sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 12 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

Will e Horace se viraram depressa para olhar para ela.
— Wargals? Como você sabe? — Will perguntou.
— Eu já os ouvi antes — ela explicou em voz baixa e mordendo o lábio. — Eles fazem essa cantoria enquanto marcham.
Will ficou sério. Os quatro Wargals que ele e Halt haviam seguido não tinham cantado. Mas então ele se deu conta de que os Wargals estavam seguindo uma vítima naquele dia. Com o canto do olho, Will viu um movi-mento na curva da estrada.
— Se abaixem! — ele sussurrou depressa. — Fi-quem com os rostos escondidos!
Tanto Horace quanto Evanlyn baixaram os rostos para o chão. Will estendeu a mão, cobriu ainda mais a própria cabeça com o capuz e então puxou as dobras da capa para cobrir tudo, menos os olhos.
Ele percebia agora que a cantoria era uma forma de cadência destinada a manter os Wargals se movimentando no mesmo ritmo; da mesma forma que um sargento faz a tropa de infantaria manter o passo. Ele contou cerca de 30
elementos no grupo. Vultos grandes e fortes, vestidos com jaquetas escuras cobertas de botões de metal e calças de um tecido grosso. Eles corriam num ritmo constante, cantando a cadência gutural e sem palavras que nada mais era do que uma série de grunhidos.
Todos estavam armados com uma variedade de lanças, clavas e achas, prontas para o uso
Mas ele ainda não conseguia distinguir as feições. Eles corriam com movimentos trôpegos em duas filas. Então Will notou que estavam conduzindo outro grupo entre as duas fileiras: prisioneiros.
Agora que o grupo estava mais próximo, ele viu que os prisioneiros, cerca de uma dúzia, estavam se arras-tando pela estrada, tentando desesperadamente manter o passo dos Wargals cantantes. Reconheceu neles os celtas: mineiros, a julgar pelos aventais e gorros de couro que usavam. Eles estavam exaustos, e os Wargals usavam pe-quenos chicotes para fazê-los andar depressa.
A cantoria ficou mais forte.
— O que está acontecendo? — Horace sussurrou, e Will sentiu vontade de estrangulá-lo.
— Cale a boca! — ele disparou. — Nem mais uma palavra!
Agora os Wargals estavam mais perto, e ele conse-guiu ver seus rostos. Sentiu os pelos da nuca se arrepiarem quando viu as queixadas fortes e grossas e os narizes que tinham se encompridado e alargado a ponto de ficarem parecidos com focinhos. Os olhos eram pequenos e sel-
vagens e pareciam brilhar com um ódio intenso quando os Wargals surravam os celtas com seus chicotes. Em certo momento, quando um deles rosnou para um prisioneiro que tinha tropeçado, Will viu rapidamente suas presas amarelas. Ficou tentado a se encolher ainda mais, mas sa-bia que qualquer movimento poderia arriscar a sua segu-rança. Tinha que confiar na proteção de sua capa. Queria fechar os olhos para aqueles rostos de animal, mas, por algum motivo, não conseguia. Ele olhava com um terror fascinado para os terríveis Wargals, criaturas saídas de um pesadelo que cantavam incessantemente e passavam cor-rendo.
O mineiro celta não poderia ter perdido o passo em lugar pior.
Surrado por um dos Wargals, ele tropeçou, camba-leou e então caiu na estrada, derrubando os prisioneiros que estavam ao seu lado. Agora Will podia ver que eles estavam amarrados, unidos por uma grossa guia de couro.
Quando a coluna parou confusa, a cantoria foi in-terrompida e se transformou numa serie de rosnados e grunhidos. Os dois prisioneiros que foram derrubados lu-tavam para se levantar debaixo de uma chuva de chicota-das. O mineiro que tinha causado a queda estava deitado quieto apesar da violenta surra que levava de um dos Wargals.
Finalmente, outro monstro se juntou ao primeiro e começou a bater na figura imóvel com a haste de sua pe-sada lança de aço. O mineiro não reagiu. Horrorizado,
Will percebeu que o homem estava morto. Por fim, os Wargals também chegaram à mesma conclusão. Ao co-mando de um elemento que devia ser o encarregado, os dois pararam de bater no homem morto e cortaram as cordas que o ligavam à guia principal. Em seguida, apa-nharam o corpo flácido e o jogaram na direção da vala onde Will e os outros estavam escondidos.
O corpo bateu nos arbustos perto da estrada, e Will ouviu Evanlyn soltar um pequeno grito de medo. Com o rosto para baixo, sem saber o que estava acontecendo, o repentino baque nos arbustos evidentemente foi demais para ela.
O grito foi breve, mas o líder dos Wargals parecia ter ouvido alguma coisa. Ele se virou e olhou com atenção para o ponto em que o corpo estava deitado, perguntan-do-se se o barulho tinha vindo do mineiro. Obviamente, ele estava desconfiado de que o homem morto estivesse apenas fingindo, numa tentativa de escapar. A criatura apontou e gritou uma ordem, e o Wargal com a lança se aproximou e a atravessou casualmente pelo corpo sem vi-da.
Mas o comandante ainda não estava satisfeito. Por um longo momento, ele olhou para os arbustos e direta-mente para o ponto em que Will estava deitado, enrolado na camuflagem protetora de sua capa de arqueiro. O a-prendiz se viu encarando fixamente os zangados olhos vermelhos da coisa selvagem na estrada. Ele queria desviar o olhar, pois estava convencido de que a criatura podia
vê-lo. Mas todo o treinamento de Halt no ano anterior lhe dissera que qualquer movimento naquele instante seria fa-tal, e ele sabia que mover os olhos podia causar um mi-núsculo movimento involuntário de sua cabeça. O verda-deiro valor das capas camufladas não estava na magia em que tantas pessoas acreditavam, mas na capacidade de quem as usava de permanecer imóvel debaixo de um e-xame minucioso.
Will continuou imóvel, olhando para o Wargal. Sua boca estava seca, seu coração saltava, batendo duas vezes mais rápido do que o normal. Ele podia ouvir a respiração pesada e ruidosa da figura parecida com um urso, ver as narinas se torcendo ligeiramente enquanto farejava a brisa leve, procurando odores desconhecidos.
Finalmente, o Wargal se virou. Então, de repente, ele se virou novamente para olhar mais uma vez. Feliz-mente, o treinamento de Will também o tinha preparado para esse truque. O garoto não fez nenhum movimento. Desta vez, o Wargal grunhiu e então gritou uma ordem para o grupo.
Cantando de novo, eles recomeçaram a marchar, deixando o homem morto na beira da estrada.
Quando o som se afastou e eles desapareceram na próxima curva, Will sentiu Horace se movendo atrás dele.
— Fique quieto! — ele sussurrou irritado.
Era possível que um dos Wargals os observasse de longe, um elemento que pudesse capturar fugitivos des-cuidados que pensavam que o perigo tinha passado.
Ele se obrigou a contar até cem antes de permitir que os outros se mexessem, saíssem rastejando de baixo dos arbustos e esticassem o corpo rígido e dolorido.
Fazendo um sinal para Horace levar Evanlyn de volta ao local do acampamento, Will foi para a estrada com cuidado para examinar o celta. Como tinha suspeita-do, o homem estava morto. Era óbvio que ele tinha sido surrado muitas vezes nos últimos dias. Seu rosto estava machucado e cortado pelas chicotadas dos Wargals.
Não havia nada a fazer pelo homem, então ele o deixou onde estava e foi se reunir aos outros.
Evanlyn estava sentada chorando. Quando ele se aproximou, ela olhou para ele com a face marcada pelas lágrimas. Seus ombros sacudiam com os fortes soluços que a faziam estremecer. Horace estava ao lado dela com uma expressão de impotência no rosto, fazendo pequenos movimentos inúteis com as mãos.
— Sinto muito — Evanlyn finalmente conseguiu falar. — É que.... a cantoria... aquelas vozes... eu me lem-brei de tudo quando eles...
— Está tudo bem — Will disse a ela baixinho. — Meu Deus, eles são criaturas horríveis!
Horace não tinha visto os Wargals, pois tinha fica-do deitado o tempo todo, com o rosto colado no chão arenoso. De certa forma, isso devia ter sido igualmente apavorante.
— Como eles são? — Horace perguntou em voz baixa. Will hesitou. Era quase impossível de descrevê-los.
— Como bestas — ele respondeu. — Como ur-sos... ou um cruzamento entre um urso e um cachorro. Mas andam retos como homens.
— Eles são horríveis! — Evanlyn exclamou estre-mecendo. — Criaturas horríveis, medonhas! Oh, meu Deus. Nunca mais quero vê-los!
Will se aproximou dela e, desajeitado, deu-lhe tapi-nhas no ombro.
— Eles já se foram — ele disse devagar como se estivesse acalmando uma criança pequena. — Eles foram embora e não vão machucar você.
Ela fez um esforço enorme, reuniu coragem e o-lhou para Will com um sorriso assustado no rosto. Ela pegou a mão de Will, consolando-se com esse simples contato.
Ele deixou que a moça segurasse sua mão por um momento e se perguntou como iria contar para eles o que tinha decidido fazer.

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