sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Capitulo 22 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 1


Will estava treinando na vasta campina atrás da cabana de Halt. Ele tinha colocado quatro alvos em distâncias diferentes e estava alternando os tiros aleatoriamente entre os quatro, nunca atirando no mesmo duas vezes seguidas. Halt tinha preparado o exercício para ele antes de ir ao escritório do barão para discutir um comunicado do rei.
— Se você atirar duas vezes no mesmo alvo, vai começar a contar com o primeiro tiro para determinar sua direção e elevação. Dessa forma, nunca vai aprender a atirar instintivamente. Sempre vai precisar atirar primeiro num alvo visível.
Will sabia que seu mestre estava certo. Mas isso não tornou o exercício mais fácil. Para aumentar a dificuldade, Halt tinha determinado que ele não deveria deixar passar mais que cinco segundos entre um tiro e outro.
Com a testa franzida pela concentração, ele soltou as cinco últimas flechas de um conjunto. Uma após outra, numa sucessão rápida, elas dispararam pela campina, atingindo os alvos. Will, com a aljava vazia pela décima vez naquela manhã, parou para analisar os resultados e balançou a cabeça satisfeito. Todas as flechas tinham atingido o alvo, e a maioria estava amontoada no círculo central ou na mosca. Sua pontaria era excelente e o fez valorizar a prática constante.
É claro que ele não sabia, mas havia poucos arqueiros no reino fora do Corpo de Arqueiros que podiam se comparar a ele. Até mesmo os arqueiros do exército do rei não eram treinados para atirar com essa velocidade e precisão individual. Eles eram treinados para atirar em grupo e mandar uma grande quantidade de flechas contra uma força atacante. Como resultado, o seu treinamento se concentrava mais em ações coordenadas para que todas as flechas fossem atiradas ao mesmo tempo.
Will tinha acabado de soltar o arco e estava se preparando para recuperar as flechas quando o som de passos atrás dele fez que se virasse. Ele ficou um pouco surpreso ao ver três aprendizes da Escola de Guerra observando-o, os casacos vermelhos indicando que eram alunos do 2° ano. Não reconheceu nenhum deles, mas acenou num cumprimento amistoso.
— Bom-dia. O que estão fazendo aqui?
Não era comum ver aprendizes da Escola de Guerra tão longe do castelo. Will notou as grossas bengalas que carregavam e imaginou que tinham saído para uma caminhada. O que estava mais perto, um garoto loiro e bonito, sorriu e disse:
— Estamos procurando o aprendiz de arqueiro.
Will não conseguiu evitar devolver o sorriso. Afinal, a capa que ele usava mostrava, sem possibilidade de erro, que era um aprendiz de arqueiro. Mas talvez o aprendiz da Escola de Guerra apenas estivesse sendo educado.
— Bom, vocês encontraram ele. O que posso fazer por vocês?
— Trouxemos um recado da Escola de Guerra para você — o garoto respondeu.
Como todos os alunos da Escola de Guerra, ele e os companheiros eram altos e musculosos. Os três se aproximaram, e Will recuou um passo instintivamente, pois achou que os garotos estavam próximos demais. Mais do que precisariam estar para dar um recado.
— É sobre o que aconteceu na caçada ao porco selvagem — começou um deles.
Era o garoto de cabelos ruivos, muitas sardas no rosto e um nariz que mostrava sinais claros de que tinha sido quebrado, provavelmente num dos treinos de combate em que os alunos da Escola de Guerra sempre participavam.
Will deu de ombros, pouco à vontade. Havia alguma coisa no ar de que ele não gostava. O garoto loiro ainda estava sorrindo, mas nem o garoto ruivo nem o terceiro companheiro, um menino moreno que era o mais alto dos três, pareciam achar que havia motivos para sorrir.
— Vocês sabem que as pessoas estão falando um monte de bobagens sobre isso. Não fiz muita coisa — Will contou.
— Nós sabemos — o garoto ruivo disparou zangado, e novamente Will deu um passo atrás quando eles se aproximaram um pouco mais.
O treinamento de Halt estava fazendo soar um alarme de advertência em sua mente. “Nunca deixe as pessoas chegarem perto demais de você”, ele tinha dito. “Se tentarem, fique atento, não importa quem sejam ou o quanto você ache que são amistosas.”
— Mas, quando você sai por aí dizendo a todos que salvou um aprendiz grande e desajeitado da Escola de Guerra, você nos faz parecer idiotas — o garoto alto acusou.
Will olhou para ele de testa franzida.
— Eu nunca disse isso! — protestou. — Eu...
E nesse momento, enquanto estava sendo distraído por Bryn, Alda fez um movimento, aproximando-se rapidamente com o saco aberto para jogá-lo na cabeça de Will. Foi a mesma tática que usaram com sucesso com Horace, mas Will já estava em guarda, portanto pressentiu o ataque e reagiu.
Inesperadamente, ele mergulhou na direção de Alda e virou o corpo num salto mortal, passando por baixo do saco. Em seguida, com um rápido movimento circular das pernas, atingiu as pernas de Alda e derrubou o garoto maior na grama. Mas eles eram três, e Will não podia enfrentá-los ao mesmo tempo. Ele escapou de Alda e Bryn, mas, quando completou o movimento e se levantou, Jerome o atacou com a bengala, atingindo as suas costas na altura dos ombros.
Com um grito de dor e susto, Will cambaleou para a frente. Bryn deu novo impulso à bengala e bateu nele de lado. Nesse momento, Alda já tinha recuperado o equilíbrio, furioso com a forma como Will tinha escapado, e também o golpeou nos ombros.
A dor era insuportável e, com um soluço de agonia, Will caiu de joelhos.
No mesmo instante, os três aprendizes da Escola de Guerra se aproximaram e o cercaram, impedindo que fugisse, erguendo as pesadas bengalas para continuar a surra.
— Já chega!
A voz inesperada fez que parassem. Will, encolhido no chão com a cabeça coberta por um braço, esperando que o ataque começasse, olhou para cima e viu Horace, contundido e machucado, parado a alguns metros de distância.
Ele segurava uma das espadas de exercício da Escola de Guerra na mão direita. Um de seus olhos estava preto e havia sangue escorrendo do seu lábio. Mas seu olhar mostrava um ódio e uma determinação que, por um momento, fez os três garotos mais velhos hesitarem. Então eles lembraram que eram maioria e que a espada de Horace não era, afinal, uma arma melhor do que as bengalas que usavam. Esquecendo Will por um instante, abriram o círculo e se moveram na direção de Horace com as bengalas prontas para o ataque.
— O bebê nos seguiu — Alda disse.
— O bebê quer outra surra — Jerome acrescentou.
— E o bebê vai ter o que quer Bryn — concluiu, sorrindo com confiança.
Mas então um grito de medo foi arrancado de seus lábios quando uma força repentina e incontrolável atingiu a bengala, arrancando-a de sua mão e fazendo-a voar para o chão a vários metros de distância.
Um grito parecido à sua direita lhe disse que a mesma coisa tinha acontecido com Jerome.
Confuso, Bryn olhou à sua volta e procurou as duas bengalas. Com uma sensação de desespero, viu que tinham sido atravessadas por flechas de haste preta.
— Acho que um de cada vez é mais justo, não é? — Halt perguntou.
Bryn e Jerome sentiram-se invadidos pelo terror quando olharam para cima e viram o rosto carrancudo do arqueiro parado nas sombras, a 10 metros de distância, com outra flecha já posicionada na corda do comprido arco.
Apenas Alda mostrou algum sinal de rebeldia.
— Isso é assunto da Escola de Guerra, arqueiro — ele disse, tentando resolver a situação com um tom ameaçador. — É melhor você ficar de fora.
Will, levantando-se vagarosamente, viu a raiva que queimava no fundo dos olhos de Halt diante daquelas palavras arrogantes. Por um momento, quase sentiu pena de Alda, mas então a dor lancinante nas costas e nos ombros fez que quaisquer pensamentos de simpatia fossem afastados no mesmo instante.
— Assunto da Escola de Guerra, garoto? — Halt disse numa voz perigosamente baixa.
Ele deu um passo à frente, cobrindo a distância que o separava de Alda com alguns passos rápidos. Antes que Alda se desse conta, Halt estava a menos de 1 metro dele. Mesmo assim, o aprendiz continuou com sua atitude desafiadora. O olhar sombrio no rosto de Halt era perturbador, mas, de onde estava, Alda concluiu que era bem mais alto que o arqueiro, e sua confiança voltou. O homem misterioso que agora estava à sua frente sempre o deixara inquieto. Alda nunca tinha percebido que figura insignificante ele era na realidade.
Esse foi o segundo erro do rapaz naquele dia. Halt era pequeno, mas insignificante não era uma palavra que se aplicava a ele. Além disso, Halt tinha passado a vida toda lutando contra adversários muito mais perigosos do que um aprendiz do 2° ano da Escola de Guerra.
— Parece que eu vi um aprendiz de arqueiro sendo atacado — Halt disse numa voz perigosamente baixa. — Acho que isso faz a coisa ser assunto meu também, não concorda?
Alda deu de ombros confiante de que agora poderia lidar com qualquer atitude que o arqueiro fosse tomar.
— Se quer que seja assunto seu, tudo bem — ele respondeu em tom zombeteiro. — Eu realmente não me importo.
Halt balançou a cabeça várias vezes enquanto digeria aquelas palavras.
— Bem, então acho que esse assunto é meu, sim, mas não vou precisar disto — ele respondeu, recolocando a flecha na aljava e jogando o arco para o lado enquanto se virava para trás.
Inadvertidamente, os olhos de Alda seguiram os movimentos do arqueiro, e o rapaz sentiu uma dor lancinante quando Halt deu um chute para trás e atingiu o pé do aprendiz com sua bota, ferindo-o entre o tornozelo e a canela. Quando Alda se dobrou para agarrar o pé machucado, o arqueiro girou sobre o calcanhar esquerdo e atingiu o nariz do aprendiz com o cotovelo. O golpe o jogou para cima novamente e o fez cambalear para trás, com os olhos marejados por causa da dor. Durante alguns segundos, a visão de Alda ficou embaçada e ele sentiu uma leve sensação de formigamento debaixo do queixo. Quando voltou a enxergar, viu que os olhos do arqueiro estavam somente a alguns centímetros dos seus. Não havia raiva neles, apenas desprezo e descaso que, de certa forma, eram muito mais assustadores.
A sensação de formigamento ficou um pouco mais pronunciada e, quando tentou olhar para baixo, Alda abafou um grito de medo. A faca maior de Halt, afiada e com uma ponta de agulha, estava encostada em seu queixo e pressionava levemente a carne macia de sua garganta.
— Nunca mais fale comigo desse jeito, garoto — o arqueiro recomendou em voz tão baixa que Alda teve que se esforçar para ouvir. E nunca mais ponha as mãos no meu aprendiz. Entendeu?
Alda, esquecendo totalmente a arrogância e com o coração saltando de pavor, não conseguiu dizer nada. A faca espetou sua garganta com um pouco mais de força, e ele sentiu um fio quente de sangue escorrer por seu colarinho. De repente, os olhos de Halt faiscaram como brasas numa lareira.
— Entendeu?
— Sim... senhor — Alda grunhiu em resposta.
Halt deu um passo para trás, guardando a faca na bainha num movimento rápido.
Alda caiu no chão, massageando o tornozelo dolorido. Ele tinha certeza de que tinha rompido os tendões. Ignorando-o, Halt se virou para os outros dois aprendizes do 2° ano. Instintivamente, tinham se aproximado um do outro e estavam olhando para o arqueiro assustados, sem saber o que ele faria em seguida.
— Você — ele disse, apontando para Bryn num tom cheio de desprezo — pegue sua bengala.
Com medo, Bryn foi até onde estava a bengala. A flecha de Halt ainda estava enterrada na madeira. Sem tirar os olhos do arqueiro, temendo algum truque, ele caiu de joelhos e procurou a bengala na grama com a mão até encontrá-la. Em seguida se levantou, segurando-a com a mão esquerda trêmula.
— Agora me devolva a flecha — o arqueiro ordenou.
O garoto alto e moreno tirou a flecha da madeira com dificuldade e se aproximou de Halt com todos os músculos tensos, pois esperava algum movimento inesperado por parte do arqueiro. Ele, no entanto, simplesmente pegou a flecha e a colocou na aljava. Bryn se afastou apressado, e Halt soltou um leve riso de desprezo. Então se virou para Horace.
— Imagino que esses três foram os responsáveis pelos seus hematomas.
Horace não respondeu por um momento, e então se deu conta de que seu silêncio era ridículo. Não havia motivo para continuar a proteger os três valentões. Nunca tinha havido um motivo.
— Sim, senhor — disse determinado.
Halt assentiu, esfregando o queixo.
— Foi o que pensei. Bem, ouvi dizer que você é muito bom com a espada. Que tal praticar com esse herói na minha frente?
Um leve sorriso se espalhou no rosto de Horace quando ele entendeu o que o arqueiro estava sugerindo.
— Acho que vou gostar disso — ele disse, andando para a frente.
— Espere um momento! — Bryn protestou recuando. Você não pode querer que eu...
Ele não continuou. Os olhos do arqueiro cintilaram outra vez com aquela luz perigosa. Ele deu meio passo para a frente e colocou a mão no cabo da faca.
— Vocês dois tem uma arma. Agora, podem começar — ele mandou com a voz muito baixa e perigosa.
Percebendo que estava numa armadilha, Bryn se virou para encarar Horace. Agora que se tratava de um confronto individual, ele se sentia muito menos confiante para lidar com o garoto mais jovem. Todos tinham ouvido falar da fantástica habilidade de Horace com a espada. Decidindo que o ataque seria a melhor defesa, Bryn deu um passo à frente e preparou-se para dar um golpe por cima da cabeça de Horace, mas o aprendiz desviou dele com facilidade. Horace escapou dos dois golpes seguintes de Bryn da mesma forma e então, ao bloquear o quarto ataque do garoto mais velho, escorregou a sua lâmina de madeira ao longo da bengala do outro rapaz um instante antes de as duas armas se separarem. Não havia nenhuma cruzeta para proteger a mão de Bryn do movimento, e a espada dura atingiu os seus dedos, provocando muita dor. Com um grito agoniado, ele deixou cair a bengala pesada, saltou para trás e escondeu a mão ferida debaixo do braço. Horace ficou parado, pronto para recomeçar.
— Eu não ouvi ninguém pedir para parar — Halt disse com suavidade.
— Mas... ele me desarmou! — Bryn choramingou.
— É mesmo. Mas tenho certeza de que ele vai deixar você pegar sua arma e recomeçar — Halt disse com um sorriso. — Vamos, continue.
Bryn olhou de Halt para Horace e não viu compaixão no olhar dos dois.
— Não quero — ele disse baixinho.
Horace achou difícil reconhecer naquela figura encolhida o valentão arrogante que tinha transformado sua vida num inferno nos últimos meses. Halt pareceu pensar na declaração de Bryn.
— Vamos levar seu protesto em conta — ele disse alegremente. — Agora, continue, por favor.
A mão de Bryn latejava. Mas até mesmo pior do que a dor era o medo do que estava para acontecer, a certeza de que Horace iria castigá-lo sem piedade. Ele se inclinou e, assustado, pegou a bengala com os olhos fixos no outro garoto. Horace esperou pacientemente até que Bryn estivesse pronto e então fez um repentino movimento para a frente.
Bryn gritou de medo e jogou a bengala para o lado. Horace sacudiu a cabeça aborrecido.
— Quem é o bebê agora? — ele perguntou.
Bryn desviou o olhar e se encolheu envergonhado.
— Se ele vai bancar o bebê — Halt sugeriu — acho que você vai ter que dar umas palmadas nele.
Um sorriso se espalhou no rosto de Horace. Ele deu um pulo para a frente, agarrou Bryn pela nuca e o virou. Em seguida, bateu na traseira do garoto com a espada de exercício repetidas vezes e seguiu-o pela clareira quando tentou escapar do castigo impiedoso. Bryn uivava, saltava e soluçava, mas Horace o segurava com firmeza pelo colarinho, e não havia como escapar. Finalmente, quando sentiu que tinha retribuído as provocações, os insultos e a dor que tinha sofrido, Horace parou.
Bryn cambaleou e caiu com as mãos e os joelhos no chão, soluçando de dor e medo.
Jerome tinha assistido horrorizado ao acontecido, sabendo que logo seria sua vez. Ele começou a se afastar, tentando escapar enquanto o arqueiro estava distraído.
— Dê mais um passo e vou furar você com uma flecha — Will tentou usar o mesmo tom de voz calmo e ameaçador de Halt.
Ele havia tirado várias de suas flechas do alvo mais próximo e agora tinha uma delas preparada, apoiada na corda do arco. Halt declarou com ar de aprovação:
— Boa ideia. Mire na barriga da perna esquerda. O ferimento é muito doloroso.
Ele olhou para onde Bryn estava deitado, soluçando aos pés de Horace.
— Acho que ele já teve o que merecia — comentou, apontando então o dedo para Jerome.
— Sua vez — ele disse apenas.
Horace pegou a bengala que Bryn tinha deixado cair, andou até Jerome e estendeu-a para ele. Jerome recuou.
— Não! — Jerome gritou de olhos arregalados. — Não é justo! Ele...
— Ora, claro que não é justo — Halt concordou num tom tranquilo. — Imagino que você ache que três contra um é justo. Agora, vamos começar.
Muitas vezes, Will tinha ouvido o ditado que dizia que um rato encurralado acaba reagindo. Jerome provou que era verdade. Ele partiu para o ataque e, para sua surpresa, Horace recuou diante da chuva de golpes dirigidos a ele. A confiança do valentão começou a crescer à medida que ele avançava, mas não percebeu que Horace bloqueava todos os golpes com muita facilidade, quase com desprezo. Os melhores golpes de Jerome nem chegavam perto de derrubar a defesa de Horace. Se o aprendiz do 2° ano estivesse batendo numa parede de pedra, o resultado seria o mesmo.
Então, Horace parou de recuar. Ficou firme e bloqueou o último golpe de Jerome com punho de ferro. Os dois ficaram frente a frente por alguns segundos, e Horace começou a empurrar Jerome para trás. Com a mão esquerda, agarrou o punho direito de Jerome, fazendo que suas armas ficassem entrelaçadas. Os pés de Jerome escorregaram na grama macia à medida que Horace o obrigava a andar cada vez mais para trás. Finalmente, ele deu um último empurrão e Jerome caiu estendido no chão.
Jerome viu o que tinha acontecido com Bryn e sabia que se render não era uma opção. Ele se levantou com dificuldade e se defendeu desesperadamente quando Horace começou o ataque. Jerome foi empurrado para trás por uma sucessão de cortadas à direita, à esquerda e para cima. Ele conseguiu bloquear alguns dos golpes, mas a velocidade extraordinária do ataque de Horace o derrotou.
Os golpes aterrissavam nas suas pernas, nos seus cotovelos e nos seus ombros. Horace parecia se concentrar nos ossos que iriam doer mais. Ocasionalmente, usava a ponta arredondada da espada para dar estocadas nas costelas de seu oponente com força apenas suficiente para machucar, sem quebrar os ossos.
Finalmente, Jerome ficou farto. Ele desviou do ataque, soltou a bengala e caiu no chão, protegendo a cabeça com as mãos. As costas estavam levantadas convidativamente no ar. Horace parou e olhou interrogativamente para Halt. O arqueiro fez um leve gesto na direção de Jerome.
— Por que não? — ele perguntou. — Não se tem uma oportunidade dessas todos os dias.
Mas até ele se encolheu diante do chute forte que Horace deu no traseiro de Jerome. Este, com o nariz na terra, escorregou pelo menos 1 metro para a frente.
Halt recolheu a bengala que Jerome tinha deixado cair. Ele a observou por um instante, testando seu peso e equilíbrio.
— Realmente não é uma boa arma — ele disse. — Por que será que eles escolheram essa? — perguntou, jogando-a para Alda. — Mexa-se.
O garoto loiro, ainda agachado na grama cuidando do tornozelo machucado, olhou descrente para a bengala.
O rosto estava manchado pelo sangue que escorria do nariz ferido. Ele nunca mais teria a mesma boa aparência.
— Mas... mas... estou ferido! — ele protestou, levantando-se desajeitado.
Ele não acreditava que Halt estava exigindo que enfrentasse o mesmo castigo a que tinha acabado de assistir. Halt pensou por um instante. Por um momento, um raio de esperança brilhou na mente de Alda.
— É verdade — o arqueiro concordou. — É verdade — ele murmurou, parecendo um pouco desapontado, e Alda começou a acreditar que o senso de justiça de Halt iria poupá-lo do castigo que seus amigos tinham sofrido. Então o rosto do arqueiro se iluminou. — Mas espere um minuto... Horace também está ferido. Não é mesmo, Will?
— Com certeza, Halt — Will respondeu sorrindo, e a esperança de Alda desapareceu no mesmo instante.
— Você tem certeza de que não está ferido demais para continuar, Horace? — Halt perguntou, fingindo preocupação.
— Ah, acho que dou conta do recado — Horace respondeu com um sorriso frio.
— Bom, então está combinado! — Halt disse alegre. — Vamos continuar!
E Alda soube que ele também não teria escapatória. Enfrentou Horace com determinação, e o duelo final começou.
Alda era o melhor espadachim dos três rapazes e, durante alguns minutos, chegou a dar um pouco de trabalho para Horace. Mas, à medida que se estudavam com golpes e contragolpes, ataques e defesas, percebeu que Horace era superior e sentiu que sua única chance era tentar algo inesperado.
Ele se separou do oponente, mudou a posição da bengala e a segurou com as duas mãos como se fosse um varapau. Em seguida, desferiu uma série de golpes rápidos para a direita e para a esquerda.
Durante um segundo, Horace foi apanhado de surpresa e caiu para trás. Mas ele se recuperou com uma velocidade felina e dirigiu um golpe por cima da cabeça de Alda. O aluno do 2° ano tentou um contragolpe normalmente usado com o varapau, segurando a bengala nas duas pontas para bloquear o golpe da espada com a parte central. Na teoria, a tática estava correta. Na prática, a dura espada de madeira simplesmente atravessou a bengala, e Alda ficou segurando duas varas inúteis. Totalmente desanimado, ele as deixou cair e ficou indefeso na frente de Horace.
Horace olhou para o seu torturador de longa data e depois para a espada em sua mão.
— Não preciso disto — ele murmurou e deixou a espada cair.
O soco de direita que ele desferiu sobre o maxilar de Alda foi impulsionado pelo ombro, pelo peso do corpo e por meses de sofrimento e solidão a solidão que somente a vítima de maus-tratos conhece.
Will arregalou levemente os olhos quando Alda se levantou, cambaleou para trás e finalmente desabou na terra ao lado dos dois amigos. Ele se lembrou das vezes em que tinha lutado com Horace no passado. Se soubesse que o colega era capaz de dar um soco daqueles, nunca teria se metido com ele.
Alda não se mexeu e provavelmente não se moveria por muito tempo. Horace recuou, sacudindo os dedos machucados e soltando um suspiro satisfeito.
— Você não tem ideia de como isso foi bom — ele disse. — Graças a você, arqueiro.
Halt balançou a cabeça compreensivo.
— Obrigado por ajudar quando atacaram Will. E, por falar nisso, meus amigos me chamam de Halt.

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