domingo, 29 de setembro de 2013

Capitulo 28 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 1


A cavalgada até o Castelo Redmont logo se transformou numa viagem cansativa. Os dois cavalos mantiveram o passo uniforme para o qual tinham sido treinados. É claro que houve a tentação de fazer que Puxão disparasse num galope violento, seguido por Blaze, mas Will sabia que esse ritmo o levaria ao fracasso. Ele estava avançando de acordo com a velocidade mais adequada aos cavalos, porque o Velho Bob, o treinador de cavalos, tinha lhe dito que os cavalos dos arqueiros podiam trotar o dia todo sem se cansar.
Para o cavaleiro, a questão era muito diferente.
Além do esforço físico de se mover constantemente ao ritmo do cavalo que estava montando e os dois animais tinham passadas totalmente desiguais devido à diferença de tamanho havia a tensão mental igualmente debilitante.
E se Halt estivesse enganado? E se, de repente, os Kalkaras tivessem desviado para o oeste e estivessem agora num curso que poderia intercepta-lo? E se ele cometesse algum erro terrível e não conseguisse chegar a Redmont a tempo?
O último receio, o medo causado pela insegurança, era o mais difícil de enfrentar. Apesar do duro treinamento que tinha recebido nos últimos meses, ele ainda era pouco mais que um garoto. E, o que era mais importante, antes sempre tinha podido contar com o julgamento e a experiência de Halt. Agora estava sozinho. E sabia o quanto dependia de sua habilidade para realizar a tarefa que tinha recebido.
Os pensamentos, as dúvidas, os medos enchiam sua mente cansada, tropeçando uns sobre os outros, acotovelando se em busca de posição. O Rio Salmon veio e foi sob o ritmo constante dos cascos de seus cavalos. Will parou rapidamente para dar de beber aos animais na ponte e então, já na Estrada do Rei, fez um tempo excelente, parando apenas rapidamente em intervalos regulares para mudar de montaria.
As sombras do dia ficaram mais compridas, e as árvores que pendiam sobre a estrada ficaram escuras e ameaçadoras. Cada barulho, cada movimento visto vagamente nas sombras, levava seu coração à boca. Aqui, uma coruja piava e se lançava com as garras prontas para apanhar um rato descuidado. Ali, um texugo espreitava, caçando sua presa como uma sombra cinzenta nos arbustos da floresta. A cada movimento ou barulho, a imaginação de Will trabalhava sem parar. Ele começou a ver enormes vultos negros parecidos com os Kalkaras de sua imaginação em cada sombra, em cada grupo escuro de moitas que se mexia com a leve brisa. A razão lhe disse que seria muito improvável que os Kalkaras o estivessem procurando. A imaginação e o medo responderam que eles estavam lá fora em algum lugar. E quem podia garantir que não estavam perto?
A imaginação e o medo venceram.
E assim a noite longa e cheia de pavor passou, até que a luz baixa da madrugada encontrou um vulto curvado na sela de um cavalo forte de peito largo que galopava constantemente na direção do noroeste.
Will cochilou na sela e despertou com um susto, sentindo o calor dos raios do sol em cima dele. Delicadamente, puxou as rédeas de Puxão, e o pequeno cavalo ficou parado de cabeça baixa, respirando fundo. Will se deu conta de que tinha cavalgado durante muito mais tempo do que deveria e que o medo o tinha feito manter Puxão correndo na escuridão quando deveria tê-lo deixado descansar muito tempo atrás. Ele desmontou rígido, com o corpo todo dolorido, e parou para esfregar o focinho do cavalo com afeto.
— Desculpe, garoto — ele disse.
Puxão, reagindo ao toque e à voz que agora conhecia tão bem, moveu a cabeça e sacudiu a crina desgrenhada. Se Will tivesse pedido, ele teria continuado sem se queixar, até cair. Will olhou ao redor. A luz alegre da manhã tinha dispersado todos os temores sombrios da noite anterior. Agora, ele se sentia um pouco tolo ao lembrar os momentos de pânico paralisante.
Will soltou as tiras da barrigueira da sela e deu ao seu cavalo uma pausa de dez minutos até que a respiração dele se acalmasse. Em seguida, maravilhado com o poder de recuperação e a resistência da raça de cavalos dos arqueiros, apertou a barrigueira na sela de Blaze e saltou no lombo do baio, gemendo levemente. Os cavalos dos arqueiros podiam se recuperar rapidamente, mas seus aprendizes levavam um pouco mais de tempo.
A manhã já estava no fim quando Will finalmente conseguiu ver o castelo Redmont. Estava montando Puxão outra vez quando atravessaram a última fileira de colinas e o vale verde do baronato Arald. O pequeno cavalo aparentemente não tinha sido afetado pela noite dura que tinha enfrentado.
Exausto, Will parou por alguns segundos e se apoiou no alto da sela. Eles tinham vindo para muito longe e bem depressa. Aliviado, observou os arredores conhecidos do castelo e a pequena vila simpática que se aninhava satisfeita em sua sombra. Fumaça saía das chaminés, fazendeiros caminhavam lentamente dos campos para casa, para a refeição do meio-dia. O castelo era sólido e tranquilizador em sua magnitude no alto da colina.
— Parece tudo tão... normal — Will disse para o cavalo.
Ele percebia que, de alguma forma, tinha esperado encontrar as coisas mudadas. O reino estava para entrar em guerra outra vez depois de quinze anos, mas ali a vida continuava normalmente.
Então, ao se dar conta de que estava perdendo tempo, ele fez Puxão andar mais depressa até atingir um galope, pois tanto o garoto quanto o cavalo estavam ansiosos para terminar esse último trecho da jornada.
Surpresas, as pessoas olhavam a passagem do pequeno vulto verde e cinza agachado sobre o pescoço do cavalo empoeirado, seguido por um cavalo baio maior.
Um ou dois habitantes reconheceram Will e o cumprimentaram, mas suas palavras se perderam no barulho dos cascos.
O estrépito se transformou num martelar ressonante quando dispararam sobre a ponte levadiça abaixada e entraram no pátio dianteiro do castelo. Então, o martelar se tornou um estrondo apressado sobre as pedras da entrada. Will puxou as rédeas levemente, e Puxão parou na porta da torre do barão Arald.
Os dois homens armados que estavam de serviço, surpresos com o aparecimento repentino e ritmo vertiginoso do garoto, deram um passo à frente e barraram sua passagem com as lanças cruzadas.
— Pare aí, você! — disse um deles com aspereza. — Aonde pensa que vai com tanta pressa e fazendo tanto barulho?
Will abriu a boca para responder, mas antes de poder dizer alguma coisa uma voz zangada trovejou atrás dele.
— Que raios você pensa que está fazendo, seu idiota? Não reconhece um arqueiro do rei quando o vê?
Era sir Rodney, atravessando o pátio para ver o barão. As duas sentinelas ficaram em posição de sentido quando Will se virou agradecido para o mestre de guerra.
— Sir Rodney — ele disse. — Tenho uma mensagem urgente de Halt para lorde Arald e o senhor.
Como Halt tinha comentado com Will depois da caçada ao porco selvagem, o mestre de guerra era um homem esperto. Ele viu as roupas amarrotadas de Will e os dois cavalos cansados e percebeu que não era hora de fazer perguntas idiotas. Indicou a porta com o polegar.
— Melhor entrar e contar tudo. Mandem cuidar desses cavalos — ele ordenou aos guardas. — Dêem água e comida para eles.
— Só um pouco de cada, sir Rodney, por favor — Will acrescentou depressa. — Apenas uma pequena quantidade de grãos e água e talvez uma escovada. Vou precisar deles logo.
Sir Rodney o olhou surpreso. Will e os cavalos davam a impressão de necessitar de um longo descanso.
— Deve ser alguma coisa muito urgente — ele respondeu. — Então, cuidem dos cavalos. peçam para alguém levar comida e uma jarra de leite frio para o escritório do barão — ele pediu aos guardas.


Os dois cavaleiros assobiaram espantados quando Will lhes contou as novidades.
Já se sabia que Morgarath estava reunindo um exército, e o barão tinha enviado mensageiros para formar tropas compostas de cavaleiros e homens armados. Mas as informações sobre os Kalkaras eram algo totalmente diferente, e não havia indícios de que eles tinham se aproximado do Castelo Redmont.
— Halt acha que eles podem estar atrás do rei? — o barão Arald perguntou quando Will terminou de falar.
O garoto assentiu.
— Sim, senhor. Mas acho que há outra possibilidade — Will acrescentou depois de hesitar.
Ele não queria continuar, mas o barão fez um gesto para que prosseguisse, e Will finalmente externou a suspeita que vinha crescendo dentro dele.
— Senhor... eu acho que é possível que eles estejam atrás do próprio Halt.
Depois de dizer o que pensava e de ter exposto seu receio, ele se sentiu melhor. De alguma forma, para sua surpresa, o barão Arald não rejeitou a ideia. Ele afagou a barba pensativo, enquanto digeria as palavras que tinha ouvido.
— Continue — ele disse, querendo ouvir o raciocínio de Will.
— É que Halt acha que Morgarath talvez queira se vingar, punir os que lutaram contra ele da última vez. E eu acho que foi Halt quem mais o prejudicou, não é mesmo?
— Isso é verdade — Rodney concordou.
— E achei que talvez os Kalkaras soubessem que os estávamos seguindo, que o homem da planície teve tempo suficiente para encontrar eles. E que talvez eles estivessem atraindo Halt até encontrarem um lugar para uma emboscada. Assim, enquanto ele pensa que está caçando os Kalkaras, na verdade é ele quem está sendo caçado.
— E as Ruínas de Gorlan seriam o lugar ideal para isso — Arald concordou. — Naquele amontoado de pedras, eles podem chegar até Halt antes que ele tenha a chance de usar seu arco. Bem, Rodney, não há tempo a perder. Você e eu vamos imediatamente. Meia armadura, eu acho. Vamos ser mais rápidos dessa forma. Lanças, machados e espadas. E vamos levar dois cavalos cada; vamos seguir o exemplo de Will. Partiremos dentro de uma hora. Diga para Karel reunir dez cavaleiros e nos seguir assim que puder.
— Sim, meu senhor — o mestre de guerra respondeu.
O barão Arald se voltou para Will.
— Você fez um bom trabalho, Will. Vamos cuidar de tudo agora. E parece que você poderia aproveitar algumas horas de um bom sono.
Exausto, com dor em todos os músculos e juntas, Will endireitou o corpo.
— Gostaria de ir com vocês, senhor — ele percebeu que o barão ia discordar e acrescentou rapidamente. — Senhor, nenhum de nós sabe o que vai acontecer, e Gilan está lá fora em algum lugar a pé. Além disso... — ele hesitou.
— Continue, Will — o barão pediu em voz baixa e, quando o garoto olhou para cima, Arald viu frieza em seu olhar.
— Halt é meu mestre, senhor, e ele está em perigo. Meu lugar é ao lado dele — Will acrescentou.
O barão o avaliou com um olhar penetrante e então tomou uma decisão.
— Muito bem. Mas, pelo menos, tente descansar por uma hora. Há uma cama naquele anexo ali — ele ofereceu, indicando uma seção separada por uma cortina ao lado do escritório. — Por que não a usa?
— Sim, senhor — Will concordou agradecido.
Suas pálpebras pesavam como se estivessem cheias de areia. Ele nunca se sentira mais feliz em obedecer a uma ordem em toda a sua vida.

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