sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Capitulo 19 - Rangers Ordem dos Arqueiros VOL 1


Eles cavalgaram lentamente sob a luz que diminuía aos poucos, inclinando-se para os lados nas selas para acompanhar a trilha deixada pelo porco selvagem.
Os dois não tiveram problemas em segui-lo. O corpo enorme tinha deixado uma vala funda na neve alta. Will se deu conta de que teria sido fácil mesmo sem a neve. Era óbvio que o animal estava de péssimo humor. Ele tinha atacado as árvores e os arbustos com suas presas, deixando um caminho de destruição bem delineado na floresta.
— Halt? — Will chamou devagar, depois de terem entrado cerca de 1 quilômetro entre as árvores densas.
— Hum — Halt resmungou distraído.
— Por que incomodar o barão? Não podemos simplesmente matar o porco com nossas flechas?
Halt sacudiu a cabeça.
— Esse é dos grandes, Will. Veja o tamanho da trilha que ele deixou. Poderíamos usar umas seis flechas para atacá-lo e mesmo assim ele demoraria a morrer. Com um animal desses é melhor se garantir.
— E como fazemos isso?
— Acho que você nunca viu uma caçada a um porco selvagem — Halt comentou, olhando para Will.
Will sacudiu a cabeça negativamente. Halt parou e Will fez Puxão parar ao lado dele.
— Bem, primeiro precisamos de cães — Halt começou. — Esse é outro motivo pelo qual não podemos simplesmente acabar com ele com nossos arcos. Quando o encontrarmos, provavelmente terá entrado no bosque ou se escondido no meio de arbustos densos e não poderemos chegar perto dele. Os cães vão fazer com que ele saia, e vamos ter um círculo de homens ao redor da toca com lanças especiais para porcos selvagens.
— E vão atirar as lanças nele? — Will perguntou.
— Não se usarem a cabeça. A lança para porcos selvagens tem mais de 2 metros de comprimento, uma lâmina de dois gumes e uma cruzeta atrás da lâmina. A ideia é fazer o animal atacar o lanceiro. Ele então enterra a base da lança na terra e deixa o porco correr por cima dela. A cruzeta impede o animal de correr por cima do cabo e atingir o lanceiro.
— Isso parece perigoso — Will respondeu hesitante.
— E é — Halt concordou. — Mas homens como o barão, sir Rodney e os outros cavaleiros adoram isso. Eles não perderiam a oportunidade de caçar um porco selvagem por nada neste mundo.
— E você? — Will perguntou. — Também vai usar uma lança para porcos selvagens?
— Eu vou ficar sentado bem aqui, em cima de Abelard. E você vai estar montado em Puxão, no caso de o porco selvagem atravessar o círculo de homens à sua volta. Ou no caso de ele ser ferido e escapar.
— O que vamos fazer se isso acontecer? — Will quis saber.
— Vamos derrubá-lo antes que ele fuja outra vez — Halt disse sombrio. — E então vamos mata-lo com nossos arcos.


O dia seguinte era um sábado e, depois do café-da-manhã, os alunos da Escola de Guerra estavam livres para passar o dia como quisessem. No caso de Horace, isso geralmente significava desaparecer sempre que Alda, Bryn e Jerome vinham procurá-lo. Ultimamente, porém, eles tinham percebido que Horace os evitava e resolveram esperá-lo do lado de fora do refeitório. Quando saiu para a área de exercícios naquela manhã, lá estavam os três. Horace hesitou. Era tarde demais para voltar.
Com o coração apertado, continuou a andar na direção deles.
— Horace!
Ele se assustou com a voz que vinha bem de trás dele. Virou-se e viu sir Rodney observando-o com curiosidade. Em seguida, o homem olhou rapidamente para os três cadetes do 2° ano. Horace se perguntou se o mestre de guerra sabia do tratamento que vinha recebendo. Provavelmente sim. Devia fazer parte do processo de fortalecimento da Escola de Guerra.
— Senhor! — ele respondeu, perguntando-se o que tinha feito de errado.
As feições de Rodney se suavizaram e ele sorriu para o jovem rapaz. Parecia muito satisfeito com alguma coisa.
— Relaxe, Horace. Afinal, hoje é sábado. Já participou de alguma caçada a um porco selvagem?
— Hum... Não, senhor.
Apesar do convite para que Horace relaxasse, ele continuou rígido na posição de sentido.
— Então está na hora de participar. Pegue uma lança e uma faca de caça na sala de armas, peça a Ulf para lhe preparar um cavalo e volte aqui em vinte minutos.
— Sim, senhor — Horace respondeu.
Sir Rodney esfregou as mãos com evidente prazer.
— Parece que Halt nos conseguiu um porco selvagem. É hora de todos termos um pouco de diversão!
Animado, o homem sorriu para o aprendiz e então se afastou entusiasmado para preparar o próprio equipamento. Quando Horace se virou para o pátio, percebeu que Alda, Bryn e Jerome não estavam em lugar nenhum.
Ele deveria ter pensado melhor sobre por que os três encrenqueiros desapareciam quando sir Rodney estava por perto, mas naquele momento estava mais preocupado com a caçada ao porco selvagem.


A manhã já estava pela metade quando Halt conduziu o grupo de caça para a toca do porco selvagem. O imenso animal tinha se escondido numas moitas densas no fundo da floresta. Halt e Will tinham encontrado o esconderijo logo depois que escureceu, na noite anterior.
Naquele momento, quando se aproximaram, Halt fez um sinal, e o barão e seus caçadores desmontaram, deixando os cavalos aos cuidados dos cavalariços que os tinham acompanhado. Eles cobriram as últimas centenas de metros a pé. Halt e Will eram os únicos que continuavam em seus cavalos.
Havia 15 caçadores ao todo, cada um armado com uma lança do tipo que Halt tinha descrito. Eles se espalharam em um grande círculo ao se aproximar da cova do porco selvagem. Will ficou um pouco surpreso ao reconhecer Horace como um dos participantes do grupo de caça. Ele era o único aprendiz de guerreiro. Todos os demais eram cavaleiros.
Quando ainda estava a centenas de metros do local, Halt levantou a mão, fazendo sinal para os caçadores pararem. Ele fez que Abelard trotasse e foi até onde Will se encontrava, sentado sobre Puxão. O pequeno cavalo se movia inquieto por sentir a presença do porco selvagem.
— Lembre-se — o arqueiro disse em voz baixa para Will — se você tiver que atirar, mire num ponto bem atrás do ombro esquerdo. Se ele estiver atacando, atingir o coração é sua única chance de parar o animal.
Will assentiu, molhando os lábios secos nervosamente. Ele estendeu a mão e tranquilizou Puxão com um rápido afago no pescoço. O pequeno cavalo mexeu a cabeça em resposta ao toque do dono.
— E fique perto do barão — Halt lembrou, antes de se mover e retomar seu lugar no lado oposto do círculo de caçadores.
Halt estava na posição de maior perigo, acompanhando os caçadores menos experientes e, portanto, com maior probabilidade de cometer um erro. Se o porco selvagem atravessasse o círculo na sua direção, ele teria que caçá-lo e matá-lo. Tinha determinado que Will ficasse com o barão e os caçadores mais experientes, pois era mais seguro. Isso também o colocava junto de Horace. Sir Rodney tinha posicionado o aprendiz entre ele e o barão. Afinal, aquela era a primeira caçada do garoto, e o mestre de guerra não queria assumir nenhum risco indevido. Horace estava ali para ver e aprender. Se o porco selvagem disparasse na direção deles, devia deixar que o barão ou sir Rodney cuidassem do animal.
Horace olhou para cima uma vez, fazendo contato visual com Will Não havia animosidade no olhar. Na verdade, ele deu ao aprendiz de arqueiro um meio sorriso tenso. Will se deu conta, ao observar Horace molhando os lábios repetidas vezes, de que o outro garoto estava tão nervoso quanto ele.
Halt fez outro sinal, e o círculo começou a se fechar sobre a toca. Quando o círculo se tornou menor, Will perdeu seu mestre e os outros homens de vista. Ele sabia, por causa da contínua inquietação de Puxão, que o porco selvagem ainda devia estar no meio dos arbustos. Mas Puxão era bem treinado e continuava a andar sempre que seu cavaleiro o impelia delicadamente para a frente.
Um rugido forte veio de dentro da cova, e os cabelos de Will se arrepiaram. Ele nunca tinha ouvido o grito de um porco selvagem furioso antes. Por um instante, os caçadores hesitaram.
— Ele está lá! — o barão gritou, sorrindo animado para Will. — Vamos torcer para que ele venha para o nosso lado, não é, rapazes?
Will não tinha muita certeza de que queria que o porco selvagem viesse em disparada para o lado deles. Na verdade, gostaria muito que ele fosse para o lado oposto. Mas o barão e sir Rodney riam como colegiais enquanto preparavam suas lanças. Eles estavam apreciando a caçada, como Halt tinha previsto. Depressa, Will tirou o arco do ombro e posicionou uma flecha na corda. Tocou a ponta por um momento, certificando-se de que ainda estava afiada como uma navalha. Sua garganta estava seca.
Ele não tinha certeza de que poderia falar se alguém lhe dirigisse a palavra.
Os cães puxavam suas guias, enchendo a floresta com os ecos de seus latidos nervosos. Foi esse barulho que agitou o porco selvagem.
Naquele momento, enquanto eles continuavam a latir, Will ouviu o imenso animal derrubar com suas longas presas alguns arbustos que formavam seu esconderijo.
O barão se virou para Bert, que cuidava dos cães, e fez um sinal com a mão para que os animais fossem soltos.
Os cães grandes e fortes dispararam pelo espaço aberto até o esconderijo e desapareceram em meio às moitas. Eram animais robustos, criados especialmente para a caça ao porco selvagem.
O barulho vindo do esconderijo era indescritível.
Os latidos furiosos dos cães foram acompanhados pelos gritos de gelar o sangue do porco selvagem enraivecido. Galhos de arbustos e árvores jovens se quebraram e estalaram, e a mata pareceu estremecer.
Então, de repente, o porco selvagem apareceu na clareira.
O bicho parou no meio do círculo, entre os locais em que estavam Will e Halt. Com um grito enfurecido, se livrou de um dos cães que ainda estava agarrado ao seu corpo e então disparou na direção dos caçadores com uma velocidade inacreditável.
O jovem cavaleiro diretamente na frente dele não hesitou: se apoiou num joelho, enterrou a base de sua lança no chão e direcionou a ponta cintilante para o animal que corria em sua direção.
O porco selvagem não teve chance de se virar. Sua pressa o fez cair sobre a cabeça da lança. Ele deu um salto para cima, gritando de dor e fúria, tentando arrancar o pedaço de aço mortal. Mas o jovem guerreiro o prendeu impiedosamente com a lança, segurando-o junto do chão e não dando nenhuma chance ao animal enraivecido de se libertar.
Assustado e de olhos arregalados, Will viu o cabo forte da lança se curvar como um arco sob o peso do porco selvagem, mas então a ponta cuidadosamente afiada penetrou no coração do animal e tudo terminou.
Com um último rugido lancinante, o enorme porco selvagem caiu para o lado e morreu.
O corpo manchado era quase tão grande quanto o de um cavalo e era todo formado de puro músculo. As presas, agora inofensivas, curvavam-se para trás sobre seu focinho feroz. Elas estavam sujas da terra que ele tinha revirado e do sangue de pelo menos um dos cães.
Will olhou para o corpo maciço e estremeceu. Se aquele era um porco selvagem, ele não tinha a menor pressa de ver outro.

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