quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Capitulo 3 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 1

— Quem é o próximo? — Martin perguntou enquanto Horace, com um grande sorriso, voltava para a fila.
Alyss se adiantou com graça, aborrecendo Martin, que queria indicá-la como a próxima candidata.
— Alyss Mainwaring, meu senhor — ela disse com a voz baixa e uniforme. Então, antes que lhe perguntassem qualquer coisa, continuou: — Por favor, solicito uma indicação para o Serviço Diplomático, meu senhor.
Arald sorriu para a garota de aspecto solene. Ela tinha um ar de autoconfiança e dignidade que a ajudaria muito no Serviço. Ele olhou para lady Pauline.
— Senhora?
Ela concordou com um gesto de cabeça.
— Já falei com Alyss, meu senhor. Acredito que ela seja uma excelente candidata. Aprovada e aceita.
Alyss curvou levemente a cabeça na direção da mulher que seria a sua mentora. Will pensou em como eram parecidas as duas eram altas e tinham movimentos elegantes e maneiras reservadas. Ele sentiu uma leve onda de prazer por sua colega mais antiga, pois sabia o quanto ela queria ser escolhida. Alyss voltou para a fila, e Martin, para não ser passado para trás novamente, já apontava para George.
— Muito bem! Você é o próximo! Você é o próximo! Dirija-se ao barão.
George deu um passo à frente. Sua boca abriu e fechou várias vezes, mas nenhum som saiu. Os demais protegidos o observavam surpresos. George, considerado há muito tempo advogado oficial deles para quase tudo, estava dominado pelo nervosismo. Finalmente, conseguiu dizer algo, mas em voz tão baixa que ninguém na sala o ouviu. O barão Arald se inclinou para a frente, com a mão em concha atrás da orelha:
— Desculpe, mas não entendi o que falou.
George olhou para o barão e, com enorme esforço, falou com voz ainda baixa.
— G-George Carter, senhor. Escola de Escribas, senhor.
Martin, sempre um defensor da correção, respirou fundo para repreendê-lo por sua fala truncada, mas, antes que pudesse fazê-lo e para alívio evidente de todos, o barão interferiu.
— Tudo bem, Martin. Deixe para lá.
Martin pareceu um pouco ofendido, mas se calou.
O barão olhou para Nigel, o chefe dos escribas e responsável por assuntos legais, que estava com uma sobrancelha erguida, com ar de interrogação.
— Aceitável, meu senhor — Nigel declarou. — Já vi alguns trabalhos de George, e ele realmente tem o dom da caligrafia.
— Ele não impressiona muito como orador, não é mesmo, mestre? — o barão comentou em tom de dúvida.
— Isso poderá ser um problema se tiver que oferecer aconselhamento legal no futuro.
— Eu lhe garanto, meu senhor, que com treinamento adequado esse tipo de falha não vai representar problema.
Entusiasmado com o tema, o mestre escriba juntou as mãos debaixo das mangas largas do hábito, parecido com o de um monge.
— Lembro-me de um garoto parecido com ele que esteve conosco há muitos anos. Ele tinha o mesmo hábito de murmurar, mas nós logo lhe mostramos como superar essa dificuldade. Alguns de nossos oradores mais hesitantes acabaram por ficar muito eloquentes, meu senhor, muito eloquentes.
O barão respirou fundo para responder, mas Nigel continuou seu discurso.
— Talvez o senhor fique surpreso em saber que, quando menino, eu sofria de uma terrível gagueira nervosa. Absolutamente terrível, meu senhor. Eu mal conseguia dizer duas palavras uma após a outra.
— Vejo que isso não é mais problema agora — o barão conseguiu comentar secamente, e Nigel sorriu e curvou-se para o barão.
— Exatamente, meu senhor. Nós vamos ajudar George a superar a sua timidez. Nada como a agitação da Escola de Escribas. Sem dúvida.
O barão não conseguiu evitar um sorriso. A Escola de Escribas era um lugar dedicado aos estudos onde raramente as vozes se erguiam e onde o debate lógico e racional reinava supremo. Pessoalmente, em suas visitas, tinha considerado o local extremamente monótono e não conseguia imaginar nada menos agitado.
— Acredito em você — ele retrucou. — Bem, George, pedido aceito. Apresente-se à Escola de Escribas amanhã.
George arrastou os pés desajeitado, resmungou algumas palavras, e o barão se inclinou outra vez, franzindo a testa ao tentar entender o que o rapaz tinha dito.
— O que você disse?
George finalmente olhou para cima.
— Obrigado, meu senhor.
E então voltou rapidamente para a fila.
— Ah! Não foi nada — o barão disse um tanto surpreso. — Agora, o próximo é...
Jenny já se adiantava. Loira e bonita, ela também era, para falar a verdade, um pouco gordinha. Mas os quilos a mais lhe caíam bem e, em qualquer reunião social, a moça era muito solicitada para dançar com os garotos, tanto os colegas dos protegidos, quanto os filhos dos funcionários do castelo.
— Mestre Chubb, senhor! — ela disse, aproximando-se da beira da escrivaninha.
O barão olhou para o rosto redondo da menina, viu a ansiedade brilhando naqueles olhos azuis e não conseguiu evitar sorrir para ela.
— O que tem ele? — o barão perguntou delicadamente e a moça hesitou, percebendo que, em seu entusiasmo, tinha atropelado o protocolo da Escolha.
— Oh! Perdão, senhor... meu... barão... — ela improvisou rapidamente, gaguejando enquanto tentava corrigir o modo de falar.
— Meu senhor! — Martin interrompeu.
O barão Arald olhou para ele surpreso.
— Sim, Martin, o que foi?
Martin ficou constrangido, pois percebeu que seu mestre estava entendendo mal o propósito de sua interrupção.
— Eu... simplesmente queria informar que o nome da candidata é Jennifer Dalby, senhor — ele respondeu em tom de desculpas.
O barão assentiu, e Martin, um servo dedicado, viu o olhar de aprovação no rosto de seu patrão.
— Obrigado, Martin. Agora, Jennifer Dalby...
— Jenny, senhor — informou a garota.
— Jenny, então — o barão respondeu, dando de ombros resignado. — Suponho que você esteja se candidatando para ser aprendiz de mestre Chubb.
— Ah, sim, por favor, senhor! — Jenny respondeu sem fôlego, virando os olhos cheios de adoração para o cozinheiro corpulento e ruivo.
Chubb a olhou pensativo e de cara feia.
— Hum... pode ser, pode ser — ele balbuciou, andando de um lado a outro na frente dela.
A garota sorriu para ele simpática, mas Chubb era imune a esses artifícios femininos.
— Vou trabalhar duro, senhor — ela garantiu com seriedade.
— Sei disso! — ele retrucou um tanto divertido. — Eu vou garantir que sim, menina. Ninguém fica à toa conversando na minha cozinha, pode ter certeza.
Temendo que sua oportunidade pudesse estar escorregando por entre os dedos, Jenny usou o seu maior trunfo.
— Eu tenho o corpo ideal para isso — ela afirmou.
Chubb tinha que concordar que ela era bem nutrida. Arald, não pela primeira vez naquela manhã, escondeu um sorriso.
— Ela tem razão nesse ponto, Chubb — ele comentou, e o cozinheiro virou-se para o barão, mostrando estar de acordo.
— O corpo é importante, senhor. Todos os grandes cozinheiros costumam ser... um pouco cheios.
Ele se virou para a moça ainda pensativo. Se os outros queriam aceitar seus alunos num piscar de olhos era problema deles, mas cozinhar era uma coisa especial.
— Diga-me — ele pediu à menina ansiosa — o que você faria com uma torta de peru?
— Eu iria comê-la — Jenny respondeu imediatamente, sorrindo de modo encantador.
Chubb deu uma pancadinha na cabeça dela com a colher de pau.
— Eu estava me referindo ao modo de prepará-la.
Jenny hesitou, pensou e então iniciou uma longa descrição técnica de como assaria a sua obra-prima. Os outros quatro protegidos, o barão, os mestres de ofício e Martin ouviram tudo com certa admiração, porém sem entender nada do que ela dizia. Chubb, entretanto, assentiu várias vezes enquanto ela falava e a interrompeu quando ela deu detalhes sobre como abrir a massa.
— Você disse nove vezes? — ele perguntou curioso, e Jenny concordou, certa do que dizia:
— Minha mãe sempre dizia: “Oito vezes para deixá-la folhada e mais uma vez com um toque de amor.”
Chubb assentiu pensativo.
— Interessante. Interessante — ele comentou, olhando então para o barão. — Vou ficar com ela, meu senhor.
— Que surpresa — o barão retrucou com suavidade. — Muito bem, apresente-se na cozinha pela manhã, Jennifer — ele acrescentou.
— Jenny, senhor — a menina corrigiu novamente com um sorriso que iluminou a sala.
O barão Arald sorriu e observou o pequeno grupo diante dele.
— Ainda temos mais um candidato.
Ele consultou a lista e então olhou para Will, que estava inquieto. O barão lhe fez um gesto de encorajamento.
Will deu um passo à frente, sentindo o nervosismo secar sua garganta de repente e fazer que sua voz se transformasse num mero sussurro.
— Will, senhor. O meu nome é Will.

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