domingo, 29 de setembro de 2013

Capitulo 32 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 1


Paralisado pelo medo da plateia, Will estava parado do lado de dentro da sala de audiências do barão. O prédio era imenso. Era a principal sala do castelo, a sala em que o barão conduzia todos os negócios oficiais com os membros da corte. O teto parecia se estender para cima interminavelmente. Fachos de luz inundavam o aposento, vindos de janelas instaladas no alto das paredes grossas. Na extremidade da sala e parecendo estar a uma grande distância, o barão estava sentado numa cadeira parecida com um trono, vestindo suas túnicas mais finas.
Entre ele e Will, estava a maior multidão que o garoto já tinha visto. Halt fez o aprendiz avançar delicadamente com um empurrão nas costas.
— Vá em frente — ele murmurou.
Havia centenas de pessoas no Grande Salão, e todos os olhares estavam voltados para Will. Todos os chefes de ofício estavam ali, vestindo suas túnicas oficiais. Todos os cavaleiros e todas a damas da corte: cada uma usando suas melhores e mais elegantes roupas. Mais adiante, estavam os homens com armas do exército do barão, os outros aprendizes e os comerciantes da vila. Ele viu uma agitação colorida quando Jenny, desinibida como sempre, agitou um lenço para ele. Alyss, parada ao lado dela, foi um pouco mais discreta. Ela jogou um beijo para ele com a ponta dos dedos, delicadamente.
Ele ficou parado, desajeitado, colocando o peso do corpo ora numa perna, ora noutra. Desejou que Halt o tivesse deixado usar a capa de arqueiro para que pudesse se confundir com o ambiente e desaparecer.
Halt o empurrou outra vez.
— Ande, vamos! — sussurrou.
— Você não vem comigo? — ele perguntou, virando-se para o mestre.
Halt negou com a cabeça.
— Não fui convidado. Agora se mexa!
Ele empurrou Will mais uma vez e então, por causa da perna machucada, foi até uma cadeira. Finalmente, compreendendo que não tinha outro caminho a seguir, Will começou a andar pelo corredor que parecia não terminar nunca. Ele ouviu vozes balbuciando enquanto passava, ouviu seu nome sendo sussurrado de boca em boca.
E então as palmas se iniciaram.
Elas foram começadas pela esposa de um cavaleiro e se espalharam rapidamente por todo o salão. Era ensurdecedor, um rugido retumbante de aplausos que continuou até Will chegar aos pés da cadeira do barão.
Como Halt tinha ensinado, ele se apoiou num joelho e inclinou a cabeça para a frente.
O barão se levantou e ergueu a mão pedindo silêncio, e as palmas se transformaram em ecos.
— Levante-se, Will — ele disse em voz baixa, estendendo a mão para ajudar o garoto a se pôr de pé.
Atordoado, Will obedeceu. O barão pousou uma das mãos em seu ombro e o virou para que olhasse para a enorme multidão diante deles. Sua voz grave chegou sem esforço ao ponto mais afastado do salão quando falou.
— Este é Will. Aprendiz do arqueiro Halt, deste feudo. Todos vocês, olhem para ele e o conheçam. Ele provou sua fidelidade, coragem e iniciativa para com este feudo e para com o Reino de Araluen.
Houve um murmúrio vindo do público. Então as palmas recomeçaram, desta vez acompanhadas de vivas. Will percebeu que os vivas tinham começado na seção da multidão em que estavam os aprendizes da Escola de Guerra. Ele conseguiu ver o rosto sorridente de Horace liderando o coro.
O barão pediu silencio com a mão erguida, encolhendo-se como se o movimento causasse dor em suas costelas fraturadas e nos cortes suturados nas costas. Os vivas e as palmas morreram lentamente.
— Will — ele disse numa voz que ecoou para os cantos mais distantes do aposento enorme — eu lhe devo a minha vida. Não há agradecimentos suficientes para isso. Porém tenho o poder de atender a um pedido que uma vez me fez...
Will olhou para ele sério.
— Um pedido, senhor? — ele perguntou bastante atordoado com as palavras do barão.
— Eu cometi um erro, Will. Você me perguntou se poderia aprender a ser um guerreiro. Você desejava se tornar um dos meus cavaleiros e eu recusei o pedido. Agora, posso consertar esse erro. Eu ficaria honrado de ter alguém tão corajoso e habilidoso como um dos meus cavaleiros. Terá minha permissão para se transferir para a Escola de Guerra como um dos aprendizes de sir Rodney.
O coração de Will saltou em seu peito. Ele pensou em como, durante toda a vida, havia desejado ser um cavaleiro. Ele se lembrou do profundo e amargo desapontamento no dia da Escolha, quando sir Rodney e o barão tinham recusado o seu pedido.
Sir Rodney deu um passo à frente, e o barão fez um gesto para que falasse.
— Meu senhor — disse o mestre de guerra — como sabe, fui eu quem recusou este garoto como aprendiz. Agora, quero que todos aqui saibam que eu estava errado. Eu, meus cavaleiros e meus aprendizes reconhecemos que não poderia haver membro mais valioso para a Escola de Guerra do que Will!
Os cavaleiros e aprendizes ali reunidos soltaram fortes gritos de aprovação. Com estrépito, desembainharam as espadas e as bateram ruidosamente acima de suas cabeças, gritando o nome de Will. Mais uma vez, Horace foi um dos primeiros a puxar o coro e o último a parar.
Aos poucos, o tumulto se aquietou e os cavaleiros guardaram as espadas. A um sinal do barão Arald, dois pajens se adiantaram, carregando uma espada e um escudo lindamente esmaltado que foram colocados aos pés de Will. O escudo tinha sido pintado com o desenho da cabeça de um feroz porco selvagem.
— Esse será o seu brasão quando se formar, Will — disse o barão com delicadeza — para lembrar ao mundo a primeira vez em que conhecemos a sua coragem e lealdade para com um companheiro.
O garoto apoiou-se em um dos joelhos e tocou a superfície lisa e esmaltada do escudo. Ele tirou a espada lenta e reverentemente da bainha. Era uma arma magnífica, uma obra-prima da arte da fabricação de espadas.
A lâmina era extremamente afiada e ligeiramente azulada. O cabo e a cruzeta eram incrustados em ouro, e o símbolo com a cabeça do porco selvagem repetia-se no punho. A espada parecia ter vida própria. Perfeitamente balanceada, era leve como uma pena. Ele olhou para essa maravilhosa espada adornada com joias e depois para o cabo de couro de sua faca de arqueiro.
— Essas são armas de cavaleiros, Will — o barão explicou. — Mas você provou repetidas vezes que é digno delas. Se desejar, elas serão suas.
Will deslizou a espada de volta na bainha e se levantou devagar. Ali estava tudo o que sempre desejou. E, mesmo assim...
Ele pensou nos longos dias na floresta com Halt. A enorme satisfação que sentiu quando uma de suas flechas atingiu o alvo, exatamente onde desejara, exatamente como tinha visto em pensamento antes de soltá-la. Ele pensou nas horas gastas aprendendo a seguir animais e homens. Aprendendo a arte de se esconder. Pensou em Puxão, na coragem e devoção do pônei.
E pensou no puro prazer que sentia quando ouvia o simples “bem-feito” de Halt quando completava uma tarefa a contento. E, de repente, tudo ficou claro. Ele olhou para o barão e disse com voz firme:
— Sou um arqueiro, senhor.
Houve um murmúrio de surpresa entre a multidão.
— Você tem certeza, Will? — o barão perguntou em voz baixa, chegando mais perto. — Não recuse essa oferta somente por achar que Halt vai ficar ofendido ou desapontado. Ele insistiu que isso depende de você e já concordou em aceitar sua decisão.
Will balançou a cabeça negativamente. Nunca tinha tido tanta certeza de algo.
— Eu agradeço a honra, senhor.
Ele olhou para o mestre de guerra e viu, para sua surpresa, que sir Rodney estava sorrindo e mostrando sua aprovação com a cabeça.
— E agradeça ao mestre de guerra e aos seus cavaleiros pela oferta generosa, mas sou um arqueiro — ele hesitou. — Não quero ofender ninguém com isso, senhor — ele terminou desajeitado.
Um enorme sorriso encrespou os traços do barão, e ele agarrou a mão de Will com força.
— Não estou ofendido, Will. De jeito nenhum! A sua lealdade para com o seu ofício e seu mestre de ofício são uma honra para você e todos os que o conhecem!
Ele deu um último aperto firme na mão de Will e a soltou.
Will se curvou e se virou para caminhar pelo longo corredor outra vez. Os vivas recomeçaram e, desta vez, ele manteve a cabeça erguida enquanto o barulho o envolvia e ecoava até o teto do Grande Salão. Então, ao se aproximar das grandes portas novamente, viu algo que o fez parar de imediato, perplexo e surpreso.
Pois ali parado, um pouco afastado da multidão, enrolado na capa cinza e verde, com os olhos sob a sombra do capuz, estava Halt.
E ele estava sorrindo.

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