domingo, 29 de setembro de 2013

Capitulo 31 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 1


A pousada na vila Wensley estava tomada por música, risos e barulho. Will estava sentado à mesa com Horace, Alyss e Jenny, enquanto o dono lhes servia um suculento jantar de ganso assado e legumes frescos da fazenda, seguido de uma deliciosa torta de mirtilo cuja massa leve ganhou até a aprovação de Jenny.
Tinha sido ideia de Horace comemorar a volta de Will para o Castelo Redmont com um banquete. As duas meninas tinham concordado imediatamente, ansiosas por uma pausa na rotina, que agora parecia um tanto monótona comparada aos acontecimentos de que Will tinha participado.
Naturalmente, a notícia sobre a batalha com os Kalkaras tinha se espalhado na vila como uma fogueira ao vento, uma comparação extremamente apropriada, na opinião de Will. Quando ele entrou na pousada com os amigos naquela noite, um silêncio curioso tomou conta do aposento e todos os olhares se voltaram para ele. Will ficou agradecido pelo fato de o grande capuz esconder o seu rosto, que corava rapidamente. Os três companheiros perceberam seu constrangimento. Jenny, como sempre, foi a primeira a reagir e a quebrar o silêncio que enchia a pousada.
— Vamos, gente séria! — ela gritou para os músicos perto da lareira. — Vamos ouvir um pouco de música! E um pouco de conversa também! — ela acrescentou a segunda sugestão com um olhar significativo para os outros ocupantes da sala.
Os músicos aceitaram a sugestão. Era difícil recusar qualquer coisa sugerida por Jenny. Rapidamente, eles começaram a tocar uma canção folclórica conhecida e o som dominou o salão. Aos poucos, os outros moradores perceberam que sua atenção estava deixando Will pouco a vontade e, lembrando-se das boas maneiras, recomeçaram a conversar, olhando apenas de vez em quando para o rapaz, admirando-se de que alguém tão jovem pudesse ter participado de acontecimentos tão importantes.
Os quatro antigos colegas protegidos do castelo sentaram-se a uma mesa no fundo da sala, onde poderiam conversar sem ser interrompidos.
— George mandou pedir desculpas — Alyss disse quando se sentaram. — Ele está atolado de serviço. Toda a Escola de Escribas está trabalhando dia e noite.
Will acenou compreensivo. A guerra iminente com Morgarath e a necessidade de mobilizar tropas e retomar antigas alianças certamente criara montanhas de papelada. Muita coisa tinha acontecido nos dez dias desde a batalha com os Kalkaras.
Depois de acampar junto das ruínas, Rodney e Will cuidaram dos ferimentos do barão Arald e de Halt, finalmente conseguindo fazer que os dois homens dormissem tranquilamente. Logo depois do amanhecer, Abelard entrou trotando no acampamento, procurando ansiosamente pelo dono. Will tinha acabado de acalmar o animal quando Gilan chegou exausto, cavalgando um pequeno cavalo de trabalho. Agradecido, o alto arqueiro recuperou Blaze.
Então, depois de se convencer de que o antigo mestre não corria perigo, partiu quase imediatamente para o próprio feudo, depois que Will prometeu devolver o cavalo ao lavrador.
Mais tarde naquele dia, Will, Halt, Rodney e Arald tinham voltado ao Castelo Redmont, onde mergulharam numa atividade ininterrupta para preparar os guerreiros do castelo para a guerra. Havia milhares de detalhes a serem acertados, mensagens a serem enviadas e convocações a serem entregues. Como Halt ainda estava se recuperando do ferimento, grande parte desse trabalho tinha recaído sobre Will.
Ele percebeu que em épocas como aquela um arqueiro tinha pouco tempo para relaxar, o que tornava aquela noite uma diversão bem-vinda. O dono da pousada foi afobado até a mesa deles e colocou sobre ela quatro canecas de vidro e uma jarra da cerveja sem álcool, que ele preparava com gengibre.
— Hoje é por conta da casa — ele avisou. — Estamos honrados por ter você em nosso estabelecimento, arqueiro.
Ele se afastou, chamando um de seus ajudantes para atender a mesa de Will.
— E seja bem rápido! — ele ordenou.
Alyss olhou para ele surpresa.
— É bom estar com uma celebridade — ela disse. — O velho Skinner geralmente segura as moedas com tanta força que a cabeça do rei fica sufocada.
— As pessoas exageram — Will disse com um gesto de indiferença.
Mas Horace se inclinou para a frente com os cotovelos na mesa.
— Então conte para a gente como foi a luta — ele pediu ansioso por detalhes.
Jenny olhou para Will de olhos arregalados.
— Não acredito que vocês tenham sido tão corajosos! — ela disse com admiração. — Eu teria ficado apavorada.
— Para falar a verdade, eu estava petrificado — Will confessou para eles com um sorriso triste. — O barão e sir Rodney foram os corajosos. Eles atacaram e enfrentaram as criaturas bem de perto. Eu fiquei a 40 ou 50 metros de distância o tempo todo.
Will descreveu os acontecimentos da batalha sem entrar em muitos detalhes sobre a aparência dos Kalkaras. Eles estavam mortos e acabados e seria melhor esquecê-los o mais depressa possível. Não era necessário se preocupar com determinadas coisas. Os três colegas ouviam, Jenny de olhos arregalados e entusiasmada, Horace ansioso por detalhes da luta e Alyss calma e digna como sempre, mas totalmente atenta a história. Quando ele descreveu sua cavalgada solitária para buscar ajuda, Horace balançou a cabeça admirado.
— Esses cavalos dos arqueiros devem ser de uma raça especial.
Will sorriu para ele, incapaz de resistir a fazer o comentário engraçado que tinha vindo à sua mente.
— O truque é se manter em cima deles — ele disse, ficando satisfeito ao ver um sorriso igual surgir no rosto de Horace quando ambos lembraram a cena da Feira do Dia da Colheita.
Ele percebeu, com um leve toque de prazer, que seu relacionamento com Horace tinha se transformado numa amizade profunda em que os dois se viam como iguais. Ansioso para sair de baixo dos holofotes, ele perguntou ao amigo como ia a vida na Escola de Guerra. O sorriso no rosto do garoto maior se alargou.
— Muito melhor, graças ao Halt — ele disse e, quando Will habilmente o cobriu de mais perguntas, ele descreveu a vida na Escola de Guerra, brincando sobre seus erros e fracassos, rindo quando contou quantas vezes tinha sido punido.
Will percebeu que Horace, antes um pouco exibido e arrogante, estava muito mais modesto ultimamente. Ele desconfiava de que Horace estava se saindo melhor como aprendiz de guerreiro do que deixava transparecer.
Foi uma noite agradável, principalmente depois da tensão e do terror da caçada aos Kalkaras. Quando os ajudantes tiraram os pratos, Jenny sorriu esperançosa para os dois garotos.
— Muito bem! Agora, quem vai dançar comigo? — ela perguntou alegremente, e Will foi lento demais para responder.
Horace tomou a mão dela e a levou para a pista de dança. Quando eles se juntaram aos demais dançarinos, Will olhou para Alyss sem saber bem o que fazer. Ele nunca sabia dizer o que a garota estava pensando. Achou que talvez fosse educado também convidá-la para dançar. Então pigarreou nervoso.
— Ahn... você também gostaria de dançar, Alyss? — convidou desajeitado.
Ela lhe ofereceu somente o leve sinal de um sorriso.
Acho que não, Will. Não sou uma boa dançarina. Parece que tenho pernas de pau.
Na verdade, ela era uma excelente dançarina, mas, diplomata nata como era, percebeu que Will só a tinha convidado por educação. Então os dois mergulharam no silêncio, mas um tipo de silêncio amistoso.
Depois de alguns minutos, ela se virou para ele com o queixo apoiado na mão para observá-lo com atenção.
— Vai ser um grande dia para você amanhã — ela disse, e ele corou.
Ele tinha sido convocado para aparecer diante de toda a corte do barão no dia seguinte.
— Não sei por que tudo isso — ele balbuciou.
— Ele possivelmente quer lhe agradecer em público — Alyss disse, sorrindo para ele. — Ouvi dizer que barões gostam de fazer isso com pessoas que salvaram suas vidas.
Will começou a dizer alguma coisa, mas ela pousou a mão macia e fria sobre a dele, e ele parou. Ele olhou aqueles olhos cinzentos, calmos e sorridentes. Alyss nunca tinha lhe parecido bonita, mas agora percebeu que sua elegância, sua graça e seus olhos cinzentos, emoldurados por cabelos loiros delicados, criavam um encanto natural que ultrapassava de longe uma simples beleza. Surpreendentemente, ela se inclinou para perto e sussurrou:
— Estamos todos orgulhosos de você, Will. E acho que eu sou a mais orgulhosa de todos.
Então Alyss o beijou. Os lábios dela eram incrivelmente, indescritivelmente macios. Horas mais tarde, antes de finalmente adormecer, ele ainda podia senti-los. 

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