sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capitulo 11 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 2

O grupo cavalgou tudo o que pôde naquela noite, de certa forma retardado pelo passo do pônei de carga, que não conseguia andar mais rápido.
A chuva voltou durante a noite para tornar tudo mais difícil. Mas então, uma hora antes do amanhecer, ela parou, e os primeiros raios de luz vindos do leste pintaram o céu com uma fraca cor de pérola. Will começou a pro-curar um lugar para acampar.
Horace percebeu o amigo olhando ao redor.
— Por que não continuamos por mais algumas ho-ras? — ele sugeriu. — Os cavalos ainda não estão cansa-dos.
Will hesitou. Não tinham visto sinal de nenhum ser humano durante a noite e certamente nenhum indício de Wargals na região. Mas ele não gostava de contrariar os conselhos de Gilan. No passado, descobrira que valia a pena seguir conselhos dados por arqueiros mais experien-tes. Finalmente, a decisão foi tomada quando, após uma curva na estrada, ele viu um amontoado de arbustos a cerca de 30 metros de distância. Embora não tivessem
mais que 3 metros de altura, ofereciam uma boa proteção e abrigo do vento e de olhos inamistosos que pudessem passar na área.
— Vamos acampar aqui — Will disse indicando os arbustos. — É o primeiro lugar decente para acampar que vimos em horas. Quem sabe se vamos encontrar outro?
Horace deu de ombros. Ele estava satisfeito em deixar Will tomar as decisões. Só tinha feito uma sugestão, sem a menor intenção de tentar usurpar a autoridade do aprendiz de arqueiro. Horace era essencialmente uma alma simples. Reagia bem a comandos e a decisões tomadas por outras pessoas. Cavalgue agora. Pare aqui. Lute ali. Con-tanto que confiasse na pessoa que tomava as decisões, fi-cava feliz em segui-las.
E ele confiava no julgamento de Will. Tinha uma leve ideia de que o treinamento dos arqueiros tornava as pessoas mais determinadas e inteligentes. E, claro, nisso ele tinha razão, até certo ponto.
Quando desmontaram e conduziram os cavalos pelos arbustos espessos para uma clareira adiante, Will soltou um pequeno suspiro de alívio. Depois de uma noite inteira na sela com apenas alguns momentos rápidos de descanso, seu corpo estava mais rígido do que tinha se dado conta. Algumas boas horas de sono pareciam a coisa mais importante naquele momento. Will ajudou Evanlyn a descer do pônei de carga. Cavalgando na sela de carga como tinha feito, ela teve um pouco de dificuldade para desmontar. Em seguida, o jovem arqueiro começou a sol-
tar as mochilas com os suprimentos de comida e a lona enrolada que usavam como proteção contra a chuva e o vento.
Evanlyn, quase sem falar com Will, esticou o corpo, afastou-se alguns passos e se sentou numa pedra achatada.
Will, com a testa franzida, jogou uma das mochilas de comida aos pés dela.
— Você pode começar a preparar a refeição — ele disse mais asperamente do que pretendia.
Ele estava aborrecido por ver a garota se sentar e deixar o trabalho para ele e Horace. Ela olhou para o pa-cote e corou zangada.
— Eu não estou com muita fome — retrucou. Horace parou de tirar a sela do cavalo e começou a se a-proximar.
— Eu faço isso — ele disse ansioso para evitar qualquer conflito entre os outros dois.
Mas Will levantou a mão para impedi-lo.
— Não — ele disse. — Eu gostaria que você es-tendesse a lona. Evanlyn pode preparar a comida.
O olhar dos dois se encontrou. Ambos estavam zangados, mas ela percebeu que estava errada, então deu de ombros e pegou a mochila.
— Se isso significa tanto para você...! — ela mur-murou. — Horace pode acender o fogo para mim? — perguntou. — Ele faz isso mais depressa do que eu.
Will considerou a ideia com uma expressão pensa-tiva. Ele estava relutante em acender fogo enquanto ainda
estavam em Céltica. Não parecia lógico viajar de noite pa-ra evitar serem vistos e depois acender uma fogueira cuja fumaça podia ser visível durante o dia. Além disso, havia outro ponto que Gilan tinha observado no dia anterior.
— Nada de fogo — Will disse com determinação e, de mau humor, Evanlyn jogou a mochila de comida no chão.
— Não quero comida fria outra vez! — ela dispa-rou. Will olhou para a garota com calma.
— Há pouco tempo, você teria ficado satisfeita em comer qualquer coisa, fria ou quente, contanto que fosse comida — ele lembrou, e ela desviou o olhar do dele. — Olhe — ele acrescentou num tom de voz mais amistoso —, Gilan sabe mais sobre essas coisas do que qualquer um de nós e ele nos pediu para fazermos de tudo para não sermos vistos, está bem?
Evanlyn resmungou alguma coisa. Horace estava observando os dois. Aquele conflito o preocupava. Ele resolveu fazê-los chegar a um meio-termo.
— Eu poderia fazer um pequeno fogo para cozi-nhar — sugeriu. — Se a gente o fizer debaixo desses ar-bustos, vai ser muito difícil ver a fumaça depois que ela passar pelos galhos.
— Não é só isso — Will explicou, jogando os can-tis sobre o ombro e pegando o arco no estojo da sela. — Gil diz que os Wargals têm um excelente faro. Se nós a-cendermos fogo, o cheiro da fumaça vai ficar no ar du-rante horas depois que o apagarmos.
Horace assentiu, entendendo a explicação. Antes que alguém pudesse levantar mais objeções, Will foi até as rochas atrás do local do acampamento.
— Vou dar uma olhada no local — ele avisou —, ver se encontro água por aqui. E me certificar de que es-tamos sozinhos.
Ignorando o comentário “como se não estivésse-mos” que a garota resmungou alto o suficiente para que ele escutasse, Will começou a subir pelas rochas. Fez um exame cuidadoso da área, ficando abaixado e fora de vista, movendo-se de um arbusto para outro com o máximo de cuidado possível. “Sempre que estiver explorando algum lugar”, Halt tinha dito certa vez, “mova-se como se al-guém o pudesse ver. Nunca suponha que está sozinho”.
Ele não viu nenhum sinal de Wargals ou celtas, mas encontrou um riacho pequeno e límpido onde a água fresca corria sobre um leito de pedras. Ela parecia boa pa-ra beber, pois corria rápido. Ele a experimentou e, satis-feito por não estar poluída, encheu os cantis até a borda. A água fresca tinha um gosto especialmente bom depois do suprimento com gosto de couro que vinham tomando. Depois de ficar nos cantis por algumas horas, a água co-meçava a ter um gosto estranho.
Quando voltou ao acampamento, Will encontrou Horace e Evanlyn à sua espera. Evanlyn tinha preparado um prato de carne seca e de biscoitos duros que vinham comendo no lugar de pão fazia algum tempo. Ele ficou satisfeito por ela também ter posto um pouco de picles na
carne. Qualquer melhoria naquela refeição sem sabor era bem-vinda, mas ele percebeu que no prato dela não havia nenhum.
— Você não gosta de picles? — ele perguntou en-tre uma porção e outra de carne e biscoito.
Ela balançou a cabeça negativamente e evitou o o-lhar dele.
— Não muito.
Mas Horace continuou o assunto.
— Ela lhe deu o último — ele contou para Will.
Por um momento, Will hesitou constrangido. Ele tinha acabado de engolir o último bocado do picante pi-cles amarelo sobre um pedaço de biscoito e não havia como dividir o pedaço com ela.
— Oh! — ele murmurou percebendo que aquele era o jeito de ela fazer as pazes. — Ah... bem, obrigado, Evanlyn.
Ela jogou a cabeça para trás. Com os cabelos muito curtos, o efeito se perdeu e ocorreu a Will que ela prova-velmente tinha o hábito de fazer esse gesto com longos cachos dourados que acentuariam o movimento.
— Eu já disse — ela replicou. — Não gosto de pi-cles.
Mas agora havia um leve sorriso em sua voz, e o mau humor anterior tinha desaparecido. Ele olhou para ela e devolveu o sorriso.
— Vou montar guarda primeiro.
Aquele parecia um bom jeito de mostrar a ela que não guardava ressentimento.
— Se você também ficar com o segundo turno, pode ficar com os meus picles — Horace ofereceu, e to-dos riram.
O clima no pequeno acampamento ficou muito mais leve quando Horace e Evanlyn se ocuparam em sa-cudir os cobertores e as capas e cortar alguns dos galhos mais cheios de folhas dos arbustos para formar as camas.
Will, por sua vez, pegou um dos cantis e sua capa e subiu numa das rochas mais altas que cercavam o acam-pamento. Ele se ajeitou com o máximo de conforto pos-sível num lugar de onde podia ver claramente, de um lado, as colinas rochosas e, de outro, a estrada. Sempre se lem-brando das lições de Halt, ele se acomodou entre uma pi-lha de rochas que formavam um ninho quase natural de onde podia espiar para todos os lados sem levantar a ca-beça acima do nível do horizonte.
Ele se mexeu por alguns minutos, desejando que não houvesse tantas pedras pontudas para cutucá-lo. En-tão deu de ombros e decidiu que pelo menos elas o impe-diriam de cochilar durante seu turno.
Ele vestiu a capa e levantou o capuz. Sentado ali sem se mexer entre as pedras cinzentas, parecia se mistu-rar ao fundo, pois ficara quase invisível.
Foi o barulho que chamou sua atenção em primeiro lugar. Ele ia e vinha levemente com a brisa. Quando o vento ficou mais forte, o som também se intensificou.
Então, quando a brisa diminuiu, Will não escutou mais nada e pensou estar imaginando coisas.
Daí, o barulho se repetiu. Era um som grave e rit-mado. Vozes, talvez, mas não parecidas com nenhuma que já tivesse ouvido. Talvez fosse um canto. Quando a brisa soprou um pouco mais forte, ele o ouviu de novo. Não era uma canção. Não havia nenhuma melodia, apenas um ritmo. Um ritmo constante e invariável.
A brisa morreu outra vez, e o som parou com ela. Will sentiu os pelos da nuca se arrepiarem. Havia alguma coisa sinistra naquele som. Algo perigoso. Ele pressentia isso com todos os nervos de seu corpo.
E lá estava de novo! E, desta vez, ele descobriu o que era. Cânticos. Vozes graves entoando cânticos como se fossem uma só voz. Um cântico sem melodia que transmitia uma inconfundível ameaça.
A brisa vinha do sudoeste, de modo que o som vi-nha da estrada por onde tinha viajado. Ele se levantou devagar e espiou na direção da brisa. De onde estava, via várias curvas e voltas da estrada, embora algumas desapa-recessem atrás das rochas e das colinas. Calculou que po-dia ver trechos da estrada por talvez 1 quilômetro, e não havia sinal de movimento.
Rapidamente, ele desceu das pedras e correu para acordar os outros.
O canto monótono estava mais perto agora. Ele não desaparecia mais com as idas e vindas da brisa e ficava cada vez mais alto e definido. Will, Horace e Evanlyn se agacharam entre os arbustos, ouvindo as vozes que se a-proximavam.
— Talvez vocês dois devessem ir um pouco para trás — Will sugeriu.
Ele sabia que, enrolado na capa de arqueiro e com o rosto escondido debaixo do capuz, seria praticamente invisível, mas não tinha tanta certeza quanto aos outros. Sem nenhuma relutância, eles recuaram para dentro do esconderijo oferecido pelos arbustos espessos. A reação de Horace foi uma mistura de curiosidade e nervosismo. Will percebeu que Evanlyn estava pálida de medo.
O líder do trio tinha desmontado o acampamento e feito desaparecer quaisquer traços que pudessem ter dei-xado, no caso de os cantores terem espiões espalhados pela região. Ele levou os cavalos para o meio dos roche-dos, a cerca de 100 metros de distância, e os prendeu ali, deixando o equipamento com eles. Então, com Horace e Evanlyn, procurou a proteção da vegetação, esconden-do-se no fundo dos arbustos, mas tendo ainda uma visão relativamente boa da estrada.
— Quem são eles? — Horace sussurrou quando o canto ficou ainda mais forte.
Will calculou que o som vinha de algum lugar na curva mais próxima, a cerca de 100 metros de distância.
— Você não sabe? — Evanlyn perguntou com a voz tensa de terror. — São os Wargals.

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