quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Capitulo 4 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 1


— Will? Will de quê? — Martin perguntou exasperado, examinando as folhas de papel que continham os detalhes sobre os candidatos. Ele era secretário do barão há apenas cinco anos e por isso não conhecia a história de Will. Percebeu então que não havia um sobrenome nos documentos do garoto e ficou aborrecido por achar que tinha deixado passar esse erro. — Qual é o seu sobrenome, menino? — ele perguntou com severidade.
Will olhou para ele hesitante, odiando aquele momento.
— Eu... não tenho... — começou, mas felizmente o barão intercedeu.
— Will é um caso especial, Martin — ele informou com calma e com um olhar que ordenava que o secretário esquecesse o assunto.
Em seguida, virou-se para Will com um sorriso encorajador.
— A que escola quer se candidatar, Will? — ele perguntou.
— Para a Escola de Guerra, por favor, meu senhor.
Will respondeu, tentando parecer confiante em sua escolha.
O barão franziu a testa, e Will sentiu as esperanças desaparecerem.
— Escola de Guerra, Will? Você não acha que é... um pouco pequeno para isso? — o barão perguntou com delicadeza.
Will mordeu o lábio. Ele tinha se convencido de que, se desejasse muito, se acreditasse bastante em si mesmo, seria aceito, mesmo com suas falhas evidentes.
— Eu ainda não passei pela “arrancada no crescimento”, senhor — ele disse desesperado. — Todos dizem isso.
O barão esfregou a barba com o polegar e o indicador ao analisar o garoto parado diante dele e olhou para o mestre de guerra.
— Rodney? — ele chamou.
O alto cavaleiro se adiantou, examinou Will por alguns instantes e lentamente balançou a cabeça.
— Sinto dizer que ele é muito pequeno, meu senhor — ele disse.
Will sentiu um aperto no coração.
— Sou mais forte do que pareço, senhor — ele garantiu.
Mas o mestre de guerra não se deixou convencer pela afirmação. Ele olhou para o barão, deixando claro que a situação o desagradava e balançou a cabeça.
— Alguma outra opção, Will? — o barão perguntou com gentileza e preocupação.
Will hesitou por um longo momento. Ele nunca tinha considerado outra escolha.
— Escola de Cavalaria, senhor? — ele perguntou finalmente.
A Escola de Cavalaria treinava e cuidava dos poderosos cavalos de batalha usados pelos cavaleiros do castelo. Will pensou que, pelo menos, seria uma ligação com a Escola de Guerra. Mas Ulf, o mestre da cavalaria, já estava balançando a cabeça antes mesmo de o barão pedir sua opinião.
— Preciso de aprendizes, meu senhor, mas este é pequeno demais. Ele nunca vai conseguir controlar um de meus cavalos. Vão pisoteá-lo assim que olharem para ele.
Naquele momento, Will só conseguia enxergar o barão através de uma névoa esfumaçada. Ele lutava desesperadamente para evitar que as lágrimas escorressem pelo rosto. Ser rejeitado pela Escola de Guerra, perder o controle e chorar como um bebê na frente do barão, dos mestres de ofício e de seus colegas seria muito humilhante.
— Quais são as suas qualidades, Will? — o barão perguntou.
Ele pôs a cabeça para funcionar. Não era bom nas aulas e em línguas como Alysson, não conseguia formar letras bonitas e perfeitas como George nem se interessava por culinária como Jenny. E, certamente, não tinha os músculos e a força de Horace.
— Sei escalar muito bem, senhor — disse finalmente, percebendo que o barão esperava sua resposta.
Mas logo se deu conta de que tinha cometido um erro, pois Chubb, o cozinheiro, olhou para ele zangado.
— Ele sabe escalar, sim, senhor. Eu lembro quando subiu numa calha na minha cozinha e roubou uma bandeja de bolinhos que estavam esfriando no peitoril da janela.
Will ficou desanimado. Aquilo tinha acontecido há séculos! Ele quis contar que era uma criança na época e que tinha sido apenas uma brincadeira infantil. Mas agora o mestre escriba também estava falando.
— Na última primavera, ele subiu até o nosso gabinete no segundo andar e soltou dois coelhos durante um de nossos debates sobre questões legais. Extremamente lamentável.
— Coelhos, mestre escriba? — o barão perguntou, e Nigel assentiu vigorosamente.
— Um casal, meu senhor, se o senhor me entende — ele respondeu. — Extremamente lamentável!
Sem que Will visse, a muito séria lady Pauline colocou a mão na frente da boca num gesto elegante. Talvez ela estivesse disfarçando um bocejo, mas, quando retirou a mão, ainda foi possível entrever o final de um sorriso.
— Bem, sim — comentou o barão. — Nós todos sabemos como são os coelhos.
— E, como eu disse, era primavera — Nigel continuou, caso o barão não tivesse entendido.
Lady Pauline deixou escapar uma tosse nada feminina. O barão olhou para ela surpreso.
— Acho que compreendemos, mestre escriba — ele disse, voltando a olhar para a figura desesperada à sua frente.
Will manteve o queixo erguido e olhava direto para a frente. O barão sentiu pena do jovem naquele momento. Ele podia ver as lágrimas se formando nos olhos vivos e castanhos, presas somente por uma determinação de ferro. “Força de vontade”, pensou. Não lhe agradava fazer o garoto passar por tudo aquilo, mas era assim que tinha que ser. Ele suspirou silenciosamente.
— Há alguém que possa usar esse garoto? — ele perguntou.
Contra sua vontade, Will virou a cabeça e olhou suplicante para a fila de mestres de ofício, rezando para que um deles cedesse e o aceitasse. Um por um, em silêncio, eles sacudiram a cabeça negativamente.
Surpreendentemente, foi o arqueiro quem quebrou o desagradável silêncio da sala.
— Há uma coisa que o senhor deve saber sobre este garoto, meu senhor — ele disse com uma voz grave e suave.
Aquela era a primeira vez que Will o ouvia falar. Ele se adiantou e entregou uma folha de papel dobrada ao barão. Arald a abriu, leu as palavras nela escritas e franziu a testa.
— Você tem certeza disso, Halt?
— Absoluta, meu senhor.
O barão dobrou o papel com cuidado e o colocou na mesa. Ele tamborilou os dedos no tampo da mesa e disse:
— Vou ter que pensar nisso durante a noite.
Halt concordou e deu um passo para trás, parecendo desaparecer no fundo. Will o olhou com ansiedade, perguntando-se que informação a figura misteriosa tinha passado ao barão. Como a maioria das pessoas, Will tinha crescido acreditando que era melhor evitar os arqueiros. Eles faziam parte de um grupo secreto e místico, envolto em mistério e incerteza, o que, por sua vez, levava ao medo.
Will não gostou da ideia de que Halt sabia algo a seu respeito algo que era importante o bastante para chamar a atenção do barão naquele dia. A folha de papel continuava ali, torturantemente perto, no entanto impossível de ser alcançada. O garoto percebeu um movimento ao seu redor. O barão estava falando com outras pessoas na sala.
— Felicitações aos que foram escolhidos hoje. Este é um grande dia para todos, portanto vocês têm o resto dele livre. Aproveitem. As cozinhas prepararão um banquete no seu alojamento e durante o resto da tarde vocês estão livres para visitar o castelo e a vila. Amanhã cedo, apresentem-se aos seus novos mestres de ofício. E, se quiserem aceitar um conselho, sejam pontuais — ele sorriu para os quatro e então se dirigiu para Will com uma ponta de simpatia na voz. — Will, amanhã vou dizer o que decidi a seu respeito — ele se virou para Martin e fez um gesto para que conduzisse os aprendizes para fora. — Obrigado a todos — ele disse, saindo do aposento pela porta atrás da mesa.
Os mestres de ofício deixaram a sala e Martin conduziu os protegidos até a saída. Eles conversavam entusiasmados, aliviados e satisfeitos por terem sido aceitos pelos mestres de sua escolha.
Will ficou para trás, hesitando diante da folha de papel ainda na mesa. Ele olhou para ela por um instante como se pudesse, de alguma forma, enxergar as palavras escritas do outro lado. Teve a mesma impressão de que alguém o observava, como antes. E então se defrontou com os olhos escuros do arqueiro, que tinha ficado atrás da cadeira de encosto alto do barão, quase invisível embaixo de seu estranho manto.
Will estremeceu num repentino momento de medo e saiu apressado da sala.

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