonada aqui sozinha.
— Não íamos abandonar você... — Horace come-çou, e ela se virou para ele.
— Então como chama o que iam fazer? — a garota perguntou sorrindo levemente para não soar muito agres-siva.
— Abandonar você, eu acho — ele admitiu depois de hesitar um pouco.
— Exatamente — ela respondeu. — Assim, diante das opções de me defrontar com outro grupo de Wargals, ou outros bandidos, ou seguir alguns Wargals com vocês dois, prefiro a última.
— Estamos somente a um dia da fronteira — Will informou. — Depois que você passar ela, vai estar relati-vamente segura.
Mas, determinada, ela sacudiu a cabeça.
— Eu me sinto mais segura com vocês — disse. — Além disso, eu talvez seja útil. Serei mais uma para montar guarda à noite. Isso significa que vocês vão dormir mais.
— Até agora, essa é a primeira razão sensata que ouvi para que ela nos acompanhe — Horace disse.
Como Will, ele compreendeu que ela já tinha to-mado uma decisão. E, de alguma forma, os dois garotos sabiam que quando Evanlyn fazia isso não havia nada no mundo que a convencesse a mudar de ideia. Ela sorriu para ele.
— Bom, vamos ficar parados aqui o dia todo, jo-gando conversa fora? — ela perguntou. — Os Wargals estão se afastando cada vez mais.
E foi até onde os cavalos estavam amarrados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário