sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Capitulo 20 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 1


Os outros caçadores se reuniram em volta do jovem cavaleiro que tinha matado o animal, cumprimentando-o e dando tapinhas em suas costas. O barão Arald começou a andar em sua direção, mas parou ao lado de Puxão, olhando para Will enquanto falava.
— Você não vai ver outro desse tamanho durante muito tempo, Will — ele disse de mau humor. — Pena que ele não veio na minha direção. Eu gostaria de um troféu desses para mim.
Ele continuou a andar até sir Rodney, que já estava com o grupo de guerreiros em volta do porco selvagem morto.
Consequentemente, Will se viu, pela primeira vez em algumas semanas, frente a frente com Horace. Houve uma pausa constrangedora em que nenhum dos garotos quis dar o primeiro passo. Horace, entusiasmado com os acontecimentos da manhã e o coração ainda batendo forte por causa da emoção causada pelo medo que tinha sentido quando o porco selvagem apareceu, queria partilhar o momento com Will.
À luz do que tinham acabado de ver, sua briga infantil parecia sem importância e agora ele se sentia mal por seu comportamento naquele dia, seis semanas antes, mas não conseguia encontrar as palavras para expressar seus sentimentos e não se viu encorajado pela expressão sombria de Will. Então, com um leve dar de ombros, começou a passar por Puxão para cumprimentar o jovem caçador. Ao fazer isso, o pônei se enrijeceu e levantou as orelhas, relinchando levemente.
Will olhou para o matagal e seu sangue pareceu gelar nas veias.
Ali, parado bem ao lado da proteção dos arbustos, estava outro porco selvagem: maior até do que o que estava morto na neve.
— Cuidado! — ele gritou quando o enorme animal raspou a terra com as presas.
A situação era perigosa. A linha de caçadores tinha se desfeito; a maioria estava admirando o tamanho do porco selvagem e elogiando seu matador. Apenas Will e Horace ficaram no caminho da outra fera, Will percebeu que isso era principalmente porque Horace tinha hesitado por aqueles poucos segundos vitais.
Horace se virou de repente quando ouviu o grito de Will. Ele olhou para o colega e então para o novo perigo.
O porco selvagem abaixou a cabeça, raspou o chão outra vez e atacou. Tudo aconteceu numa velocidade aterrorizante. Num momento, o imenso animal estava raspando o chão com as presas; no outro, disparava na direção deles.
Colocando-se entre Will e o porco selvagem, Horace se virou sem hesitação para o animal, preparando a lança como sir Rodney e o barão tinham lhe mostrado. Mas, ao fazer isso, seu pé escorregou na trilha gelada coberta de neve e ele caiu indefeso para o lado, soltando a lança no chão.
Não havia nenhum segundo a perder. Horace estava deitado desarmado na frente daquelas presas mortíferas. Will tirou os pés dos estribos e pulou no chão, ao mesmo tempo em que preparava a flecha. Ele sabia que aquele pequeno arco não teria chance de parar a investida louca do porco selvagem. Só desejava poder distrair o animal enraivecido e fazer que se desviasse do garoto desprotegido no chão.
Ele atirou e no mesmo instante correu para o lado, para longe do aprendiz caído na neve. Em seguida, gritou com toda a força dos pulmões e atirou novamente. As flechas ficaram espetadas na pele grossa do porco selvagem como agulhas numa almofada para alfinetes. Elas não provocaram grandes danos, mas a dor que causaram atravessava seu corpo como uma faca quente.
Seus olhos vermelhos e zangados se prenderam na pequena figura saltitante, e o animal furioso saltou atrás de Will.
Não havia tempo para atirar novamente. Horace estava em segurança naquele momento. Agora era Will que estava em perigo. Ele procurou o abrigo de uma árvore e se agachou atrás dela bem a tempo.
O ataque enraivecido do porco selvagem o levou diretamente para o tronco da árvore. Seu corpo enorme se chocou contra ela, sacudiu -a até as raízes e mandou uma chuva de neve para o chão, caída dos galhos.
Surpreendentemente, o porco selvagem não pareceu ter sentido o choque. Ele recuou alguns passos e atacou Will novamente. O garoto se escondeu atrás do tronco outra vez, mal conseguindo evitar as presas cortantes quando o porco selvagem passou por ele feito um trovão.
Gritando furioso, o imenso animal se virou, deslizando na neve, e foi para cima do garoto novamente.
Desta vez, não havia tempo de Will desviar para o lado no último instante. O porco selvagem veio trotando, a fúria visível em seus olhos vermelhos, seu hálito quente soltando vapor no ar gelado de inverno.
Atrás de si, Will ouviu os gritos dos caçadores, mas sabia que chegariam tarde demais para ajudá-lo. Ele preparou outra flecha, sabendo que não tinha chance de atingir um ponto vital. Então, o porco se aproximou de frente.
O rapaz escutou um trovejar abafado de cascos na neve, e um vulto pequeno e desgrenhado se atirou contra o monstro furioso.
— Não, Puxão! — Will gritou, temendo pela vida de seu cavalo.
Mas o pônei investiu contra o imenso porco selvagem, virou-se de costas e o atacou com as patas traseiras quando ele ficou ao seu alcance. Os cascos traseiros de Puxão atingiram o porco nas costelas com toda a força e fizeram a fera girar de lado na neve.
O porco selvagem se levantou no mesmo instante, ainda mais furioso do que antes. O pônei tinha feito com que perdesse o equilíbrio, mas o chute não causou grandes danos. Agora, o animal selvagem cortava e derrubava o que via à sua frente para se aproximar de Puxão, enquanto o pequeno pônei se empinava assustado e dançava para os lados para escapar do alcance das presas cortantes.
— Puxão! Fuja! — Will gritou novamente com o coração na garganta.
Se aquelas presas atingissem os tendões sensíveis das pernas do cavalo, Puxão ficaria aleijado por toda a vida. Will não conseguia ficar ali e simplesmente ver seu cavalo se colocar em tal perigo para defendê-lo. Ele se preparou e atirou novamente, em seguida tirou a longa faca de arqueiro do cinturão e disparou pela neve na direção do animal imenso e furioso.
A terceira flecha atingiu o porco de lado. Mais uma vez, Will tinha perdido um ponto vulnerável e só feriu o animal. Ele gritou enquanto corria, insistindo para que Puxão se afastasse. O porco selvagem viu o cavalo se aproximar e reconheceu a pequena figura que o tinha feito ficar tão furioso. Seus olhos vermelhos cheios de ódio fixaram-se nele e sua cabeça se abaixou para um último ataque mortal.
Will viu os músculos das patas traseiras do animal se contraírem. Estava longe demais de um lugar para se proteger e teria que enfrentar o ataque em terreno aberto. Ele se ajoelhou e, sem esperanças, estendeu uma faca afiada na sua frente enquanto o animal corria para cima dele.
Vagamente, ouviu o grito rouco de Horace quando o aprendiz de guerreiro se jogou para a frente com a lança em punho.
Então, ouviu-se um assobio agudo e profundo mais forte do que o dos cascos do porco selvagem, seguido por um som sólido e molhado. O porco selvagem torceu o corpo para trás, virou-se em agonia e caiu morto como uma pedra na neve.
A flecha de Halt, comprida e de haste pesada, estava enterrada no lado do corpo do animal depois de ser atirada com toda a força de seu poderoso arco. Ele tinha atingido o monstro em movimento bem atrás do ombro esquerdo, fazendo que a ponta da flecha penetrasse e atravessasse o grande coração do porco.
Um disparo perfeito.
Halt fez Abelard se aproximar e pulou para o chão, jogando os braços ao redor do garoto trêmulo. Will, tomado de alívio, enterrou o rosto no tecido áspero da capa do arqueiro. Ele não queria que ninguém visse as lágrimas que corriam em sua face.
Com delicadeza, Halt tirou a faca da mão de Will.
— Que raios você estava esperando fazer com isso?
Will apenas balançou a cabeça. Ele não conseguia falar. Sentiu o focinho macio de Puxão cutucando-o com delicadeza e encarou os olhos grandes e inteligentes do animal.
E então tudo foi barulho e confusão quando os caçadores se reuniram à volta deles, admirando o tamanho do segundo porco selvagem e batendo nas costas de Will por sua coragem. Ele ficou parado entre os homens, uma figura pequena ainda envergonhada das lágrimas que deslizavam por seu rosto, não importa quanto tentasse pará-las.
— Eles são gigantescos — sir Rodney disse, cutucando o porco selvagem morto com a bota. — Achamos que havia só um porque eles nunca deixam o esconderijo juntos.
Will se virou ao sentir alguém tocar seu ombro e encontrou o olhar de Horace. O aprendiz de guerreiro estava balançando a cabeça lentamente, admirado e incrédulo.
— Você salvou a minha vida ele disse. Foi a coisa mais corajosa que já vi.
Will tentou fazer que Horace parasse de agradecer, mas o colega continuou a falar. Ele se lembrou de todas as vezes no passado em que tinha provocado e agredido Will.
Agora, agindo instintivamente, o garoto menor o tinha salvado das presas cortantes e assassinas. E Horace provou sua crescente maturidade quando esqueceu atitudes instintivas e se colocou entre o animal raivoso e o aprendiz de arqueiro.
— Mas por que, Will? Afinal, nós... — ele não conseguiu terminar a frase, mas Will sabia o que ele queria dizer.
— Horace, nós podemos ter brigado no passado, mas não odeio você. Nunca odiei.
Horace fez um gesto de cabeça, e uma expressão de entendimento tomou conta de seu rosto. Ele pareceu tomar uma decisão.
— Eu lhe devo minha vida, Will — ele disse num tom determinado. — Nunca vou esquecer essa dívida. Se você alguma vez precisar de um amigo, se precisar de ajuda, pode me chamar.
Os dois garotos se encararam por um instante, então Horace estendeu a mão e Will a apertou. O círculo de cavaleiros em volta ficou em silêncio, testemunhando sem querer interromper aquele momento importante para os dois rapazes. O barão Arald se aproximou e pôs os braços ao redor dos garotos, um de cada lado.
— Belas palavras, as de vocês dois! — ele disse com entusiasmo, sendo seguido pelo coro animado dos cavaleiros.
O barão ria satisfeito. Pensando bem, tinha sido uma manhã perfeita. Um pouco de animação. Dois grandes porcos selvagens mortos. E agora dois de seus garotos formando o tipo de ligação especial que somente nascia do perigo partilhado.
— Temos dois ótimos jovens aqui! — ele disse para todo o grupo e novamente se ouviu o coro entusiasmado de concordância. — Halt, Rodney, vocês dois podem se orgulhar de seus aprendizes!
— Nós nos orgulhamos, senhor — sir Rodney respondeu, fazendo um gesto de aprovação para Horace.
Ele tinha visto como o garoto se virou sem hesitar para enfrentar o ataque e aprovou a oferta franca de amizade a Will. Ele se lembrava muito bem da briga dos dois no Dia da Colheita. Parecia que tinham deixado as discussões infantis para trás. Ficou profundamente satisfeito por ter escolhido Horace para a Escola de Guerra. Halt, por sua vez, não disse nada, mas, quando Will se virou para seu mentor, os olhares de ambos se encontraram e ele simplesmente fez um gesto de cabeça.
Will sabia que isso equivalia a vários vivas de Halt.

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